Desde muito cedo a vida do paulistano Luiz Pereira Bueno, nascido no bairro de Higienópolis em 1937, foi influenciada pelo automobilismo. Em um bucólico passeio de domingo, ele foi levado pelos pais para assistir a uma corrida no Autódromo de Interlagos, época em que os carros eram movidos a gasogênio. Ele tinha sete anos. O entusiasmo com os carros tiraram-lhe a atenção para os estudos, e aos 11 anos foi reprovado na escola. Como “castigo”, foi estudar em um colégio interno em Campinas, onde ficou por dois anos. Mas dava suas escapadas nos finais de semana para ir a Interlagos assistir aos treinos do então futuro cunhado Cláudio Daniel Rodrigues. Luiz terminou o ginásio em São Paulo, na mesma época em que seu irmão Vasco estreava nas pistas e que Cláudio abriu uma oficina mecânica. O futuro piloto passou a dividir o seu tempo entre os estudos e a oficina do cunhado, onde aprendeu tudo sobre preparação, o desenvolvimento e o esquema para amaciamento de motores – o que lhe seria útil em sua carreira. Após as aulas, ia para Interlagos e lá ficava a tarde toda dando voltas e assentando o motor dos carros da oficina de Cláudio. Algum tempo depois, Vasco comprou um Fiat Stanguelini da Equipe Comino, que era pilotado por Ciro Cayres, e este virou o carro de corrida dos irmãos Bueno. Em 1956, aos 19 anos, o jovem Luiz Pereira Bueno iniciou sua carreira automobilística quando, com o pequeno Fiat de motor de 1,1 litro, estreou em Interlagos. Naquele período de aprendizagem, Luiz lembra que nos finais de tarde a oficina virava um ponto de encontro de pilotos e aficcionados. Ali conheceu Bird Clemente, que, junto com Luiz, correria com um Simca Huit – com motor e câmbio do Fiat – nas III Mil Milhas Brasileiras de 1958. Infelizmente, o carro quebrou logo no início da prova.
Disposto a desvendar os segredos dos automóveis, aos 22 anos, Luiz conseguiu uma vaga na fábrica de automóveis Willys para trabalhar na unidade de eixos e transmissões. Logo depois fez um estágio de especialização nos carros da linha Jipe, Rural Willys e também no Renault Dauphine, que passara a ser fabricado pela Willys. Foram dois anos afastado das corridas. Sua volta às pistas deu-se em 1961, quando fez dupla com Danilo de Lemos em um Dauphine na prova 24 Horas de Interlagos. Ali conheceram Mauro Salles, que os apresentou à diretoria da Willys. Com esse novo contato, acabaram conhecendo um projeto sigiloso, o Willys Interlagos. Bueno foi, então, convidado para um estágio na fábrica do Alpine na França, mas, quando retornou ao Brasil, percebeu que não seria possível conciliar o lado esportivo com o profissional. Desligou-se da fábrica e optou por ser “apenas” piloto de competição. Com o amigo de infância, Franklin Martins, abriu em 1962 a oficina Torke, onde preparava carros Renault.
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Em 1963, em dupla com seu amigo Francisco Lameirão, estreia na equipe oficial da Willys com um Gordini. Os Willys Interlagos, principais carros da equipe, enfrentam problemas, enquanto Luiz e Chico fazem excelente prova, a ponto de o chefão Christian Heins compor trinca com eles no final da prova. Terminam como melhor carro da equipe, em 3º lugar. Foi a última corrida de Christian Heins antes do seu acidente fatal em Le Mans. Sob o comando de Luís Greco, Bueno era considerado um piloto prata da casa, pois na Willys consagrou-se com Dauphine, Gordini, Carretera Gordini, Willys Interlagos, Alpine e protótipo Bino. Nas décadas de 1960 e 1970, foi o piloto com o maior numero de vitórias entre todos os colegas brasileiros. Mais tarde, a Willys foi adquirida pela Ford, que rebatizou o Alpine, de Mark1, e o Bino, de Ford Mark 2.
