Alberto Villas virou um salva-palavras, um especialista em resgates. Em seus livros, o jornalista busca trazer à luz expressões, pérolas do idioma português, comportamentos que viraram pó ou sequer existiram para a urgência que move a geração Y. As pesquisas sempre são riquíssimas, e muito se deve a impressionante coleção de livros, discos e revistas que o escritor mantém em casa, em São Paulo. Mais um título sai do forno desse memorialista – extremamente moderno como editor, diga-se: Pequeno Dicionário da Língua Morta, que ele lança na próxima segunda. Villas falou à Brasileiros.
Brasileiros – Por que resgatar o passado?
Alberto Villas – Porque já percebi que funciono como um retrovisor. Olhando para a frente, mas sempre de olho no que está atrás. Adoro as revistas de hoje, mas vira-e-mexe vou lá nos meus arquivos e pego uma revista dos anos 70 pra folhear. Foi assim que outro dia li numa Enciclopédia Bloch, a Superinteressante dos anos 60/70 que o último elefante do planeta Terra morreria em janeiro de 2000. É muito divertido ler as cartas dos leitores da Rolling Stone brasileira que foi editada no Brasil durante o ano de 1972. Como a juventude era chapada…
Brasileiros – Por que resgatar o passado na literatura?
AV – Resgato na literatura para ficar para sempre. Se ninguém recuperar essas coisas elas vão – literalmente – morrer, sumir do mapa. Os livros pelo menos não vão morrer tão cedo. Essa semana soube que vão editar o meu livro Admirável Mundo Velho em e-book. Estou salvo!
Brasileiros – Quanto tempo você leva para realizar a pesquisa? Tem ajuda?
AV – Esse último levei dois anos. Procurando em livros, revistas, jornais, em conversas com mais velhos. No caso do Dicionário vivia consultando minhas filhas. Se elas nunca tinham ouvido falar, ia pro dicionário. Vocês já ouviram falar em macaca de auditório? Como nenhuma das duas tinham ouvido falar, foi pro Dicionário a palavra que hoje significa fã.
Brasileiros – A Internet prejudicou a pesquisa, a curiosidade, o mergulho intelectual ou ela veio para manter o passado vivo?
AV – A Internet é um maravilhoso balaio de gatos. Ajuda e às vezes atrapalha. Você procura por Turma da Mônica e acha ali bem pertinho a Monica Lewinsky.
Brasileiros – A língua portuguesa é considerada muito difícil por estrangeiros. O seu trabalho de alguma maneira a aproxima do homem comum?
AV – Sim, meus textos são extremante coloquiais. Fiz um dicionário com verbetes que são minicrônicas, historinhas saborosas pra todos os públicos.
Brasileiros – Por que as pessoas abandonam palavras e expressões no caminho?
AV – Porque o Brasil adora uma moda. E muitas palavras viram moda. Será que em 2050 alguém vai saber o que quer dizer “a chapa tá quente”? Tem palavras que conheceram apenas os 15 minutos de fama. Compact-disc, por exemplo. Virou CD na semana seguinte.
Brasileiros – Acredita que a tendência é absorver cada vez mais palavras e expressões estrangeiras?
AV – Sim. O Brasil vai voltar americanizado. A minha neta tinha dois anos quando virou pra mim e disse: aperta o play, vovô…
Brasileiros – Que expressões você acha lamentável termos deixado para trás?
AV – Tem palavras que adoro. Cosmonauta, por exemplo. Acho uma pena computador não ser chamado até hoje de cérebro eletrônico. O meu pai vivia dizendo que tal coisa é um colosso. Colosso sumiu.
Brasileiros – Escrever hoje é mais simples, complicado, objetivo ou abusamos de metáforas e duplos sentidos?
AV – Acho que a Internet colocou todo mundo dando opinião e escrevendo. Nunca se escreveu tanto no mundo. Minha mãe vivia dizendo: Responde a carta da sua madrinha! E eu morrendo de preguiça. Hoje os adolescentes escrevem sem parar.
Brasileiros – Qual a palavra ainda viva mais linda? E a mais feia?
AV – Pra mim a palavra mais linda é saudade, e que só existe em português. A mais feia? Urinol! Ainda bem que sumiu do mapa. Ficou penico que não é bonita mas é melhor que urinol.
SERVIÇO
O que: Pequeno Dicionário da Língua Morta (Ed. Globo, 304 páginas)
Onde:Livraria Cultura Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2073, São Paulo, tel.: 11.3180.4033)
Quando: Segunda feira, 2 de abril, às 19h
Quanto: R$ 40
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