Nem parecia que tinha passado duas semanas fora de São Paulo, no auge da temporada de verão. Assim como a vi agitada e colorida antes do Natal, reeencontrei a avenida Paulista no domingo, às dez da noite, com um movimento de carros e de gente nas calçadas como se ninguém tivesse saído daqui.
Lembrei-me das férias de verão dos tempos em que fui correspondente do Jornal do Brasil na Alemanha, no final dos anos 1970. Parava tudo em julho.
Estudantes sem aulas, donos e empregados de lojas e restaurantes em férias coletivas, os carros sumiam das cidades e congestionavam as estradas, como se tudo mundo tivesse saído na mesma hora para os mesmos lugares.
Até as notícias rareavam, para desespero dos correspondentes obrigados a escrever todos os dias, com ou sem verão.
Na Itália, nem os padres resistiam ao calor e sumiam das ruas de Roma(naquele tempo ainda usavam batinas), assim que o Papa deixava o Vaticano para seu retiro de verão.
Programadas sempre com muita antecedência, as férias de verão são uma instituição das famílias na Europa, aonde o sol tem dia certo para aparecer e ir embora, sempre com pressa.
Aqui, não. Ao descer para o litoral entre o Natal e o Ano Novo, um desafio que exige cada vez mais paciência nas nossas estradas cheias de pedágios e carros novos, pode dar a impressão de que todo mundo abandonou São Paulo, mas é um engano.
As ruas podem até ficar desertas por algumas horas ou poucos dias, para as tradicionais fotos da cidade vazia nos jornais, mas os paulistanos, ao menos a grande maioria deles, continuam lá enfurnados em suas casas, comendo o resto dos banquetes das festas ou apenas aproveitando para descansar.
Por boniteza ou precisão, o habitante desta metrópole capaz de provocar tanto amor como ódio, em suas múltiplas caras e facetas, custa a sair daqui e, quando o faz, é por pouco tempo _ como se a ausência prolongada dele fizesse o mundo desandar.
Nós paulistanos adoramos falar mal de São Paulo, mas ficamos bravos quando brasileiros de outros cantos falam das nossas feiuras e manias de grandeza.
Xingamos São Paulo quando estamos aqui e não vemos a hora de chegar o verão para fugir para uma praia bem deserta e distante _ e logo morremos de saudades, e voltamos. Tem explicação isso?
Com o advento da internet, do celular e outras modernidades, tenho certeza de que muitos paulistanos, como eu, poderíamos passar mais algum tempo longe daqui, mas quem aguenta?
Para mim, por exemplo, tanto faz de onde carrego o Balaio, mas se não estou aqui parece que não estou trabalhando direito nem atendendo aos leitores como deveria, como se isso fizesse alguma diferença.
Hoje de manhã, ao calçar sapatos pela primeira vez no ano (sem meias, claro), e vestir uma bermuda urbana (quem olha só a roupa das pessoas nas calçadas pode pensar que continua no litoral), para ir até o Bexiga consertar meus óculos, notei apenas uma sensível melhora no trânsito ( o rodízio de carros voltou nesta segunda-feira), claro, mas também foi só.
O resto estava tudo funcionando como em quer outra época do ano. Lá estava meu amigo Miguelzinho Giannini recebendo com festa seus clientes, passando a todos a felicidade de costume.
A modesta cantina do Bexiga, aonde vou quando estou no bairro, encontrei com todas as mesas ocupadas, assim como os balcões dos botecos do prato feito.
Os corredores do Santa Luzia estavam transitáveis, sem a muvuca da véspera de Natal, mas os velhos donos portugueses do tradicional armazém de secos e molhados lá estavam firmes e fortes, comandando o serviço, de camisa social e gravata.
Em São Paulo, os bares e restaurantes não fecham no verão. Ao contrário: é quando ficam mais lotados nos finais de tarde de muito calor como neste meu primeiro dia de 2009 na cidade. Meus amigos também já voltaram Parece mesmo que esta cidade nunca sai de férias.
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