Antes de Nelson, sua família não tinha qualquer ligação com automobilismo. Seu pai, Estácio Souto Maior, era médico, chegou a ser ministro da Saúde no governo de João Goulart e foi um dos primeiros cassados pela ditadura em 1964. Nelson nunca ligou para política. Descobriu o automobilismo e, determinado, tornou-se campeão brasileiro de Fórmula VW 1600 (1976) e campeão inglês de Fórmula 3 (1978), além dos três títulos de Fórmula 1 (1981, 1983 e 1987).
Piquet correu na F1 entre 1978 e 1991. Em 1992, pretendia disputar a 500 Milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos. Mas um grave acidente nos treinos resultou em fraturas múltiplas nos pés e nas pernas. Daí em diante, considerou sua carreira de piloto profissional encerrada e passou a se dedicar à implantação da Autotrac, empresa de telecomunicações com foco em transportes e logística fundada em 1993. Mas, muito por prazer e um pouco por dinheiro, continuou participando de corridas de diversas categorias até 2006, ano em que venceu a Mil Milhas Brasil dividindo a condução de um Aston Martin com o filho Nelsinho, com outro brasileiro, Hélio Castro Neves (três vezes vencedor da 500 Milhas de Indianápolis) e o francês Christophe Bouchut. Nos últimos anos, Piquet vem participando de ralis de carros antigos e históricos, nos quais tem sua mulher, Viviane Leão, como navegadora. “É uma diversão”, garante. “Hoje, não tenho mais prazer nenhum em pilotar. Nem sei como consegui fazer isso durante tanto tempo…”, afirma.
Mas a paixão que teve pelo automobilismo dificilmente deixaria de ser transmitida para os filhos. O primogênito, Geraldo Piquet, nascido em 1977 do casamento de Piquet com Maria Clara Vassalo, iniciou a carreira no kart quando seu pai já era tricampeão mundial. Seus maiores sucessos aconteceram nas corridas de caminhão: entre 2003 e 2014, venceu dez corridas de Fórmula Truck. De sua geração, há outro Piquet correndo: seu primo Rodrigo, nascido quatro anos antes e filho de Geraldo, irmão mais velho de Nelson. Rodrigo é um dos kartistas brasileiros mais bem-sucedidos e já fez parceria com o tio em corridas de longa duração.
Com a modelo holandesa Sylvia Tamsma, Piquet teve Nelsinho (nascido em 25 de julho de 1985 em Heidelberg, na Alemanha), Kelly (também nascida na Alemanha, em 7 de dezembro de 1988) e Julia (nascida na França em 8 de maio de 1992, um dia depois de seu pai sofrer o acidente em Indianápolis). Nelsinho começou a correr aos 8 anos e conquistou títulos no kart e na Fórmula 3 antes de estrear na Fórmula 1, onde correu em 2008 e 2009. Depois, correu durante quatro anos nos campeonatos da Nascar, nos Estados Unidos. Desde 2014, dedica-se à Fórmula E, categoria de carros elétricos da qual foi o primeiro campeão (leia em Brasileiros número 96), e ao Rally Cross.
Quando criança, Kelly Piquet chegou a treinar de kart. Desistiu após sofrer um acidente, ainda que as consequências não tenham sido maiores que um susto. Formou-se em Relações Internacionais e Economia, mas seu trabalho atual é na Fórmula E. Kelly cuida das mídias sociais, do site e do blog oficiais da categoria, além de atuar como relações públicas com os patrocinadores. O emprego surgiu quase por acaso: ela acompanhava Nelsinho nas corridas da Fórmula E e o convívio com os responsáveis pela área de comunicação levou ao convite para trabalhar na própria categoria.
Julia, formada em Economia, mora nos Estados Unidos e pretende fazer mestrado no próximo ano. Mas a velocidade e os automóveis estão no sangue. Recentemente, ela e seu namorado fizeram uma viagem pelo país, indo de Miami a São Francisco a bordo de um Porsche 911 GT3, um dos carros esporte mais rápidos do mundo.
Laszlo, filho de Piquet com a belga Catherine Valentin, nasceu em Mônaco em 21 de agosto de 1988. Formado em Publicidade, mora em Brasília há seis anos. Experimentou o kart antes de passar definitivamente para as corridas de Supermoto, uma modalidade na qual motocicletas de cross recebem pneus slick e são adaptadas para correr no asfalto. Tem um vice-campeonato brasileiro e já fez viagens de moto com o pai.
Os dois filhos mais novos de Piquet são do atual casamento, com Viviane Leão. Pedro, de 16 anos (3 de julho de 1999), já tem dois títulos brasileiros de Fórmula 3 (2014 e 2015, ambos conquistados por antecipação) e em 2016 vai correr no campeonato europeu da categoria. Para ganhar mais experiência, disputou neste ano corridas da Porsche Cup no Brasil e na Europa. Em uma etapa realizada em Goiânia, Pedro venceu a primeira corrida da programação. Na segunda, levou um toque involuntário de outro piloto. O Porsche saiu para a área de escape e capotou nove vezes até parar, completamente destruído. Apesar da violência do acidente, Pedro sofreu apenas escoriações e ficou com o rosto inchado. Passou uma noite no hospital e foi liberado no dia seguinte.
Nelson, presente ao autódromo, acompanhou o acidente e o resgate médico dos destroços do Porsche. Depois desse susto, torna-se perfeitamente explicável a resposta dada tempos atrás, quando perguntado sobre o início de carreira do caçula Marco, de 15 anos: “Esse não quer correr de nada, não é o negócio dele. Fico aliviado com isso, é um que não vai me fazer sofrer!”, conta. A expressão de alívio, entretanto, não disfarça a satisfação de ver seus filhos crescendo e conquistando vitórias e títulos. O sobrenome Piquet ainda vai ser notícia durante muitos anos nas pistas.
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