No ano em que completa 35 anos de história, o conceituado Grupo Tapa, de São Paulo, uma das mais importantes companhias teatrais do País, ocupa por nada menos que nove meses o lendário palco do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, tradicional espaço para experimentações teatrais e marco da resistência contra o período da ditadura no Brasil. A intensa programação prevê apresentação de 17 peças, de 12 autores, com oito diretores e 62 artistas. Em abril e maio, estrearam Senhorita Julia, de August Strindberg, e As Viúvas, de Artur Azevedo. Em junho, é vez da peça Os Órfãos, com texto original de Dennis Kelly – destaque da crítica na longa temporada que passou no Teatro Nair Belo, em coprodução com o Tapa e direção de Clara Carvalho.
Quatro peças serão inéditas. “A gente trabalha por repertório, com novidades e remontagens para contrapor com o que foi feito no passado, é uma tradição nossa seguir por esse caminho”, explica Eduardo Tolentino, diretor de teatro e um dos fundadores do Tapa. Segundo ele, a companhia mantém um repertório com encenações que constituem instigantes diálogos não apenas com a cultura brasileira, mas com a ideia de cultura como um valor que distingue os homens nos diferentes pontos do planeta. Assim, nessas mais de três décadas, chegaram ao público textos de autores como Luigi Pirandello, Tennessee Williams, Nicolau Maquiavel e os brasileiros Martins Pena e Artur Azevedo, entre tantos outros.
Por causa das dimensões do palco do Arena – estreito nas laterais e profundo atrás –, as peças passarão por leves adaptações, uma vez que foram concebidas para o formato de palco italiano. O cronograma de apresentações começou em 26 de abril passado e segue até o próximo 22 de dezembro, com espetáculos de quarta a domingo. Tolentino conta que o projeto nasceu de um edital de concorrência da Funarte para ocupações em seus teatros de todo o Brasil, vencido pelo grupo em São Paulo, depois de três anos de tentativas. “Estar no Arena é emocionante, tem um peso histórico muito grande, a carga de pessoas e peças importantes que passaram por lá.”
O projeto vai além das encenações. Estão previstas palestras, debates, círculos de vídeos, leituras de textos e peças de 15 minutos – uma diferente por dia, antes de cada apresentação. Enquanto isso, o Tapa está fazendo um trabalho de aproximação com o entorno do Arena – escolas e associações de bairro. “É preciso voltar o projeto também para formação de público”, justifica o diretor.
O momento é de entusiasmo, no Tapa, pelo tamanho do desafio da temporada. “É sem dúvida um ano especial pela ocupação de um espaço tão importante para o teatro brasileiro”, observa o ator e produtor Marcelo Pacífico, que divide o palco de Os Órfãos com Isabella Lemos, Renaldo Taunay e Antonio Haddad Aguerre. Ele observa que um aspecto positivo do Arena é a proximidade do público em relação ao palco e aos atores, que ajuda em maior interação e percepção do trabalho do elenco. “No nosso caso, é importante porque pesa mais a interpretação, não só o aspecto visual, com grandes cenários. Não é uma questão econômica, mas uma escolha nossa na forma de fazer.” Na trama, um jogo de revelações e contradições em forma de thriller com humor em que nada é exatamente o que parece.
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