Paulinho Nogueira, que se estivesse vivo completaria 81 anos neste 8 de outubro de 2010, pode ser definido como uma dessas raras pessoas que pareciam estar à frente do seu tempo. Músico de primeira grandeza, em 1969 – aos 40 anos de idade -, percebera que as seis cordas de um violão não bastavam para traduzir suas melodias e inovou, desenhando um novo instrumento: a craviola, com 12 cordas.
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Também parecia estar à frente do tempo na forma como se relacionava com as pessoas. Os alunos, que frequentavam sua casa em busca de aulas de violão, encontravam lições de vida. Muitos deles, como o cantor e compositor Toquinho, se tornariam grandes amigos do professor.
Na véspera de sua morte, em agosto de 2003 – o músico foi vítima de um ataque cardíaco fulminante – Paulinho, que em termos artísticos estava na vanguarda da música brasileira, na vida pessoal parecia mais ligado ao passado. “Ele pedia arrego. Para ele, o mundo estava rápido demais e acreditava que a relação entre as pessoas já não era mais tão pessoal como sempre construiu”, afirma Maria Elza Mendes Nogueira Carneiro, mais conhecida como Bia, a filha caçula do músico.
Mais do que uma grande obra, Paulinho Nogueira criou um estilo de cultivar amizades. Luca Bulgarini, violonista e cantor, foi aluno e conviveu quase 20 anos com o músico. Até hoje conserva na memória a imagem humilde e carismática do mestre. “Ele sempre vestia calça jeans e uma camisa e recebia as pessoas com muito carinho. Tinha um astral muito positivo”, diz.
Bia, que conseguia ouvir as aulas do pai de qualquer cômodo da casa, se lembra de como ele era um professor dedicado. “Ele ensinava tudo para o aluno. Eu via sua entrega e seu esforço para que cada um desse o máximo de si.” Esse processo de aprendizado e amizade foi traduzido, em 1975, na música Choro Chorado para Paulinho Nogueira, sendo a primeira parte da música de autoria do mestre, a segunda, do aluno Toquinho, e a letra, de Vinicius de Moraes que na época já trabalhava em parceria com Toquinho.
A amizade se estendeu para as famílias, e o escritor João Carlos Pecci – irmão de Toquinho – também foi conquistado pela generosidade de Paulinho. Em 1968, João sofreu um acidente de carro e ficou paraplégico, então, o amigo ia toda semana, junto com a mulher Elza, visitá-lo para cantar e lhe proporcionar alegria. “Quando sofri o acidente, meu irmão Toquinho estava fazendo shows no Rio de Janeiro, acompanhando Nara Leão, e precisou voltar para São Paulo. O Paulinho assumiu o desafio e o substituiu durante uma semana. Não quis receber o cachê no lugar de Toquinho. Sabia que o dinheiro seria usado comigo. Foi um grande amigo”, diz Pecci.
O músico, reconhecido pelos acordes suaves, foi também um grande brasileiro, que acreditava no ser humano e se entregava às amizades. Ou como sua filha prefere definir: “Ele tinha delicadeza de alma e pureza de espírito”.
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