A felicidade de Antônio Fagundes é aparente e tem motivo. Em Vermelho, peça que estará em cartaz em São Paulo até o mês de julho, ele encena ao lado de pessoas próximas e queridas. Do lado direito, um amigo de mais de 30 anos. “Já deixamos de contar para não dar bandeira”, ele diz, referindo-se ao diretor teatral Jorge Takla. Do lado esquerdo, o filho mais novo, o ator Bruno Fagundes, 22 anos, com quem divide o palco pela primeira vez.
Ambientada em um estúdio na cidade de Nova York no final da década de 1950, a peça escrita pelo norte-americano John Logan trata da relação de poder, amor à arte, amizade e competição entre o pintor expressionista Mark Rothko (1903-1970), russo de nascimento e naturalizado americano, e seu assistente, em um momento particularmente crítico na vida (real) do artista. Rothko é interpretado por Antônio Fagundes. Ken, o assistente fictício, é vivido por Bruno. São os dois em cena o tempo todo.
“A gente se identificou com muitas colocações do texto, com crises e problemas que o autor levanta. Qualquer pessoa que tenha um contato mínimo com arte e cultura vai se identificar com esse texto – ele levanta questões primordiais e de forma apaixonada, emocionada, inteira e cheia de humanidade”, disse Fagundes.
Ator com mais de 40 anos de tablado, ele já encarou William Shakespeare, Bertolt Brecht, Dario Fo, David Mamet, Chico de Assis, Edmond Rostand, Roland Barthes e Gianfrancesco Guarnieri. Também já foi dirigido por figuras importantes do teatro brasileiro, como Bibi Ferreira, Gerald Thomas, Ulysses Cruz, Augusto Boal e Flávio Rangel. Mas, para ele, toda peça é um recomeço e Vermelho tem lhe dado um aprendizado particularmente intenso, o que foi confirmado por Jorge Takla. “É muito estimulante trabalhar com atores que pesquisam tanto.”
Livros, exposições, vídeos, filmes, internet, todo um arsenal de conhecimento foi acionado por Fagundes e Bruno e, assim, refazer a linha evolutiva da arte moderna no século 20 e o contexto histórico do trabalho de Rothko, tanto para envolver o público visual e dramaturgicamente quanto para entender melhor a personalidade forte e atormentada do pintor (que o levaria ao suicídio em 1970, aos 66 anos). “É um personagem magistral porque é completo. Ele permite uma composição, tem um sarcasmo extraordinário e é muito engraçado”, afirma Fagundes, que está com o cabelo bem curto, quase careca, e sem barba para viver o personagem.
É no conflito geracional entre Rothko e seu assistente, o incansável duelo entre o velho e o novo, que reside um dos pontos altos de Vermelho. Porém, Fagundes faz uma importante ressalva. “Tem uma frase que adoro, que ouvi de um livreiro: ‘Você já leu Dostoiévski? Não? Então, é novo!’ Novo é tudo aquilo que você não sabe, tudo o que não aprendeu. Tudo é novo, desde que você não conheça, e tudo é fácil, desde que você saiba a resposta.” Antônio Fagundes continua procurando respostas.
SERVIÇO
Vermelho Teatro GEO. Rua Coropés, 88, 3728-4930, Pinheiros (no prédio que abriga o Instituto Tomie Ohtake). Quinta e sábado, às 21h. Sexta, às 21h30. Domingos, às 18h.
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