O informalismo e o formalismo brasileiros

Semana passada, fui com meu amigo ver a exposição da incrível pintura informalista de Luiz Aquila, sempre vibrante e em eterna mutação. O pintor, que ficou famoso nos anos 1970, continua deixando-nos surpresos a cada exposição.

Fora a pintura cada vez mais informal e os amigos que se reencontram em suas mostras aqui e em Petrópolis (RJ), fiquei pensando na nossa cidade maravilhosa que, concluí, não ganhou esse apelido só por sua paisagem extravagantemente deslumbrante, mas pela primeira vez agreguei o adjetivo à arquitetura igualmente maravilhosa, embora mais discreta e menos exuberante.

A exposição aconteceu dentro do Paço Imperial, na Praça XV, que se chamou assim em homenagem à Proclamação da República, em 15 de novembro de 1894. O Paço foi construído pelo engenheiro militar e arquiteto José Fernandes Pinto Alboim, em estilo colonial, em 1699, quando a Casa da Moeda foi erguida para fundir o ouro proveniente de Minas Gerais, em frente ao mar, para facilitar o transporte.

D. João VI e sua mãe, D. Maria I, mudaram-se de vez para o Brasil, por causa da ameaça de invasão à Portugal, por Napoleão Bonaparte. O restante da família imperial veio para o Brasil em 1808. Além da residência no Paço, a família também possuía uma casa na Quinta da Boa Vista e um Palácio em Petrópolis, onde passava o verão. Todos eles de uma beleza impressionante.

Em algumas repartições da residência do Paço Imperial, para onde, em 1808, o restante da família imperial também se mudou, há um pequeno aviso em algumas paredes, que diz onde estamos: no quarto de D Maria I, na sala de recepção de seu filho D. João VI, ao lado de suas 12 janelas na lateral direita, em frente ao mar, ou na sala do trono, onde D. João VI foi coroado, depois da morte da mãe.

Fiquei pensando como se podia andar por aquela “casa” a pé, atravessando quinhentas salas ou descendo mil escadas. Talvez tenha sido por isso que D. Maria enlouquecera, a não ser que tivesse um transporte ou um escravo que a levasse de um cômodo a outro. Depois de sair dessa maravilha de residência, passamos pelo Convento e Igreja do Carmo, na rua Primeiro de Março, onde foi o Palácio dos Vice-Reis. Depois, passamos pela escultura de uma cabeça ultramoderna e inacreditavelmente bela, saindo da areia da praia do Flamengo, que faz parte da Feira de Arte que acontece no Rio e, no dia seguinte, por coincidência, tive uma entrevista com uma psicanalista que, por acaso, tem consultório na rua 2 de Dezembro, onde me deslumbrei com várias casas, a maioria caindo aos pedaços, em estilos variados.

Passei pela rua do Pinheiro, que não conhecia, onde entrei, fascinada, no Palacete Lineu de Paula Machado, um espaço para exposições, e fui andando a pé para prestar atenção na nossa arquitetura, até me deparar com o Castelinho ou Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, cujo nome do meu amigo, o famoso Vianninha, sempre me espanta – não que ele não mereça a homenagem, mas porque convivi e trabalhei com ele, como posso vê-lo agora transformado em história, embora ele tenha tudo a ver com D. João VI, pois passou a vida lutando pelo Brasil.

*É atriz, atuou em mais de 50 filmes, 15 telenovelas e minisséries, além de peças de teatro. Também é cronista do Jornal do Brasil e autora do livro O Quebra-Cabeças (Imprensa Oficial, 2005), uma compilação de crônicas publicadas pelo jornal.


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