Meus caros, J. Edgar Hoover foi um dos mais bem sucedidos crápulas de toda a história, do quilate de Nero ou Torquemada. É um personagem fundamental na história norte-americana. Nenhum homem foi tão poderoso, por tanto tempo, como ele. Ficou mais de 40 anos à frente do FBI, que transformou em uma das mais poderosas instituições dos Estados Unidos, para não dizer do mundo. Era patologicamente obcecado pelo combate ao comunismo, que, para ele justificava qualquer invasão de privacidade, prisão ilegal, chantagens, e por aí afora. Quando agia, era capaz de fazer picadinho da sólida Constituição norte-americana, e nem mesmo poderosos presidentes escaparam de suas chantagens. Homens como Franklin Delano Roosevelt e John Kennedy passaram apuros nas mãos dele. Roosevelt era intocável, mas sua mitológica mulher, Eleanor, que exercia grande influência na Casa Branca e no Partido Democrata, pulava a cerca de vez em quando, e certa vez deitou-se com uma grande amiga, jornalista e simpatizante da esquerda, e caiu na teia de Hoover. Já Kennedy era um devasso, deitou-se com metade das boazudas de seu tempo, algumas até dividiu com o irmão mais novo, Marilyn Monroe que o diga. Foi um prato cheio para o diretor do FBI, mas morreu antes de satisfazer a sanha do chantagista, que acabou morrendo no início do governo Nixon, único crápula pior do que ele mesmo.
O Tea Party de hoje seria brincadeira de criança para Ele, que representava o que havia de pior na mentalidade americana em sua época.
Pois este homem também era homossexual, para sua absoluta infelicidade. Vivia uma relação de paixão patológica com sua mãe capaz de arrancar lágrimas de Sigmund Freud. Para piorar a história (dele), a mãe, Judy Dench dando mais um show na tela, era homofóbica até a medula. Não conseguiu sequer ser feliz com o assessor Clyde Tolson, o lindo Armie Hammer, embora tenham vivido juntos por décadas, com direito a grande intimidade.
Curiosamente, não vi nenhuma indicação do filme ao Oscar. Leo DeCaprio está maravilhoso no papel principal, mereceria uma. Sua transformação no velho Hoover está perfeita, chega a assustar. No entanto, os maquiadores acabaram queimando suas chances ao tentarem envelhecer Tolson – conseguiram foi criar uma múmia de Ramsés, patética.
Mas o filme acaba incorrendo em um erro fatal: é muito chato! Clint Eastwood, o diretor, acabou estendendo o filme por mais tempo do que um reles mortal aguenta. Nem assim consegue “resolver” seu personagem, que fica preso no maniqueísmo, tornando os outros personagens ao seu redor, como os presidentes, figuras fracas e desaproveitadas. Somente Nixon (seria delicioso explorá-lo) ganha um rosto, além de um fraquíssimo Bob Kennedy. Uma pena, pois a partir do meio do filme, ninguém mais agüenta o personagem principal. Um crápula daqueles merecia coisa melhor. Abraços do Cavalcanti.
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