Meus caros, sei que já passei por esse tema várias vezes na vida, mas, mais uma vez, me junto à onda de protestos contra os absurdos que pessoas se permitem dizer contra nós, homossexuais, e nossas reivindicações. Novamente, lá vem o argumento de que queremos privilégios, direitos excepcionais, imunidade legal para dizermos o que nos vier à mente, protegidos de qualquer medida legal. Assim temem muitos desinformados, que passam a nos agredir mais ainda, e a reação causa-efeito só vai tornando ainda mais sanguinária a batalha. Semana passada todo o Brasil acompanhou, não apenas pela transmissão ao vivo, como pelos bons telejornais, a agressão sofrida pelo jogador Michael, e seus companheiros do Vôlei Futuro, na cidade de Contagem, em Minas, quando disputavam um dos jogos da semifinal da Superliga contra o Cruzeiro, time da casa. Foi uma desavergonhada demonstração de preconceito e homofobia, antiesportividade total. O caso foi levado ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, cujo regulamento proíbe especificamente a discriminação por conta de orientação sexual, e o Cruzeiro foi multado em R$ 50 mil, quantia considerada irrisória pelo Vôlei Futuro, que queria maior, além da perda do mando de jogo. Acho que a condenação ao pagamento, em si, foi um belo começo, o bolso é a parte mais sensível de pessoas físicas e jurídicas. Mensurar a punição é difícil, pois, a bem da verdade, não tem preço, vale, no meu entender, como precedente para o clube, e para ser multiplicada várias vezes em caso de reincidência.
A questão que resta é muito simples: os dois times vão se enfrentar, novamente, no mesmo ginásio, perante a mesma torcida, cujo bolso não foi arranhado pela condenação, quem foi condenado a pagar foi o clube. Será que todos vão saber como se portar? Será que os alertas e pedidos feitos publicamente pelos dirigentes do Cruzeiro serão atendidos? Na quadra, teremos, certamente, o melhor vôlei de que o Brasil dispõe, e, nas arquibancadas, um teste fantástico de cidadania. Tudo isso será transmitido hoje, a partir das 20h30, não perderei por nada nesse mundo.
Voltando ao que dizem nossos detratores, só posso reiterar o que já escrevi, e me juntar ao coro dos bons escribas gays: não queremos privilégios, queremos direitos iguais, e instrumentos jurídicos que nos permitam, como fez o Vôlei Futuro, acionar os tribunais na defesa de nossos direitos. Mais de duas centenas de homossexuais são mortos, todos os anos, em crimes motivados claramente por homofobia, os números devem ser muito maiores, mas não reportados. Aquilo que começa com piadinhas aparentemente inocentes, acaba com lâmpadas de vidro quebradas na cara, e violência semelhante. Como acionarmos a polícia, se a lei criminal federal não sabe o que é homofobia? Contra a infâmia, tolerância zero, sempre, não há outro caminho. Quem não é capaz de compreender o que dizemos, que volte para a escola. Ignorância também não tem outra cura. E vamos ver se o jogo de hoje vira guerra ou não. Abraços do Cavalcanti.
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