A história começa quando Beto Guimarães e Ângela Soares ganham quatro convites para um festival de jazz e convidam Eni e eu para o show do dia 15 de maio. Logo na chegada, clima de festa com todos, jazzistas, bluezeiros, jazzófilos, os amantes e as amantes do jazz. Presentes: Cuca Teixeira, André Christovam, Adyel Silva, Cristina Campos, Nenê Viana, Fernando Corrêa, Walmir Gil, Chao Pinheiro, Evaldo Guedes, Helton Altman, Carlos Calado. E lá fomos, os dois casais, para a mesa mais a sudeste da sala, a um passo da porta de saída, aquelas coisas de boca-livre. Daquela distância do palco, que me parecia imensa antes do início dos trabalhos, imaginava se o som seria capaz de chegar até nós e nos envolver, repetindo o clima do Kind of Blue. Mas, como dizia o saudoso Mestre Marçal, “quem dorme de favor não estica as pernas”.
A noite começou com um belo duo: Rene Marie, cantora que harmoniza com voz esplêndida, e o meu chapa, o jovem e talentoso trompetista, Jeremy Pelt. Dois solistas natos, uma voz e um instrumento, costurando temas, melodias e apresentando, com Kevin Bales (piano), Rodney Jordan (baixo) e Quentin Baxter (bateria), várias possibilidades de se fazer jazz, com novas cores e temperos. Pitadas de blues, reggae, clima cool e hot jazz, tudo com um sincronismo tal, beirando a intimidade, liberdade e criatividade. Isso é Jazz. Nos brindaram com 1h30 de sons, canções e improvisos primorosos.
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Nesse momento já estava com a sensação de estar no Village Vanguard ou no Blue Note de Nova York, totalmente envolvido pelo som que produziam naquela sala. Mandaram muito bem. Causaram!
Intervalo: cervejas à parte, os amigos fumantes isolados, do lado de fora, passando frio e conversando através do vidro, lendas e folclores do jazz. Uma das histórias contadas foi a de que há 50 anos, quando foi gravado o Kind of Blue, o cachê pago a cada músico, Bill Evans, Paul Chambers, John Coltrane e Cannonball Adderley, teria sido 64 dólares. Exceto Jimmy Cobb, que teria recebido mais por ter levado a bateria. O clima era de relativa apreensão e comparação, pois temos na mente uma mensagem do que é “All Blues”, “Blue in Green” e “So What”. Confiando nas influências e nas conjunções dos astros que estariam em breve no palco, tinha certeza de que seria uma noite premiada. Música não se compara, se ouve.
As luzes se apagaram, todos retornaram aos seus lugares, e soaram os primeiros acordes do sexteto de craques formado por Wallace Roney (trompete), Javon Jackson (sax tenor), Vincent Herring (sax alto), Larry Willis (piano), Buster Williams (baixo acústico) e o grande Jimmy Cobb (bateria). Acendeu-se uma nova chama. Criou-se uma nova digital sobre esses temas. Música na pressão. O som rolou de verdade naquela linda noite de outono. Faz bem para a alma ver e ouvir música pura e simples. Mais uma noite inesquecível. Um concerto? Uma jam? Um conceito: seres que harmonizam e elevam nossas mentes ao “estado Música”, independente de estilos ou modismos, reunidos em um festival de música com nome de pneu em um clube de jazz com nome de banco.
*Arismar do Espírito Santo é nome consagrado no meio musical. Leia mais sobre ele aqui
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