Na recepção da produtora paulistana AIUÊ, cujo nome foi inspirado na expressão tupi que significa felicidade, a estante de livros é um cartão de visitas. Entre os títulos sobre direito ambiental, biodiversidade e pedagogia, chama a atenção um de Naomi Klein, a ativista e escritora canadense. Clássico moderno do novo pensamento libertário, No Logo critica o consumismo como o grande demônio do mundo moderno. Uma pista, talvez, sobre as razões que levaram o casal Jorge Saad Jafet e Fernanda Figueiredo, os fundadores da produtora, a trocar carreiras bem-sucedidas como advogados para aventurarem-se pelo universo da educação, cultura e, principalmente, sustentabilidade ambiental. “Acho que percebemos que nossos valores não caminhavam ao lado de nossa ação no trabalho diário. Foi uma transformação interna que cresceu a ponto de ser necessário fazer essa ruptura”, conta Fernanda.
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As origens da AIUÊ remetem ao início dos anos 2000, quando o casal tomou a decisão de seguir novos caminhos, ainda sem saber quais seriam. Também roteirista, Jorge sabia que seu destino estava na escrita e na criação de textos para cinema, sua verdadeira paixão. Fernanda, no entanto, não tinha a menor ideia de qual seria seu rumo. Sua preocupação com a natureza e forte relação com a terra a levaram a Barcelona, na Espanha, onde fez dois mestrados em Educação e Intervenção Ambiental. Foram cinco anos nos quais aprofundou seu conhecimento e definiu a educação e consciência ambiental como diretrizes de seu futuro.
É na Espanha, do encontro com organizações engajadas no conceito de consumo consciente, que surge a primeira versão da AIUÊ, já com o nome, mas como uma empresa de consultoria, divulgação e exportação do artesanato brasileiro. “Eu já tinha grande interesse pelas coisas produzidas no Brasil. Na época, conhecia muitas comunidades de artesãos e havia um movimento muito interessante acontecendo. Havia o interesse deles pela produção brasileira. Pensando nisso, decidi levar o trabalho dessas comunidades para lá e ser a ponte entre elas e tais organizações. Passei a fazer um trabalho de comunicação para divulgar a produção dessas comunidades dentro da ideia de consumo consciente.”
De volta ao Brasil, o casal deu início a seu primeiro projeto audiovisual, registrando o trabalho da instituição de ensino Te-Arte, frequentada por Fernanda na infância. Idealizada pela educadora Therezita Pagani, a escola se notabiliza por seu estilo pedagógico diferenciado e inovador. Enquadrada no que se convencionou chamar escolas-quintal, a Te-Arte estimula a relação da criança com a natureza e busca a valorização de nossa cultura popular. Tais registros renderam o documentário Sementes do Nosso Quintal e despertou o interesse da Unilever, que convidou o casal para realizar os vídeos sobre as escolas vencedoras do projeto “Aqui se aprende pela experiência”. A partir daí, Fernanda e Jorge perceberam que tinham encontrado o caminho e decidiram fundar a segunda versão da AIUÊ, agora definitivamente como uma produtora.
Com pouco mais de dois anos desde sua fundação oficial, a produtora já possui um currículo respeitável. Além das realizações citadas acima, tem uma parceria com o grupo Bandeirantes de Comunicação que rendeu o programa Capital Natural. Exibido semanalmente pela BandNews, produz conteúdo sobre sustentabilidade e empreendedorismo e seus principais desafios e conquistas. O formato é de entrevistas curtas com empresários, formadores de opinião e estudiosos.
Há ainda muitos outros projetos em germinação. O Morro de Boi, Toadas de Bumba-Meu-Boi, sobre a musicalidade da manifestação popular e o Mobilize, sobre mobilidade urbana sustentável são exemplos de alguns deles.
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