Um festival de cinema e suas musicalidades

Para quem nunca assistiu a um show do cantor e compositor pernambucano Otto, não sabe o que está perdendo. O cara (o verdadeiro cara!) é muito bom. Acertadamente, ele foi convidado pela organização do Curta-SE para abrir oficialmente a décima edição do festival. E deu conta do recado direitinho! A plateia, com muito jovens, lotou o belo Teatro Tobias Barreto (que também vai abrigar o encerramento do festival, no dia 18, com um show da cantora Preta Gil), para ver um show recheado de boas músicas, musicalidades e arranjos, com o complemento das performances do cantor no palco.
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Otto apresentou para o público as músicas do seu último álbum e mostrou que a separação com a atriz Alessandra Negrini e a morte da sua mãe foram superadas. Ele está em excelente fase, como cantor e como compositor, tanto é que seu show foi indicado na categoria “Show do Ano” no prêmio VMB, da MTV, que acontecerá nesta quinta (16).

Mas, além de boa música, Otto soube cativar o público com suas histórias saborosas e hilariantes. Entre as várias, lembrou de uma de suas visitas a Aracaju, há alguns anos, quando foi roubado por uma cigana. “Eu estava jogado na rodoviária, com pouca grana. Quando me apareceu uma cigana dizendo que alguém tinha colocado uma cruz nas minhas costas, e essa cruz estava atrasando minha vida amorosa. Fiquei impressionado, pois tinha acabado de falar no orelhão com minha namorada de Recife e tínhamos meio que brigado. Eu ia dar umas moedas para ela, mas ela disse que queria meu dinheiro graúdo. Ela levou quase toda minha grana. Fiquei com uns trocados que só dava para comprar um Chicabon. Tinha se passado algum tempo, e eu estava feliz da vida tomando meu Chicabon, quando olho para o orelhão, onde havia ligado para minha namorada, e vejo um senhor falando nele. E quem estava atrás do orelhão? (risos) A cigana que tinha me abordado (risos da plateia)”.

Cinema e Música
Além do show do Otto, de abertura, e do encerramento com Preta Gil, o Curta-SE vai oferecer várias atrações musicais. Estão programados shows das bandas Elvis Boamorte e Os Boavidas, Plásticos Lunar e Cabedal, da cantora Karla Isabella, e de cantores de Sergipe, com seus pífanos de pife. Um festival regado a cinema e boa música. Nada mais adequado para um festival em uma capital do Nordeste de sol e de praia.

Cavi, o nosso Tarantino?
O filme de longa-metragem que abriu uma das mostras competitivas do Curta-SE foi Vida de Balconista, dos diretores Cavi Borges e Pedro Monteiro. O longa conta as engraçadíssimas histórias do dia a dia de um atendente de locadora. O personagem Mateus é vivido pelo ator Mateus Solano, que fez o filme antes de ficar conhecido e estourar com a minissérie da Globo, Maysa.

Cavi Borges, um dos diretores, é conhecidíssimo no Rio de Janeiro, pois tem a locadora Cavi Vídeos, frequentada por nove entre dez artistas que moram na Cidade Maravilhosa. Ele era atleta e professor de judô, mas uma contusão e a pouca grana que ganhava o fizeram enveredar para o negócio de locação de filmes. Borges montou a locadora há 13 anos e, de lá pra cá, foi colecionando histórias dos seus clientes, que muitas vezes pareciam irreais, de tão inusitadas.

O contato com os filmes e as conversas com a clientela, que manjava do assunto, foram lhe dando o gostinho de fazer um filme (qualquer semelhança com o diretor Quentin Tarantino, que trabalhou em uma locadora antes de virar o cultuado diretor de cinema, é mero acaso!).

Vida de Balconista, rodado em apenas uma noite, em 2009, teve o orçamento de dois mil reais e foi captado em digital. O diretor usou uma lente especial, conhecida como “olho de peixe”, que dá a sensação de um olho mágico ao espectador. “Minha intenção, ao usar essa lente, era transformar o filme quase que em desenho animado, para ficar o mais caricato possível. Eu filmava os personagens como se fossem personagens do desenho do Pernalonga. A cor saturada e a deformidade tinham o intuito de tornar tudo aquilo um sonho nonsense. Eu não queria que o filme se parecesse com uma coisa real, queria que parecesse uma coisa absurda. Usamos essa lente para causar essa estranheza”, disse o animado Cavi Borges, ao final da sessão.

A animação do diretor, ao que parece, correspondeu à aprovação do público presente na abertura do festival, no Teatro Tobias Barreto. Nada mal para quem rodou o filme em um único dia, com um orçamento de dois mil reais, e lançamento, primeiramente, para aparelhos de celular, segundo o diretor, algo inédito no mundo.


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