O Memorial Erico Verissimo, instalado no mesmo prédio onde já existe o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CEEE refere-se à Companhia Estadual de Energia Elétrica), reúne dois importantes acervos em torno da vida e obra do escritor: o de Mario de Almeida Lima, jornalista e bibliófilo; e o de Flávio Loureiro Chaves, doutor em Letras. O detalhe é que os dois foram amigos de Erico Verissimo – nascido na cidade gaúcha de Cruz Alta, em 17 de dezembro de 1905, e morto, subitamente, 69 anos depois.
O memorial veio amenizar a lacuna aberta em 2009, quando o Acervo Literário sob a responsabilidade dos Verissimo foi enviado ao Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, em contrato de comodato por um prazo de dez anos. Mas o filho caçula de Erico, o também escritor Luis Fernando, decidiu colocar toda a herança literária do autor de O Tempo e o Vento, entre outros importantes títulos, em um único endereço – o prédio que agora abriga o centro cultural e o memorial foi construído na segunda década do século passado e tombado em 1994.
O planejamento e a execução do projeto do memorial contou com o apoio da família. “A melhor maneira de homenagear um criador é com criatividade, o que não falta no projeto”, disse Luis Fernando. “Meu pai foi um dos primeiros escritores brasileiros a tratar da temática urbana. Alguns de seus livros permanecem atuais, e O Tempo e o Vento, obra com mais referências históricas, é um grande romance.” Com patrocínios do Grupo CEEE, Gerdau e Pró-Cultura RS, o espaço abriga cerca de três mil itens entre originais, manuscritos, mapas, desenhos, anotações, correspondências, fotos, filmes e vídeos, além da fortuna crítica. O investimento total foi de R$ 1,5 milhão.
Dois dos seis andares do prédio ocupado pelo centro cultural estão destinados à exposição permanente do Contador de Histórias, como se denominava o próprio escritor. Além disso, ambientes destacam os documentos mais preciosos do acervo. Entre eles, Fantoches, a primeira obra publicada, em 1932, e revisitada 40 anos depois; o mapa de El Sacramento, a ilha fictícia onde se passa parte do romance O Senhor Embaixador (1965); e o mapa da praça da cidade de Incidente em Antares (1971), apresentado em três dimensões.
Há ainda vários originais, como os de Noite, novela de 1954 que trata do submundo em um ambiente urbano, e Solo de Clarineta – Volume II (1976), segunda parte das memórias do autor, cuja obra póstuma foi organizada por Chaves.
A trilogia de O Tempo e o Vento – O Continente, O Retrato e O Arquipélago –, composta por documentos autênticos, também está preservada. Na coleção há rasuras, comentários, cálculos, desenhos. “Os papéis mostram o processo de criação e produção, fruto de muita experimentação, que retiram o texto literário da ideia de inspiração absoluta”, diz Marcia Ivana de Lima e Silva, coordenadora de conteúdo do memorial.
A expectativa é de que o memorial seja amplamente visitado. “Se o espaço der conta disso, terá o perfil de Erico, que não só redigiu uma obra múltipla, como era interessado no outro”, diz Chaves.
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