Uma noite para Portinari

Foi aberta ontem, no Memorial da América Latina, a exposição Guerra e Paz de Portinari, que traz pela primeira vez a São Paulo os monumentais painéis, criados por Candido Portinari em 1956, e doados pelo Brasil à ONU, em 1957. O evento abriu as homenagens aos 50 anos da morte do pintor, nascido na pequena Brodósqui, no interior de São Paulo. Proibido de pintar, às vésperas de produzir Guerra e Paz – dois imponentes painéis de 14 m de altura por 10 m de largura -, Portinari morreu em 6 de fevereiro de 1962, envenenado pelas tintas que obsessivamente manipulava.

O cerimonial foi iniciado com o pronunciamento de João Candido Portinari, filho único do pintor, que há mais de 30 anos dirige uma apaixonada equipe de profissionais empenhados em manter viva a memória de Portinari. Trabalho que rendeu o mapeamento e catalogação das mais de cinco mil obras do pintor e a publicação de um catálogo raisonée, a mais completa publicação sobre a obra de um artista, resultado de um trabalho sem parâmetros. Em todo o Hemisfério-Sul, o catálogo raisonée de Portinari é a única publicação dessa natureza.

Durante seu discurso, João Candido enfatizou a emoção em ver a obra exposta no Estado natal do pai e a feliz coincidência de o Memorial, projetado pelo amigo Oscar Niemeyer, acolher os painéis de Portinari, emocionando a todos ao recitar o poema A Mão, de Carlos Drummond de Andrade, dedicado ao pintor. Durante os agradecimentos, mencionou o apoio da revista Brasileiros, em alusão à reportagem publicada em julho de 2011, onde cobrimos os bastidores da mega-operação que trouxe Guerra e Paz de volta ao País e também traçamos um perfil de João Candido e da trajetória do Projeto Portinari (confira essas matérias aqui). Após o pronunciamento, o secretário da Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, fez um breve discurso em nome do governador Geraldo Alckmin, seguido da ministra do desenvolvimento social e combate à fome Tereza Campello, que representou a presidente Dilma Rousseff.

Encerrados os discursos, o maestro Elias Moreira, regendo a Orquestra de Câmara Portinari, especialmente composta para o evento, apresentou a peça Adágio para Cordas, de Samuel Barber. Na sequência, o cantor Milton Nascimento recitou o poema A Guerra e a Paz, de Fernando Brant. Acompanhado do músico Hamilton de Holanda e banda de apoio, Milton apresentou três composições inéditas – uma delas com letra de Fernando Brant, dedicada a Portinari – e outros dois temas instrumentais.

A atriz Beatriz Segall recitou um discurso de 1947, de Portinari, em que o pintor manifesta a importância do engajamento social em suas obras, enquanto imagens dos quase 200 estudos feitos por ele para os painéis foram exibidos nos dois telões instalados no palco. Em um breve documentário, dirigido por Carla Camurati, foram apresentadas imagens de Portinari trabalhando na produção dos painéis e vendo-os expostos pela primeira vez no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1956. Os painéis voltaram ao Municipal do Rio, em dezembro de 2010, e parte do discurso de abertura do então presidente Lula foi reproduzido. Ponto alto do cerimonial de abertura da exposição, a apresentação dos bailarinos Ana Botafogo e Alex Neoral, arrancou aplausos entusiasmados do público que lotou o auditório. Ana e Neoral interpretaram coreografia do americano David Parsons, especialmente composta para o evento, intitulada O Pintor. Os movimentos escritos por Parsons sugeriam imagens impactantes de Portinari, como as Pietàs do painel Guerra.

Encerrado o cerimonial, os convidados seguiram até o Salão de Atos, onde os painéis, obra máxima do artista, permanecerão expostos até 21/4, com visitação gratuita, de terça a domingo, das 9 horas às 18 horas.


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