Um artista da fotografia

João Caldas não entrou na fotografia de maneira programada. Formado engenheiro, começou a fotografar peças de teatro pela conveniência, já que seu irmão era ator. Com o tempo, foi percebendo que seu ofício ali era outro. Diferente de outras manifestações artísticas, como o cinema, o teatro, principalmente no Brasil, não tem um acervo documental tão vasto. João Caldas teria que ser o cara que, além de registrar o teatro, teria que transmitir a emoção e a intensidade só alcançada nos palcos. Tarefa nada fácil.

Na ativa há mais de 30 anos, João caldas, finalmente, reuniu uma seleção de sua obra e organizou exposição, em cartaz no Espaço Cultural Porto Seguro até o dia 28 de março. Além da exposição, o fotógrafo lançou, na noite do dia 26, terça-feira, seu livro com 123 das grandes fotos de sua carreira. A Brasileiros marcou presença no evento e conversou brevemente com João Caldas. Acompanhe:

Brasileiros – Qual é a dificuldade de ser um fotógrafo de teatro?
João Caldas –
Na verdade eu comecei a fotografar teatro mais por acaso. Meu irmão é ator, daí eu acompanhava o processo inteiro, ensaios, apresentações… Fui criando uma familiaridade com o estilo, fui me sentindo a vontade. Mas acho que o segredo é fotografar o teatro como espectador, eu assisto a peça através da minha objetiva (lente da maquina), com muito respeito, muita discrição, da forma como o espectador deve se comportar na plateia, daí é só ir assistindo e fotografando, no momento em que uma cena me emociona, eu capturo no ato.

Brasileiros – Entre as centenas de espetáculos que você já retratou, quais você lembra com carinho, quais te marcaram?
J. C. –
Acho que é sempre o primeiro né, o primeiro a gente nunca esquece. O meu foi o Clara Crocodilo, em 1981, da diretora Lala Deheinzelin. Eu participei do primeiro ensaio, da evolução, de todo o trabalho com os atores, acompanhei a direção, acompanhei o processo, então isso me marcou muito. Inclusive, a primeira foto do livro é dessa peça.

Brasileiros – Depois de centenas de peças, deve ter sido muito difícil fechar a seleção, tanto para o livro como para a exposição. Qual foi o critério usado para a escolha?
J. C. –
É difícil mesmo, fui escolhendo pelas fotos que eu gostava. O problema é que eu escolhi, dentre os 700 espetáculos, mais ou menos, nos quais eu já trabalhei, aproximadamente 1500 fotos. Daí eu pedi para o meu amigo Juan Esteves, curador, fotógrafo, entrar com o seu olhar imparcial e me ajudar na escolha, sem nenhum envolvimento. Querendo ou não, eu tenho envolvimento, eu conheço os atores, são meus amigos, acho que eu poderia acabar fazendo um escolha um pouco motivada. Também falei com a designer gráfica e a Adriana Campos, que é curadora de textos e uma doutora em teatro. Esses três me ajudaram muito a escolher as fotos pela importância histórica, ou o que a peça significou na época, ou pelo grupo de teatro, ou pelo ator, diretor… Tentamos misturar todas essas variáveis para alcançar as 123 fotos finais que estão no livro… Mas sobrou muita coisa, infelizmente.

Brasileiros – Com esse trabalho, com a exposição, com o livro, o que você espera passar para o público?
J. C. –
Olha, essa pergunta é bem legal! Um amigo meu esteve aqui na exposição esses dias e falou ‘olha João, depois que eu vi suas fotos, fiquei com vontade de ir ao teatro!’. Acho que isso é o que eu mais queria passar, seu conseguir isso, já estou feliz, minha foto já valeu a pena. Ou aquele cara que olha a foto e pensa ‘poxa, perdi esse espetáculo, olhando aqui, parece ter sido tão legal…’. Resumindo, acho que é esse meu grande objetivo.


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