Os jornalistas empurravam-se pra garantir um lugar na extensa mesa de madeira, que provavelmente comporta mais de 40 pessoas, aguardando a chegada de um elegantíssimo senhor, impecavelmente vestido em seu terno creme, gravata amarela, camisa branca, colete de lã verde-água, com um chapéu com laço preto no entorno. [nggallery id=14632] Gay Talese, 77, que veio pela primeira vez à Flip e ao Brasil para lançar seu último livro, Vida de Escritor, entrou pela sala sorrindo e, pacientemente, posou para as inúmeras lentes – inclusive a deste repórter – soando agradável, confortável, entonando sutis “Good Morning” aos jornalistas ávidos por perguntas. Porém, se os repórteres esperavam respostas diretas de um dos fundadores do new journalism – estilo jornalístico marcado pelas imbricações com estruturas literárias – ao lado de Truman Capote, Norman Mailer e Tom Wolfe – e autor do perfil que consagrou o gênero – “Frank Sinatra está resfriado” -, Gay Talese não se preocupou ao alongar-se em suas respostas, através de crônicas autobiográficas nas quais expôs as preferências enquanto profissional e algumas de suas predileções no fazer-jornalístico.LEIA TAMBÉM:
Era uma vez…
O amigo do rei
Manhã de Flip bem-humorada
Sermões de Richard Dawkins
O velho e a literatura
Flores de plástico e amores expressos
Um divã para a China
A comédia da vida privada
A voz e o dono da voz
Cinema comercial
Escutando Alex Ross
Dicotomias
Relatos ficcionais
Weekend à francesa
O (re)contador de histórias
Que homem é aquele que faz sombra no mar?
O último poema“You have to be there” (Você tem de estar lá), assinalou Gay, respondendo ao repórter que lhe questionou sobre quais as motivações para suas reportagens de fôlego, confessando que o jornalista deve, acima de tudo, ir ao encontro daquilo que quer transformar em notícia. No entanto, o tom literário adquirido em suas obras nada tem a ver com uma narrativa ficcional, mas com um prazer estético fornecido aos leitores a partir da não-ficção, da experiência que emana das vidas e que se transforma em narrativa. Os personagens são pessoas, as histórias são fatos baseadas no real: a diferença está no modo como é escrito. Talese elabora suas obras frisando que um dia poderão ser úteis a alguém e, de certa forma, ajudarão a compor parte da história.Assim, ao longo de três respostas longas, Gay Talese fez mais do que explanar a respeito dos questionamentos. Apresentou, sem ter que dizer, o triunfo de um jornalismo que não se submete às estruturas rígidas e formais para narrar as notícias, mas que se vincula à beleza das palavras e do bem-dizer para ampliar a capacidade que possui de transformar o cotidiano. Hoje a festa começou cedo na tenda da Flipinha. Marina Colasante, que já escreveu mais de 40 livros infanto-juvenis, participou da Ciranda dos autores na companhia de Nilma Lacerda e Nina Silva. Os mochileiros começam a chegar em Paraty. Além dos turistas que vêm à cidade histórica acompanhar a Flip, um número imenso de jovens estrangeiros circula aos pelas ruas de pedra. Se você não vai à Flip, a Flip vai até você: mesmo em um simples passeio descompromissado por Paraty, as “flipetes” vêm te declarar uma poesia.
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