O meu São Paulo Futebol Clube ainda não era a potência que é hoje, um papa-títulos que serve de raro modelo de administração profissional no esporte em meio a um cenário de terra arrasada por cartolas amadores e ineptos, para dizer o mínimo.
No começo dos anos 60 do século passado, quando inaugurou só meio estádio (eu estava lá) no Morumbi ainda semi-deserto, e lutava com dificuldades para terminar a obra, o clube não tinha dinheiro para investir no time de futebol.
Mesmo assim, dava gosto de ver o são Paulo jogar e suar a camisa tricolor contra times mais fortes.
Ficamos anos sem ganhar títulos, mas a torcida continuava lá firme, dando força a um time de poucos craques recheado de jovens e muitos manés da bola.
Estou escrevendo tudo isso porque hoje faz um ano que morreu Roberto Dias, aos 64 anos, símbolo da união de garra com talento naqueles tempos de vacas magras em que os jogadores não ganhavam as fortunas de hoje em dia.
Quem me lembrou disso foi o Fábio Matos, da redação da ESPN.com.br, autor do livro Dias _ a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960 (Pontes Editores/2007).
Reproduzo só o final do belo texto que o Fábio Matos me mandou, relatando os últimos anos de vida do craque:
O casamento com a esposa Rosita também chegou ao fim, após 12 anos de união, em 1979, e Dias entrou em depressão e passou a sofrer com o alcoolismo. Ele ainda sofreria um segundo infarto e um AVC (acidente vascular cerebral) no mesmo ano.
Em 1989, por intermédio do amigo Gabriel Ribeiro Nogueira, médico cirurgião e grande admirador de Dias, o ex-craque se reaproximou do clube do Morumbi. Passou a trabalhar como professor da escolinha de futebol para os filhos dos sócios do São Paulo e lá ficou por 18 anos, até sua morte.
Em depoimento, há cerca de dois anos, Roberto Dias demonstrava sua gratidão pelo clube que aprendeu a amar. “Depois de voltar a trabalhar no São Paulo, senti uma capacidade de contribuir, de ser útil, o carinho das crianças Estou vivendo outra vida e pretendo continuar no São Paulo. Vamos ver até quando eles v]o me aguentar, né?”, brincou. “Se eles me aguentarem, vou estar bem velhinho e trabalhando lá”.
Roberto Dias Branco morou desde 1967 no número 1301 da rua Canário, em Moema (zona sul de São Paulo), na casa 6, em uma pequena vila. Em 1986, sete anos após o divórcio, ele pediu à antiga companheira, Rosita, que voltasse a morar com a família. Além de Rosita, ainda moram na casa as duas filhas, Roberta e Samatha, e os dois netos, Rodrigo e Matheus.
Desses ídolos da nossa juventude, a gente nunca deveria se esquecer. Eles fazem parte da nossa própria história.
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