A noite de premiação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), realizada na terça-feira (29), no SESC Pinheiros, em São Paulo, celebrou aqueles que fazem do ato artístico um campo de resistência à perversa indústria de massa que impera no Brasil e no mundo. Como acontece há exatos 55 anos, o Troféu APCA, escultura criada pelo pernambucano Francisco Brennand, foi entregue aos melhores de 2010 nas áreas de Artes Visuais, Dança, Literatura, Rádio, Música Popular, Música Erudita, Teatro, Teatro Infantil, Televisão e Cinema. Pela primeira vez, os críticos também elegeram o que se fez de melhor na arquitetura.
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Coube aos apresentadores da noite, os atores Dan Stulbach e Irene Ravache (que recebeu o prêmio de melhor atriz em Televisão), chamarem ao palco os vencedores das 11 categorias, incluindo Arquitetura. “Neste ano, colocamos a categoria de Arquitetura por entendermos que ela faz parte da produção cultural”, revelou o presidente da APCA, Aguinaldo Ribeiro da Cunha. A atriz Irene Ravache foi logo avisando aos premiados que os discursos deveriam ser breves, para que todos pudessem falar. Mas não houve jeito, a festa de premiação se estendeu por quase três horas. Não houve longos discursos, mas havia muita gente para receber os prêmios (em cada categoria, são entregues sete troféus).
Alguns artistas não esconderam a emoção e a satisfação em receber, segundo eles, um dos prêmios culturais de maior prestígio no País. Entre eles, o jornalista Juca Kfouri (leia entrevista abaixo), que recebeu o Grande Prêmio da Crítica, na área do Rádio, pelos 10 anos em defesa da ética no esporte, no programa CBN Esporte Clube. “É muito gratificante receber um prêmio com esse prestígio. E mais importante ainda, por saber que quem dá o prêmio não quer aparecer mais do que o premiado”, disse Juca.
Do rádio para a música, quem estava visivelmente emocionada era a cantora Teresa Cristina, escolhida como melhor cantora na área da Música Popular. Ela mal pegou o microfone e foi logo perguntando aos apresentadores se seu tempo já tinha acabado. A plateia riu e bateu palmas. Mas, apesar do nervosismo e emoção, Teresa conseguiu agradecer aos críticos que a elegeram e ao público presente. No final da premiação, mais calma, a cantora revelou para a Brasileiros que a emoção e o nervosismo no palco eram frutos da sua alegria em receber o prêmio pelo CD e DVD Melhor Assim, lançados no ano passado. “Eu já tinha ganhado outro APCA e não pude comparecer. Mas nesse ano, fiz questão de comparecer, pois esse prêmio muito representa para minha carreira e ganhá-lo por esse trabalho é ainda mais gratificante”.
Presenças e ausências
Entre os vários artistas presentes, cabe destacar o ator Wagner Moura, que venceu na área de Cinema, na categoria de Melhor Ator, pelo filme Tropa de Elite 2. Mesmo com os muitos compromissos, ele fez questão de comparecer à cerimônia de premiação. “Eu gostaria de agradecer aos membros da APCA e ao SESC Pinheiros e falar que aprendi muito com o diretor José Padilha nesses dois filmes”, falou. Martinho da Vila, Melhor Cantor de Música Popular, foi outro artista presente bastante assediado e aplaudido. “Eu quero, antes de mais nada, louvar a existência do Noel Rosa, pois se ele não tivesse existido, eu não poderia ter ganhado esse prêmio, cantando músicas que ele compôs”, disse, com seu já conhecido humor. Entre as ausências sentidas, estavam a da poetisa Adélia Prado, que venceu na área de Literatura pelo livro A Duração do Dia (Editora Record, a de Ana Paula Arósio, escolhida Melhor Atriz de Cinema pelo filme Como Esquecer, de Malu Martinho e do ator Murilo Benício, que venceu na área de Televisão, pelo papel de Victor Valentim na novela Ti ti ti, da Rede Globo.
Papo com Juca Kfouri
Brasileiros – Em primeiro lugar, gostaria que falasse da importância desse prêmio APCA para você.
Juca Kfouri – É um dos poucos prêmios que a gente tem gosto de receber. É daqueles prêmios que realmente tem prestígio, tem credibilidade e quem dá o prêmio não se faz de mais importante que o premiado. Porque, muito frequentemente, esses prêmios enchem mais a bola de quem dá do que quem recebe (risos). Então, é um dos poucos que eu venho buscar, porque, via de regra, não vou buscar mesmo.
Brasileiros – O que você acha dos novos apresentadores e jornalistas esportivos, com seus estilos informais?
J.K. – Veja bem, a informalidade eu gosto. O que não gosto é de dizerem que no esporte não cabe o jornalismo, só cabe o entretenimento. Acho que você pode fazer jornalismo esportivo sério, profundo, crítico e tudo isso com bom humor. Agora, essa coisa de dizerem: “No esporte é só entretenimento”, aí não me convence, pelo contrário.
Brasileiros – Isso tem a ver com profissionais que atuam na área esportiva e não são jornalistas de profissão. Aliado a isso, tem o problema da falta de senso crítico de parte desses profissionais.
J.K. – Não é por aí. Não acho que seja por causa dessa questão. Veja o caso, por exemplo, do ex-jogador Tostão, que é extremamente crítico e não é jornalista. O Casagrande é um cara capaz de ser crítico, quando deixam. O problema é a confusão entre você ter direitos de transmissão e ser sócio de quem tiver esses direitos. O sujeito acaba, por ser sócio, com seu senso crítico.
Brasileiros – Em uma entrevista com Dunga, na época técnico da seleção brasileira, fiz uma pergunta que ele não gostou. A pergunta foi: “Por que alguns jogadores de futebol não dão bons exemplos, como em outras modalidades do esporte?”. Ele achou a pergunta preconceituosa, por falar de uma modalidade de esporte na qual a maioria é pobre, como é o caso do futebol. Eu argumentei que no atletismo a maioria dos praticantes também é pobre, mas, mesmo assim, os atletas dão melhor exemplo do que no futebol.
J.K. – Eu acho que não é por aí. O futebol tem bons e maus exemplos, como em outro esporte qualquer. No caso do atletismo que você citou, há exemplos péssimos de maus atletas, haja vista a quantidade de doping. Ou seja, bons e maus exemplos se dividem igualmente em todas as modalidades de esporte.
Brasileiros – Por que vocês que cobrem o futebol não são mais duros com esses maus exemplos?
J.K. – Eu bato tanto que já tenho mais de cem processos por isso. Temos alguns programas e jornais que são bons exemplos de jornalismo esportivo crítico, com é o caso da Folha de S. Paulo. Você não pode tratar a imprensa esportiva como uma coisa homogênea. Há imprensas e imprensas.
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