Se há alguém que não desistiu de sonhar coletivamente, esse é Tariq Ali, escritor paquistanês radicado em Londres. Seu caso, contudo, nada tem de onírico: “ação!” é a palavra que traduz sua militância política desde 1968 – ano em que, literalmente, a humanidade decidiu se levantar contra o seu próprio sedentarismo. Mesmo que tenha caído na rotina novamente.
A agilidade política da esquerda libertária é o enredo de O Poder das Barricadas – Uma Autobiografia dos Anos 60 (Street-Fighting Years, an Autobiography of the Sixties, Boitempo Editorial, 408 páginas, R$ 68), obra que reúne relatos e vivências de Ali em lutas que enfrentou de Karach a Saigon, passando por Havana, Londres, Paris e Berlim. A edição se baseou na versão revista e ampliada pelo autor em 2005. Ali preferiu desconsiderar críticas ao texto original: “Não se deve ajustar a história às necessidades do presente”, argumentou. Mas o crème de la crème do livro é a entrevista com John Lennon e Yoko Ono feita em 1971, da qual Brasileiros reproduz um pequeno trecho. Mas, antes, leia o que Ali pensa sobre o amigo beatle, a expansão da consciência e as barricadas.
Brasileiros – O que os jovens podem aprender com o Maio de 1968?
Tariq Ali – Pensar e agir por si mesmos, ser críticos com a política oficial e a mídia que a apóia. Desafiar toda forma de ortodoxia, se opor à pobreza e à guerra.
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Brasileiros – Como explicar que a liberação feminina, a revolução sexual e a contracultura eclodiram todas ao mesmo tempo, nos anos 1960?
T.A. – Elas foram inspiradas pelas vitórias dos vietnamitas contra os imperialistas mais poderosos do mundo. “Se eles puderam fazer isso, por que não os outros?” Isso causou uma onda de esperança. As ativistas chamaram o seu movimento de Frente pela Liberação das Mulheres, depois que houve a Frente pela Libertação Nacional dos Vietnamitas.
Brasileiros – Alguma lembrança marcante da entrevista com John e Yoko? Na sua opinião, Lennon foi mártir ou vítima?
T.A. – John era um amigo pessoal, e se tornava mais e mais político a cada dia. A canção “Working Class Hero” reflete bem o seu processo de politização. Ele foi vítima de um louco paranóico norte-americano. Poderia ter marchado conosco contra a guerra no Iraque.
Brasileiros – Após 40 anos, a consciência política conseguiu se expandir?
T.A. – Não. Vivemos num mundo dominado pelo consumismo, pelo estilo de vida das celebridades e pelo individualismo – em meio a grande pobreza. E, atualmente, estamos diante de uma crise dos alimentos. Institucionalizou-se uma despolitização. As mudanças políticas na América do Sul (Venezuela, Equador e Paraguai), no entanto, renovaram as esperanças.
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