As ruas do centro da cidade de São Paulo começaram a ganhar um novo cenário a partir de hoje, 16. Dependentes de crack que participam do Programa de Braços Abertos da prefeitura começaram o trabalho de limpeza de ruas, calçadas e praças na região central da cidade. Ontem, como parte das ações do programa, os usuários foram removidos da favela montada na região da Cracolândia e encaminhados para hotéis próximos. Hoje já pela manhã, a Alameda Dino Bueno, onde estava instalada a favela, não tinha mais barracos. No entanto, alguns permaneciam montados em ruas próximas e usuários ainda perambulavam pelas imediações.
Os dependentes que aceitaram participar do programa se reuniram nesta manhã em uma tenda montada na Rua Helvétia. Lá receberam as orientações sobre o novo trabalho, que consiste na varrição e limpeza das ruas centrais. Mais de 80 participantes formaram filas para o trabalho. Rogério Araújo Nascimento era um deles. Em entrevista a Agência Brasil, ele afirmou que acredita que vai conseguir desempenhar bem o serviço: “Eu já fazia reciclagem, já trabalhava 24 horas na rua. Foi bom [no hotel]. Dormi ontem a tarde inteira”.
Essa é a segunda vez que Rogério tenta abandonar o crack, antes não deu certo porque ele “desanimou”. Ele contou que as más influências de amizades o levaram à droga. Rogério disse que o cheiro do crack na região da cracolândia atrapalha a recuperação, mas ver que todos estão juntos tentando abandonar a droga o motiva. “E trabalhar vai distrair a mente”, acrescentou.
O serviço de limpeza tem duração de quatro horas diárias. Cada usuário vai receber bolsa de um salário mínimo e meio, o que inclui os gastos com alimentação, hospedagem, além do pagamento de R$ 15 por dia de trabalho. O pagamento, segundo o prefeito Fernando Haddad, que esteve no local e conversou com alguns dependentes, vai ser feito semanalmente. “O trabalho é para que eles tenham uma renda mínima para comprar um sapato, uma meia, uma pasta de dente, cortar o cabelo, uma coisa mínima a que todo ser humano tem direito”, disse ele.
Haddad declarou que as ações da prefeitura já mudaram a cracolândia. “Em dois dias, nós conseguimos mudar a cara da região e integrá-los [os dependentes] numa frente de trabalho, com tratamento médico.”
Em entrevista à rádio CBN, o psiquiatra e coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Dartiu Xavier da Silveira, elogiou a iniciativa do programa e afirmou que é inusitado no sentido de políticas públicas no Brasil e que já comprovou sua eficácia em outros cidades dos Estados Unidos, Canadá e Europa. “As medidas tratadas anteriormente eram repressivas e coercitivas e por isso foram chamadas de higienistas. As pessoas queriam se livrar de um problema. Agora não, essa proposta está muito mais sintonizada com respeito aos direitos humanos e o que estão querendo é recuperar essa população que está em uma situação de exclusão social absurda”, afirmou.
Com informações da agências de notícia
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