Vidas no Rio de Janeiro

Queridos, acompanhei pela televisão as ações militares nas favelas cariocas, durante todo o final de semana. Aqui em Petrópolis, os dias foram impecáveis, sol quente, nenhuma nuvem no céu, muito mais tranquilo do que o normal. Poucos cariocas vieram, por puro medo de sair às ruas. Acabei de lei o livro de memórias do Ricardo Amaral, Vaudeville, divertidíssimo, conta não só a vida do autor, mas também um pouco da história do próprio Rio de Janeiro, da década de 1960, até poucos anos atrás. As favelas já estavam lá, sempre estiveram, mas o clima da cidade era outro, mais samba e boemia, menos violência, a cidade parecia mais inocente. O autor entrega muita gente nas séries “quem comeu quem”, quem “causou”, e quem “causou e deu detalhe”, para usar gírias atuais. O aditivo da noite era basicamente o álcool. A droga estava aqui ou ali, mas não marcava a época. Lógico que Amaral só nos conta o que quer, e que ele circulava somente pela zona sul, só fala de escolas de samba quando essas caíram na mídia, e ele inaugurou a era dos grandes camarotes, patrocinados pelas marcas de cerveja. Achei interessantíssimo ele contar como Búzios entrou para o circuito dos balneários finos, depois da histórica visita de Brigitte Bardot, e como foi tomada pela cocaína pouco depois, tornando-se insuportável para quem não mergulhava o nariz no pó.

Ontem, também, o jornal O Globo deu duas páginas inteiras a outra autobiografia: a do músico Lobão, 50 anos a mil, que mostra um Rio de Janeiro completamente diferente, e nada inocente. Afinal, ele foi cheirar cocaína dentro da favela, com seus amigos traficantes,  chegou a se meter em tiroteio, mas atirando contra a Polícia! Prato cheio para o Capitão Nascimento, mas é outro lado da história. Lobão foi preso por uso de maconha, e não sei se realmente foi a vítima do sistema que ele tão enfaticamente nos quer fazer crer, mas ainda não li o livro. Tem uma passagem, dentro da cela da prisão, onde ele diz ter convencido os outros presos a trocarem a cocaína, cheirada livremente lá dentro, por Rivotril, para todo mundo poder dormir. Achei o máximo. Ele diz ter sido assediado sexualmente pela própria mãe, embriagada, e os relatos familiares são puro Nelson Rodrigues, o que ele mesmo reconhece. Essa biografia parece ser mais interessante que a de Ricardo Amaral. São duas vidas completamente diferentes, uma com muito Champagne Dom Perignon, outra com muita cocaína. Estou louco para ler. Depois conto o que achei. Abraços do Cavalcanti.


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