Uma tarde no Senado: dois dedos de prosa com Sarney e Mercadante

Como tinha um tempo livre no meio da tarde de quinta-feira em Brasília, onde fui participar de uma reunião de trabalho da Comissão do Araguaia, aproveitei para dar uma passada no Senado e saber como andavam as coisas por lá.

Logo na entrada, encontrei com a velha e bela amiga Ana Maria Leopoldo e Silva, minha ex-colega de redação, agora assessora de imprensa de José Sarney. Logo em seguida, chegou o presidente do Senado, que me pegou pelo braço e fomos conversando até o elevador.

Parecia mais leve e tranquilo, sem aqueles olhos fundos e a voz trêmula dos infindáveis meses de crise.

Falamos de Luiz Vieira, o grande compositor e cantor maranhense, por quem ambos temos muita admiração. A conversa entrou pelo elevador e, quando já íamos nos despedir, perguntei como ele tinha conseguido sobreviver às denúncias e aos duros ataques diários que sofreu nos últimos meses na imprensa e no plenário do Senado.

Abriu um sorriso como quem diz que vida de político é assim mesmo e me confidenciou que o pior de tudo foi que desta vez quase toda sua família foi envolvida no embate político.

“Foi por causa deles que resolvi resistir e ir até o fim. Agora já está tudo melhor, o pior passou”.

Sarney seguiu para seu gabinete e na direção oposta caminhava o senador Aloízio Mercadante (PT-SP), outro personagem que vinha apanhando como cachorro magro nas últimas semanas – por razões exatamente opostas.

Mercadante defendeu o afastamento de Sarney, ameaçou renunciar à liderança do PT no Senado, depois voltou atrás, e agora também parece ter superado os momentos difíceis.

Os dois bigodes não se encontraram. Foi apenas uma coincidência cruzar com os protagonistas da guerra parlamentar na minha breve visita ao Senado, onde não ia havia muito tempo. Incrível como em apenas duas semanas o clima havia mudado, o ar parecia mais leve naqueles longos corredores sem janelas.
Falante e empolgado como de costume, Mercadante me levou para seu gabinete junto com Ricardo Amaral, um dos mais bem informados e respeitados jornalistas de Brasília.

Nenhuma palavra sobre Sarney e a crise. Meu velho amigo Aloízio, parceiro nas viagens das campanhas de Lula, virou o disco depois daquela conversa que teve com o presidente em que foi convencido a desistir da renúncia irrevogável.

Agora só fala das suas novas bandeiras: defesa intransigente da liberdade de expressão na internet, antes durante e depois das campanhas eleitorais, e dos projetos do pré-sal enviados pelo governo ao Congresso.
Mercadante falou tanto das possibilidade que se abrem para o Brasil com o pré-sal e dos interesses nacionais e estrangeiros que estão em jogo, citando dados e números, mostrando livros e relatórios, que achei melhor ele mesmo escrever um texto para o Balaio. Não gosto de escrever sobre assuntos polêmicos que não domino – e este é um deles. Assim que ele me mandar, publico.

Posso estar enganado, mas saí do Senado com a impressão de que ali a vida está voltando ao normal. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos.


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