Um Teto para meu País

Domingo, 28 de junho, na entrada da estação Vila Madalena do metrô, me encontro com outros dez voluntários da ONG Um Teto para meu País, carinhosamente apelidada por nós de Teto. A poucos metros dali, na Avenida Heitor Penteado, fica o escritório da ONG. [nggallery id=14616] Ainda cedo, às 9h da manhã, saímos rumo a Suzano, município próximo a São Paulo.É em uma favela de Suzano onde vamos iniciar mais um processo de construção de casas de emergência. Hoje vamos designar as famílias mais necessitadas a receber dez casas de madeira, que serão construídas por um grupo de 100 jovens universitários entre os dias 24 e 26 de julho.LEIA TAMBÉM:
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Começou, não para!
O começo da mudançaLogo na chegada à comunidade Jardim Gardênia Azul, aquele espanto inicial e a pergunta que não cala:Como é possível viver em condições tão subumanas?Entre casas de alvenaria mal-acabadas e barracos de madeira, passeamos e recebemos “bom dia” de alguns moradores da favela. Nas ruas de terra, cachorros e gatos de aparência abandonada procuram algo para comer. Penduradas em alguns postes de luz, propagandas políticas de eleições passadas. Penso: o Estado não chega, mas a propaganda política chega.Mais alguns passos e estamos diante da casa de Rita de Cássia.- Ô de casa, Dona Rita, grita uma das voluntárias batendo as palmas das mãos em frente ao portão.- Entra. Fica à vontade, exclama Dona Rita ao abrir a porta de sua casa.- Pode entrar que cabe todo mundo, avisa Dona Diva, vizinha e amiga de Rita.Entramos todos e mais uma vez aquela pergunta vem à cabeça. Não sei como o barraco se mantém em pé…Alguns de nós voluntários ainda não conhecíamos Dona Rita e sua mãe, Maria. Isso porque nem todos que estão ali participam da etapa da construção conhecida como detecção. É nesse momento que o Teto inicia o contato com uma favela se apresentando e mostrando as propostas do trabalho. Uma vez conhecida pela favela, a ONG abre as inscrições para as famílias que se interessarem em construir a casa de emergência e, aos domingos, começa a fazer enquetes, uma espécie de questionário sócio-econômico, com essas famílias.A partir de critérios pré-determinados, entre eles a condição do barraco e a saúde dos moradores, as enquetes apontam as famílias que mais precisam das casas.É o caso de Rita de Cássia, que além de sua mãe, vive com seus dois filhos e outra amiga com três filhos, a quem recebeu depois de ter a casa perdida.Cafezinho e bolinho de chuva oferecidos, Rita e Maria, rodeadas pelas crianças, escutam a notícia de que elas haviam sido escolhidas para receberem a casa de emergência. De início, o valor de 150 reais assusta um pouco, mas Dona Diva, com lágrimas nos olhos, encoraja Rita e garante que vai ajudar a cobrir o valor:- A gente sempre consegue guardar um pouquinho pros outros, afirma Diva.Rita, inclusive, disse que mal vê a hora de começar a trabalhar para construir sua nova casa, que, segundo ela, parece ser simples, mas muito melhor que o barraco atual.A ideia do Teto é justamente essa. O valor, embora simbólico perto do custo total da casa (R$ 3.500), revela a característica não assistencialista do projeto. As famílias devem se envolver durante todas as etapas de construção. Seja ajudando os voluntários a cavar e martelar, seja cozinhando o almoço nos dois dias de construção. O importante é se envolver com a casa e se sentir, de fato, dono dela. Algo que foi conseguido com o próprio esforço.Como voluntário, participei de cinco construções diferentes desde 2007. E sempre testemunhei gestos como o de Diva, que se ofereceu a ajudar Dona Rita sem pedir nada em troca.Eis o cerne do projeto! Unir sociedade, governos e empresas em torno do problema da pobreza no Brasil.*Felipe é estudante de Relações Internacionais e Psicologia da PUC-SP, voluntário do Teto desde 2007 e já trabalhou na construção de seis casas.


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