No início de 1969, Bueno e Ricardo Achcar vão à Inglaterra correr de Fórmula Ford pela equipe SMART (Stirling Moss Racing Team). Luiz venceu seis corridas em menos de oito meses e terminou como vice-campeão inglês de Fórmula Ford. De volta ao Brasil participou do Torneio BUA de F-Ford, com cinco provas em quatro autódromos, com um carro Merlyn nas quatro primeiras provas e com uma Lola T-200 na última, em Interlagos. Quando Luís Greco adquire a revenda Samdaco, Bueno passa novamente a integrar sua equipe. O binômio Greco e Bueno contabilizou o impressionante numero de 27 vitórias em pouco mais de 60 provas. No final de 1970, na Copa Brasil Internacional, chamou atenção um Porsche 908 do príncipe Jorge de Bragation, que só não venceu porque Emerson Fittipaldi, com um pequeno Lola T210, não deixou. Luiz lembra que estava ao lado do Anisio Campos, Paulo Goulart da Dacon (representante Porsche) e José Carlos Pace quando pensaram em montar uma equipe profissional. “A duras penas compramos um Porsche igual aquele do príncipe que o Anisio Campos foi buscar na Alemanha. O Paulo Goulart ajudou na importação e montamos a Equipe Z. O Pace estava em dificuldades de obter apoio para a Fórmula 2 na Europa, mas acabou acertando com ajuda dos irmãos Diniz. Após três etapas, estreando com vitória, foram para Argentina enfrentar o bicho-papão de lá, o Tornado Berta, de Luis Di Palma. Foi um belo duelo, e Di Palma levou a melhor. Luiz Bueno deu o troco logo depois, já como equipe Hollywood, em San Juan, numa ultrapassagem espetacular na entrada de S de baixa velocidade.
A equipe conseguiu o patrocínio da Souza Cruz, que passou a divulgar o cigarro Hollywood, e, mais tarde, o da Shell. O Porsche 908/2 com Luizinho no cockpit não tinha adversários – venceu 10 provas e, em uma corrida memorável, terminou em 2º lugar. No início de 1971 Luiz Bueno participou da temporada brasileira de F3, terminando uma etapa em 2º lugar, e no final do mesmo ano, na temporada de Fórmula 2, em 5º lugar em Córdoba, na Argentina.
Na realização da primeira prova experimental de Fórmula 1 no Brasil, em 30 de março de 1972, a Hollywood alugou um carro March 711 para Luiz Bueno, que acabou a corrida em sexto lugar. Em novembro de 1972, aconteceu a última corrida dos carros importados no Brasil, quando Bueno se torna campeão da categoria Esporte-Protótipo com o 908/2. A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) decidiu que a partir de 1973 seriam admitidos somente protótipos nacionais. Chassis importados só poderiam correr se fossem equipados com motor de fabricação nacional. Bueno e Anísio venderam o Porsche.
No primeiro GP de F-1 de 1973, a equipe novamente alugou um carro para Bueno, dessa vez um Surtees TS9B. Durante os treinos, Bueno parou e reclamou que o carro não estava bom. John Surtees, dono da equipe, duvidou. Quando o piloto oficial, José Carlos Pace, testou o carro e concordou com Bueno, Surtees pediu-lhe desculpas. Constatou-se que, durante a montagem, os mecânicos inverteram um dos triângulos dianteiros do carro. Na corrida, houve uma pane elétrica e Bueno chegou em décimo lugar. A partir daí, Bueno passa a correr com um Opala 4.100 da Divisão 3. Logo depois, Renato ‘Tite’ Catapani e Bueno resolvem entrar na Divisão 3 com o Maverick desenvolvido pelo argentino Oreste Berta e, em 1975, vencem duas etapas do Campeonato Brasileiro.
Paralelamente, Bueno também participa com o Berta Maverick na categoria protótipos Divisão 4 com um chassis argentino e motor brasileiro – foi a sensação da temporada vencendo quatro etapas e consagrando-se campeão brasileiro. No final daquele ano, a Souza Cruz anuncia o fim do patrocínio à equipe Hollywood. Bueno ficou fora das pistas algum tempo, período em que trabalhou na Bantec, convidado pelo seu fiel amigo Franklin Martins. Em 1982, aos 45 anos, retorna às competições para correr de Stock Car, quando obteve resultados medianos. Em 1984, convidado pelo amigo Lian Duarte e pela Equipe Greco, Luiz Pereira Bueno fez sua prova de despedida: os Mil Quilômetros de Brasília a bordo de um Ford Escort. Ficou em oitavo lugar. E para sempre na memória de seus fãs.
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