Vitória! Justiça é feita após 15 anos

É sempre uma grande satisfação receber notícias boas, até porque são raras, trazendo uma história vitoriosa de final feliz, ainda mais quando na origem está o drama que abalou uma família inteira e deixou graves sequelas.

Todos sabemos que os crimes causados por acidentes de trânsito costumam ficar impunes em nosso país. Por isso, foi com surpresa que recebi no sábado à noite a mensagem do meu querido amigo Ricardo Viveiros, jornalista e escritor dos melhores, ex-repórter da TV Globo e hoje dono de uma empresa de comunicação, informando os amigos que, finalmente, foi condenado o homem responsável pela morte do seu filho mais velho e de uma neta, longos 15 anos atrás.

“Queridos amigos, boa noite!

Em razão da nossa amizade, do carinho e respeito que nos une, tomo a liberdade de compartilhar a carta abaixo.

Um beijo do amigo

Ricardo”

Véspera de mais um Dia dos Pais sem Ricardo Filho e a neta Masriana, imagino o que o xará deve ter sentido ao ser informado pelo advogado Maurício Zanóide, dedicado profissdional responsável pelo caso este tempo todo, que finalmente o culpado pelas mortes não só foi encontrado como processado e condenado a um ano e quatro meses de prisão.

“Não fiz isso movido por qualquer tipo de espírito, como o da vingança ou intenção de ressarcimento financeiro, que não fosse apenas uma responsável iniciativa de representar todos nós no cumprimento da mais pura Justiça”.

Foi por esta razão, por seu exemplo poder servir de estímulo a outras pessoas que desacreditam da nossa Justiça e desistem dos seus direitos, que sugeri ao Viveiros tornar pública sua carta aqui no Balaio, e ele prontamente concordou.

Abaixo, a íntegra da carta que Ricardo Viveiros enviou aos seus parentes e amigos:

Minha nora, Carla, meus netos, Juliana e Lucas, e meus filhos, Felipe e Miguel.

Bom dia!

Ontem recebi um telefonema do meu amigo Maurício Zanóide, renomado advogado, doutor, mestre e autor de vários livros, que há mais de 15 anos eu procurei para que o culpado pelas mortes do Ricardo Filho e da Mariana não ficasse impune.

Não fiz isso movido por qualquer tipo de espírito, como o da vingança ou intenção de ressarcimento financeiro, que não fosse apenas uma responsável iniciativa de representar todos nós no cumprimento da mais pura Justiça. “O que aqui se faz, aqui se paga”, como diz a sabedoria popular, precisa sempre contar com a determinação das pessoas interessadas em que esse ditado se cumpra.

E, por outro lado, à época da morte deles dois, a Carla ficou quase um ano em tratamento das sequelas do acidente, sem falar de abaladíssima emocionalmente, a Juju tinha apenas sete anos, o Felipe três, o Lucas um e o Miguel ainda não era nascido. Portanto, coube a mim tratar, sozinho, desse assunto tão relevante para todos nós.

Quando o Ricardo Filho e a Mariana morreram, fui alvo do carinho de muitos colegas da Imprensa. O “Estadão” publicou meia página com as charges, cartuns e desenhos dele; a revista “Quatro Rodas” uma técnica matéria sobre o fato; a Silvia Popovic, na TV Bandeirantes, fez uma longa entrevista comigo sobre doação de órgãos; a Hebe Camargo levou-me ao seu programa no SBT e fez um emocionado registro. Por fim, quando da publicação do então Novo Código Nacional de Trânsito, a “Folha de S. Paulo” publicou um artigo meu sobre o assunto, em que mencionava as mortes deles, de outras vítimas do trânsito urbano e os equívocos do documento.

A verdade é que esse homem, irresponsável, que causou as mortes dos nossos Ricardo Filho e Mariana, embora de aparente origem humilde, desapareceu. Mudou de casa, trabalho, cidade. Simplesmente, sumiu.

Seria muito fácil e mais barato, desistir. Seria, até mesmo no aspecto do sofrimento emocional, desistir. Mas, entendi que eu devia essa persistência a mim mesmo, e a todos vocês. E fui em frente, sempre firme em encontrar esse culpado. Foram longos mais de 15 anos. E, nessa missão, contei com o profissionalismo do Prof. Dr. Maurício Zanóide e sua equipe. Ele é um advogado que honra a profissão, pela sua inabalável ética, conhecimento, lealdade à causa, respeito ao cliente e, acima de tudo, compromisso com a Justiça.

Foi só assim que, depois de mais de 15 anos, o Prof. Dr. Zanoide encontrou o culpado. Porque, provavelmente, ele acreditou que havíamos, com o passar dos anos, desistido de procurá-lo. Descuidou-se e fez um crediário, alugou uma casa e, portanto, foi descoberto pela nossa eterna vigilância. E isso, pessoal, deve servir de exemplo para algo que sempre lhes recomendo: quando se tem um objetivo na vida, não se pode descuidar um só momento da luta para alcançá-lo. Quando se quer algo, a luta para conquistá-lo deve ser permanente e crescente. Não devemos desistir nunca!

O grande poeta e dramaturgo inglês, William Shakespeare, disse: “Fortes razões geram fortes ações”.

Bem, voltando ao início desta carta, o telefonema que recebi ontem do Prof. Dr. Zanóide foi para me informar, e a todos vocês, o que faço aqui, de que o culpado pelas mortes do Ricardo Filho e da Mariana – reencontrado por nós depois de tantos e tantos anos -, foi, finalmente, processado e condenado. Acaba de sair a decisão da Justiça: um ano e nove meses de prisão. Pode parecer muito pouco para todos nós que perdemos dois entes amados. Mas, também é certo de que se trata, à luz da Legislação do País, uma grande vitória. Afinal, como bem sabemos, mortes causadas por acidentes de trânsito muito dificilmente dão cadeia no Brasil.

Mas, como já disse antes e repito agora, o nosso propósito nunca foi o da vingança. Ou, ainda, o do cabível ressarcimento de todas as despesas geradas na perda do Ricardo Filho, porque a presença emocional continuará existindo enquanto eu viver e puder continuar tentando supri-la mesmo que apenas em parte. Nosso objetivo foi fazer Justiça, pela própria Justiça. E, agora, isso está concluído.

Ele, o culpado, responderá seus crimes em liberdade, pois é réu primário. Entretanto, terá para toda a sua vida o peso das mortes que causou e o nome, o bem maior de uma pessoa, marcado pela pena que lhe impôs a Justiça. E as consequências disso, os impedimentos legais que são gerados por uma condenação desse tipo. E, devemos esperar, o mais importante de tudo: que ele tenha a mais plena consciência do que causou a ele próprio e a todos nós. E cresça como ser humano, não causando outras vítimas por sua irresponsabilidade ao dirigir. E que neste País, embora haja muita coisa a ser corrigida, a Justiça existe e, portanto, as leis precisam ser respeitadas.

Bem, finalmente, sinto-me tranquilo quanto a tudo isso. Embora a dor, como um espinho que não se consegue tirar, siga espetando a alma para sempre. Mas, pelo menos, o Ricardo Filho e a Mariana, agora, estão definitivamente sepultados. Missão cumprida.

Um beijo do sogro, avô e pai.

Ricardo


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