Um trio em noite especial

Muito tempo antes do início do espetáculo, a longa fila já preanunciava que o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, teria todos os mil e quinhentos lugares ocupados na especial noite de terça-feira (10), como veio a acontecer. Lotação máxima e noite especial.
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Gilberto Gil subiu ao palco, fez abertura solo, apenas voz e violão, cantando a música de sua própria autoria, Máquina de Ritmo. Em seguida, agradeceu e brincou que a canção que acabara de cantar era portuguesa, porque tinha sido composta no Algarve (sul de Portugal).

Com um caloroso aplauso, o público expressou o carinho com que recebia o artista e os convidados. Gil começa então a explicar, antes da entrada dos outros músicos: “Este espetáculo é uma soma de cordas: as seis cordas de meu violão, as duas de minha garganta, mais as cordas do violoncelo de Jaques e mais as cordas do violão do meu filho Bem”.

No palco, o trio composto pelo violoncelista e maestro Jaques Morelenbaum e por Bem Gil, emocionou a plateia, que ouvia em silêncio cada nota extraída dos instrumentos, em um ambiente intimista de “recital” (conforme o próprio Gil o classificaria).

A segunda canção da noite, também de sua autoria, foi Esotérico, com seu clássico assobio. E, como bem havia anunciado Gilberto Gil – “Será, por certo, com imenso prazer, que nos encontraremos para levar a todos que vierem nos assistir, um pouco desse eterno milagre da canção” -, o eterno milagre da canção, cheio de magia, segue com os três músicos que, juntos, fazem uma homenagem ao saudoso Dorival Caymmi, cantando a célebre Saudades da Bahia.

Essa foi apenas a primeira de várias outras homenagens no decorrer do espetáculo, entre elas de Gil para a filha Maria e a esposa Flora, com Quatro Coisas. Uma canção inédita, composta para o concerto do trio.

Ao término de cada canção, Gil interagia com o público, falando sobre a música seguinte. “O samba está para o Brasil como o fado está para Portugal. Este tema que vou cantar agora foi lançado por um grande mestre da música brasileira, Jackson do Pandeiro, no final da década de 1950: Chiclete com Banana, composição de Gordurinha e Almira Castilho. Esta música deu origem a uma nova designação do samba, o ‘samba rock’”. O artista canta Samba Rock e pede a participação do público, que atende ao pedido entoando o refrão.

Mais uma surpresa no diversificado repertório. No palco agora só Gil e Jaques, com Lamento Sertanejo (Gil e Dominguinhos) e Tenho Sede (Dominguinhos e Anastácia). Ambas as músicas causaram uma grande emoção no público, visível no rosto de cada um. Bem Gil volta e o trio apresenta Expresso 2222 (Gilberto Gil).

Terminado o repertório e após uma prolongada e calorosa ovação em pé, Gilberto Gil e convidados regressam ao palco para encerrar com mais duas canções, uma delas de seu primeiro disco, Capinan (José Carlos).

Após o espetáculo mais uma fila, dessa vez para cumprimentar os artistas no camarim. Com toda a “calma baiana”, Gil recebeu e conversou com cada um, entre eles o ex-ministro da cultura de Portugal, Pinto Ribeiro, que havia trabalhado com o músico e disse ter apreciado muito o concerto: “Inesquecível! Ficará gravado na memória de quem aqui esteve. É extraordinário! É íntimo e exuberante, é choroso, explosivo e alegre. É tudo o que se faz, com esta língua, com esta música, com a África, com o Brasil, com Portugal, é uma coisa extraordinária!”, falou, empolgado.

A portuguesa Teresa Salgueiro, ex-vocalista do Madredeus, que esteve várias vezes no Brasil e com quem Gilberto Gil havia partilhado o palco há poucos dias para um dueto memorável no Casino Estoril, disse estar encantada com o espetáculo.

“Estou muito feliz, muito tocada. Tenho seguido o trabalho do Gil há muitos anos, como o de muitos outros autores, compositores e intérpretes brasileiros. Tenho uma grande admiração pela música e pelos músicos do Brasil. Ter estado aqui hoje e ouvi-lo. Acho que esta formação é extraordinária, porque é de uma grande simplicidade, mas ao mesmo tempo de uma grande riqueza, grande sobriedade, mas também consegue comunicar muita força, muita energia, muita luz. Tenho muita admiração por todo o percurso do Gilberto Gil, não só musicalmente, mas também na área social, de intervenção social. Acho que é um ser humano extraordinário”, disse a cantora.

Teresa estava acompanhada pelo seu guitarrista, Pedro Jóia, que já trabalhou com Ney Matogrosso, entre outros músicos brasileiros: “Achei ótimo. O Gil está em grande forma, vocal, etc. Gostei muito dessa versão em trio, com o Jaques e o filho do Gil, e acho que a escolha de repertório foi ótima, porque isso é uma espécie de retrospectiva da carreira dele, mas tocada duma forma como nunca tocou nem nunca cantou. Acho fantástico”, analisou.

Gil falou ao site da Brasileiros sobre o prazer de realizar o espetáculo ao lado do amigo Jaques Morelenbaum e do filho Bem Gil: “É um concerto que faço com muito prazer, porque ele é muito simples. Apesar de intenso, ele é suave também, propicia um trabalho vocal profundo, mas tranquilo ao mesmo tempo. Possui um repertório variado desde meu primeiro disco até o último. A presença do Jaquinho dá uma elegância típica do seu instrumento. O meu filho Bem se encaixa de uma forma muito simples, mas muito eficaz. Ele é um apreciador de minha técnica, do meu estilo. Então, é um prazer muito grande fazer este trabalho com eles”, concluiu.


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