Violência ou proteção?

TIRO AO ALVO Armamento tem se mantido em evidência no debate desde o atentado em Orlando. Membro do Pink Pistols usa camiseta da banda Twisted Sister, com o título da música We’re not Gonna Take it (Nós não vamos aguentar isso, em tradução livre) - Foto: Jim Urquhart/Reuters
TIRO AO ALVO
Armamento tem se mantido em evidência no debate desde o atentado em Orlando. Membro do Pink Pistols usa camiseta da banda Twisted Sister, com o título da música We’re not Gonna Take it (Nós não vamos aguentar isso, em tradução livre) – Foto: Jim Urquhart/Reuters

Sob o slogan “Implique com alguém de seu próprio calibre”, grupos de homens e mulheres se reúnem ao menos uma vez por mês em campos de tiro por mais de 40 cidades dos Estados Unidos. A ideia é treinar e iniciar novatos. Os experientes também auxiliam na escolha da arma e na aquisição da permissão legal para portá-la. Esse é o Pink Pistols, ou Pistolas Rosas, em tradução livre, o maior grupo de armas LGBT do país.

O número de participantes dobrou desde junho, chegando a sete mil, segundo Matt Schlentz, presidente da unidade de Salt Lake City. O aumento ocorreu após o ataque à boate Pulse, em Orlando, que deixou 50 mortos, incluindo o atirador. Com a tragédia, duas culturas até então tidas como díspares foram unidas: a do movimento LGBT e a das armas. Só a página do grupo no Facebook saltou de 1.500 para mais de oito mil seguidores.

“Não aceitamos mais que os que odeiam e temem gays, lésbicas, bis e trans nos usem como alvos para sua raiva. Temos direito à autodefesa”, diz um dos textos do site. “Quanto mais pessoas souberem que membros da nossa comunidade podem estar arma- dos, menor a chance de nos atacarem. Junte-se a nós hoje.”

O Pink Pistols foi fundado em 2000 como resposta ao brutal assassinato de Matthew Shepard, homossexual de 21 anos morto e torturado em 1998. A ideia do grupo seria mudar a imagem que supostamente se faz da comunidade LGBT como alvo frágil e indefeso diante de um ataque.

Para Schlentz, massacres como o de Orlando não seriam evitados com legislação mais rigorosa no controle de armas: “Por definição, criminosos não seguem leis. As mais rigorosas só tiram direitos dos que as seguem, cidadãos que querem proteger a si mesmos e outros da nossa comunidade”.

Schlentz é body piercer e sabe atirar desde os 3 anos. “Meu pai sempre me ensinou a lidar com armas com responsabilidade e segurança. Se eu quisesse ver ou pegar em uma arma, era só pedir. Não precisava fazer nada escondido.” No entanto, ele afirma jamais ter usado sua arma contra alguém. “Espero nunca ter de usá-la. Mas me preparo para o pior.”

É também o que diz a presidente nacional do Pink Pistols, Gwenn Patton, que é contra o aumento no controle na venda de armas. “Até agora nunca precisei atirar em ninguém, mas decidi há muito tempo que, se for para defender minha vida, não terei dúvidas.” Patton considera o ataque em Orlando uma espécie de 11 de Setembro. No dia seguinte à tragédia, escreveu em sua página de Facebook que aquele ataque é o que justifica a existência do Pink Pistols.

“Essa história de que conservadores odeiam gays é mentira. Não se pode fazer essa generalização. Claro que existem homofóbicos, mas há liberais que tentam retirar ou restringir meu direito ao porte de armas. Não quero ninguém mexendo com meus direitos”, afirma Schlentz.

A posição do Pink Pistols gera discórdia entre a comunidade LGBT.

Carlos Magno, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), é contra o porte indiscriminado. “Eu me preocupo com o discurso de combater a homofobia por meio da violência. É necessário que o Estado assuma esse problema. Não é papel só da sociedade civil e do segmento LGBT enfrentar a questão, senão cor- remos o risco de fazer justiça com as próprias mãos. Sou a favor do desarmamento. É importante que existam leis que penalizem a LGBTfobia, mas a luta contra o preconceito e o ódio deve ser com educação e informação.”

Jorge Gutierrez, diretor do Família: Trans Queer Liberation Movement, é outro que se coloca contra a ideia de se armar. Para ele, que nasceu no México e vive nos EUA, o episódio de Orlando foi um ataque à comunidade LGBT latina e negra. “Mais da meta- de das vítimas era porto-riquenha, as outras eram do México e de El Salvador. Organizações LGBT lideradas por brancos pressionam por reformas na política de armas. Não entenderam o que de fato aconteceu em Orlando e pressionam por uma legislação que vai criminalizar pessoas LGBT especialmente negras. Sabemos que nossas necessidades não estão sendo contempladas nessas conversas. Uma nova política é parte da equação, não podemos falar nisso sem relacionar a questão à supremacia branca, à brutalidade policial e ao racismo. Precisamos cortar instituições violentas porque são responsáveis por assassinatos diários de negros e pardos.”

CONTEÚDO!Brasileiros 

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