Um fotógrafo em busca do pote no fim do arco-íris

Walter Firmo sorri antes de respon-der sobre o que ainda o motiva, mesmo cinco décadas depois de começar no fotojornalismo: “A vontade de fotografar”. Simples assim. Tão simples como a relação com os alunos que o seguiam, em fila indiana, pelas ruas de pedras da histórica Pirenópolis, interior de Goiás, durante as Cavalhadas – festa tradicional da região, no fim de maio.

A agenda do fotógrafo carioca de 73 anos é intensa. Com um fôlego de fazer inveja, emenda uma viagem a outra, dá cursos regulares no Rio de Janeiro e em São Paulo, e ocasionais pelo Brasil afora. Mesmo quando não está em sala de aula, vive cercado de alunos nas oficinas que promove durante o ano em locais como Paraty, Pirenópolis, Ouro Preto, São Luís, Havana ou até mesmo Nova York. “A energia dos meus alunos me alimenta. Eu passo conhecimento para eles, que me retribuem com energia, com vitalidade.”
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E isso é o que Walter Firmo tem de sobra. Desembarcou em Brasília depois de uma viagem a Florianópolis, pegou um carro no aeroporto, parou para fotografar, dirigiu 120 km até a cidade goiana, saiu para jantar com um pequeno grupo de alunos e, no dia seguinte, às 5h30, estava de câmera em punho para fotografar os preparativos das Cavalhadas. Entre uma foto e outra, orientando os alunos sobre luz e velocidade, e apontando para imagens que surgiam no caminho, diz que tem disciplina de “soldado” e é muito determinado, por isso não vê problema em manter a pesada rotina das oficinas.

Fazer parte do grupo de alunos de um dos maiores fotógrafos brasileiros parece amedrontar no início. Walter Vinagre, recém-aposentado da Caixa Econômica, tem aulas com Walter Firmo desde 2008, já participou de algumas viagens, e diz que a sensação é passageira. “Ele é muito simples e generoso. É prazeroso para ele nos passar conhecimento”, afirma. O engenheiro José Filizola, fotógrafo experiente, que retornou à fotografia depois de alguns anos e foi ter aulas de cor com Firmo, acrescenta outra característica ao mestre: sedutor. “Nas saídas, o grande barato não é esperar que o Walter nos aponte o que fotografar ou nos fale de técnicas. O bacana é observar a abordagem dele, como ele ‘caça’. Ele é um fotógrafo muito felino.”

Firmo em preto e branco – Walter Vinagre e José Filizola já fizeram curso de cor e agora frequentam às aulas de preto e branco, para onde Walter Firmo tem direcionado suas lentes nos últimos dez anos. Questionado se, ao retornar ao preto e branco, estaria se reinventando, Firmo diz que não, que é apenas uma volta às origens, a uma paixão. Falando em volta às origens, e o fotojornalismo, qual o papel dele hoje na vida do fotógrafo que é citado no verbete “fotografia” da Enciclopédia Britânica? Para ele, o fotojornalismo tem papel de destaque, pois foi o que o projetou profissionalmente. E rebate com uma pergunta à repórter: “O que estamos fazendo aqui, acompanhando essa festa, não é fotojornalismo?”.

Entusiasmo de criança – Quando está em volta dos alunos, ou “caçando” uma imagem, Walter Firmo demonstra entusiasmo de criança. “Às vezes, temos de tomar conta dele”, brinca Walter Vinagre. E é como uma criança que é capaz de andar pelas ruas de Paris com uma pinhole – câmera artesanal sem lente – pendurada no pescoço, para espanto de alguns.

Da primeira câmera, uma Rolleiflex, presente do pai em 1955, à digital Nikon D700 foram inúmeros prêmios, entre os quais o Esso de Jornalismo pelo trabalho Cem Dias na Amazônia de Ninguém, série de reportagens publicada no Jornal do Brasil, em 1963, e o Internacional de Fotografia Nikon (nove vezes). Antes que alguém pense que Firmo abandonou os equipamentos analógicos, um esclarecimento: as câmeras Nikon FM2, Leica M6, Hasselblad 500C o acompanham cotidianamente.

Exposição e livros – Reconhecido pelo interesse em temas sociais e bem brasileiros, com destaque para as festas folclóricas e personagens típicos e célebres figuras da cultura brasileira, Walter Firmo expôs em Porto Alegre o que ele chama de “uma parte do enorme corpo que compõe hoje a jornada Walter Firmo”. Com curadoria do artista Emanuel Araújo, diretor do Museu Afro-Brasil em São Paulo, levou à capital gaúcha a mostra Sem Nomes, onde também lançou o livro Brasil – Imagens da Terra e do Povo, com 260 fotos selecionadas por Araújo.

Firmo lança, ainda este ano, o livro Glória Aprendiz, com registro de alunos do Ensino Fundamental da rede pública de São Paulo, publicado pela Editora Imprensa Oficial de São Paulo. Ele prepara também um livro com fotos do que chamou de amorfos, objetos soltos, ignorados, que deve ser lançado em 2010.

Influenciado por nomes como Félix Nadar, Brassai, Eugene Atget, Jacques Henri Lartigue, André Kertész, Robert Doisneau, Henri Cartier-Bresson, da escola francesa; Ernst Haas, Gordon Parks, David Zingg, da americana; além do brasileiro José Medeiros, Walter Firmo é um apaixonado pela fotografia, pelos alunos e pela designer e fotógrafa Maya Zalt, 35 anos, com quem está casado há três anos.

Walter Firmo prefere não escolher uma foto como a melhor da carreira e afirma que fez outras coisas além da célebre fotografia de Pixinguinha que também merecem destaque. “Você já fez a foto da sua vida?”, pergunta a repórter. A resposta vai para onde a conversa começou. “Acho que agora você conseguiu saber o que me motiva, que foi a sua primeira pergunta. Não, não consegui fazer a foto da minha vida. Essa é a minha quimera, o meu pote no fim do arco-íris.”

O fotógrafo do Presidente


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