RIO DE JANEIRO (RJ) – A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro fiquei tão encantado que não queria mais voltar para casa. Jovem repórter, trabalhava no Estadão, em São Paulo, no final dos anos 60 do século passado, quando a maioria de vocês ainda nem havia nascido.
Vim fazer a cobertura da inauguração da segunda pista da via Dutra, então chamada de “rodovia da morte”, no tempo em que o presidente era o general Costa e Silva e, Mario Andreazza, o ministro dos Transportes. Como estava mais perto do Rio do que de São Paulo, resolvi vir para cá e escrever a matéria na sucursal.
Mais de quarenta anos depois, com menos cabelos e mais barriga, outra vez voltei aqui nesta segunda-feira de outono, novamente a trabalho, e não a passeio, como gostaria. Daquela vez, cheguei a pedir transferência para a sucursal do Rio, mas meu chefe de reportagem, o então também jovem Clóvis Rossi, nem me deu bola.
Agora, quase dez da noite, ele está em Madri tratando das suas costelas quebradas (ver a história completa na coluna do Rossi na Folha.com) e eu, depois de jantar sozinho na velha Fiorentina, no Leme, no caminho de volta ao hotel, me lembrei de tantos belos dias e noites que passei nesta cidade, onde nunca consegui morar, mas morro de vontade.
Foram muitos jogos da seleção brasileira no Maracanã, que terminavam no mesmo restaurante; reportagens sobre variadas tragédias; a minha vinda para o Jornal do Brasil, que me contratou para ser correspondente na Alemanha, nos tempos do Walter Fontoura; a encomenda do Mino Carta, na revista IstoÉ, para fazer matéria com o título pré-determinado de “Cidade Maravilhosa, que saudade!”
Já naquela época, final dos anos 70, o Mino achava que o Rio tinha acabado, mas Mario Lago, e muitos outros cariocas que entrevistei para fazer a reportagem, me provaram exatamente o contrário. Em 1984, viveria a grande alegria de testemunhar o monumental comício da Campanha das Diretas, na Candelária – por coincidência, o mesmo lugar onde vim trabalhar hoje.
Foi ali também o penúltimo comício de Lula em sua primeira campanha presidencial, no longínquo ano de 1989, quando eu era seu assessor de imprensa e fui o único jornalista no palanque que não cantou o jingle de campanha porque estava a trabalho, e achava que não ficaria bem para um repórter Naquela noite, a vitória parecia possível e já havia gente sonhando com o futuro ministério.
Por que estou lembrando destas coisas? Por nada, não, só para não ficar mais um dia sem escrever no Balaio, e dizer a vocês que o Rio, apesar de tudo, de todos os prefeitos que por aqui passaram nos últimos anos, continua sendo uma cidade apaixonante, um dos melhores e mais bonitos lugares do mundo para se viver.
Reencontrei a cidade mais bem cuidada, o povo mais feliz, um alto astral, por todos os lugares aonde passei neste dia de matar a saudade, apesar da greve dos ônibus, que tumultuou a vida dos cariocas e acabou agora à noite. O Rio, acreditem, é bom de qualquer jeito. Um dia ainda venho morar aqui, nem que seja depois de velho
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