Você acredita no Brasil?

Todo mês, desde a primeira edição, a Brasileiros faz a pergunta: “Você acredita no Brasil?

Em 2010, mais personalidades deixaram a sua opinião sobre o Brasil, além da participação dos nossos leitores.

Vamos relembrar algumas respostas das edições do ano que termina.

Janeiro

“Acredito sim. A história vem mostrando que o Brasil já se modificou muito. Meu bisavô foi escravo e hoje eu sou um profissional liberal. Costumo enxergar o mundo pelo âmbito social e, por meio dessa visão histórica, acredito que as coisas ainda vão mudar. Já era para estar melhor. O Brasil poderia ter menos apartheid social, mas acredito que o País caminha para equilibrar a igualdade racial e social e a distribuição de renda.”
Paulo Lins, roteirista e escritor, autor do livro Cidade de Deus, Rio de Janeiro (RJ)

Fevereiro

“Por que não acreditar? Ou seria melhor acreditar na grande mídia que insiste em ofender nossa inteligência e tenta a todo custo embotar nossa sensibilidade? Ou em empresários social e ambientalmente responsáveis de fachada? Ou em governantes mentirosos, omissos e hipócritas? Não vou listar uma infindável série de razões econômicas, culturais, sociais, acadêmicas, artísticas, afetivas, comunitárias, todas de caráter estrita e altissimamente positivos que, mesmo diante dos descalabros e absurdos perpetrados por nossa gente de ‘bem’, os antigos ‘homens bons’ (Para quem? – eu me pergunto…), acobertados pela grande ‘imprensa’ e pela ‘justiça’. O País e sua gente são muito, mas muito melhores do que pensam parcelas ínfimas, mesmo que bem aquinhoadas ou apadrinhadas, do ponto de vista material, da população.”
Ciro Hardt Araujo, editor, Vargem Grande Paulista (SP)

Março

“Eu acredito no brasileiro. Algumas pessoas acreditam que o Brasil é o Governo ou as empresas ou, até mesmo, a seleção de futebol. Não. O Brasil que me faz acreditar é o do dia a dia, do trabalhador, da mulher, do jovem, do idoso. São aqueles que sofrem com a ilusão de migrar para as metrópoles, com o resultado das tempestades, com o descaso histórico. O brasileiro no qual acredito gosta de telenovela, sonha com a casa própria e faz de tudo pelos seus, embora desconheça o poder de transformação que tem em mãos. Eu acredito. Cada um idealiza o seu paraíso; eu acredito que estamos no caminho para construir o nosso. Pode ser uma utopia, mas me faz levantar todos os dias e continuar sonhando. Como diz um escritor, amigo meu: ‘Quem não sonha ou está morto ou não nasceu’.”
Rafael de Tarso, publicitário e designer, Curitiba (PR)

Abril

“Sim, eu acredito no Brasil, porque acredito em mim. Eu sou o Brasil, você é o Brasil, nós somos o Brasil. Eu mudei, melhorei e lutei para que o Brasil, hoje, fosse melhor do que era. Vou lutar para que fique melhor do que está. Não transfiro minhas responsabilidades para políticos, empresários ou qualquer tipo de detentor do poder. Concordo que eles atrapalham e, por mais de 500 anos, fazem o que podem para satisfazer seus próprios interesses. Mas qual é o seu Brasil? Quem é esse Brasil que te persegue? É o Brasil dos conformistas, que acham que brasileiro é assim mesmo, que político é assim mesmo, que empresário é assim mesmo? O meu Brasil eu estou fazendo dia a dia. Cunhando a ferro e fogo, suor e lágrimas. Sim, meus amigos, eu acredito no Brasil, porque eu sou o Brasil.”
Clemente Nascimento, vocalista e guitarrista das bandas Inocentes, Plebe Rude e apresentador do showlivre.com, São Paulo (SP)

Maio

“Acredito mais do que nunca. Vivendo fora há 16 anos, porém sempre ligada ao Brasil, vejo com mais clareza as mudanças, desde o princípio do governo FHC. Muito além das transformações financeiras que começaram no fim da era Collor, ocorreu o mais importante: o reencontro da própria identidade nacional. A conscientização geral, desde a questão racial, a criação de ONGs para o auxílio das pessoas carentes e marginalizadas e, assim, um olhar mais realista, com a certeza de que se pode mudar. O sucesso de ritmos musicais populares brasileiros, em todas as classes sociais, isto e outros fatores fundiram mais os brasileiros. Também a melhora financeira ajudou na construção da autoconfiança. Falta agora ao brasileiro conhecer melhor seus direitos de cidadão, os deveres do estado e reivindicá-los ao invés de se lamentar. Os países ricos precisam do Brasil e há de se ter sabedoria e aproveitar esse momento.”
Clara Maria da Silva Schlepper, empresária e produtora, Frankfurt – Alemanha

Junho

“Acredito no Brasil, mas não me iludo. Tentei não falar em dinheiro aqui, mas é impossível, porque a coisa toda passa por aí: a má e desonesta administração do dinheiro público, com o qual resolveríamos enormes problemas. Por três vezes administrei dinheiro público pela Lei do Fomento ao Teatro. Pensava: “Meu Deus! Serei eu capaz de administrar esse dinheiro com eficiência?”. Fui capaz, mas me custou muito. Tinha medo de errar, mesmo fazendo de tudo para acertar. Por exemplo, comprei três ventiladores para colocar na plateia e eles não funcionaram a contento. Tive de comprar outros, maiores. Isso custou na época, uns R$ 150,00 que devolvi ao projeto, reconhecendo minha falha e arcando as despesas. Errei, admiti, paguei, levantei a cabeça e segui fazendo meu trabalho. Se não nos roubassem, seríamos mais felizes.”
Fernanda D’Umbra, atriz, produtora e diretora de teatro é também vocalista da banda Fábrica de Animais. Atualmente, dirige o espetáculo teatral Meninas da Loja, texto de Caco Galhardo, no Espaço Parlapatões, São Paulo (SP)

Julho

“Estamos ‘menos piores’ que ontem. Qualquer indivíduo minimamente informado nota isso. A moeda é parcialmente estável, a indústria dá alguns bons passos, regiões anteriormente esquecidas, como o Nordeste, passaram a ter maior atividade econômica, emprego, etc. Mas tudo isso se restringe a um ‘menos pior’. Tem muito a ser feito. A começar por eleições onde o povo não fosse obrigado a votar em um político ‘menos pior’, isso já tornaria a palavra ‘acreditar’, mais leve, pois, por hora, ela soa muito pesada quando o assunto é Brasil. Minhas lentes indicam que a palavra mais conveniente seria um ‘desconfio’. Desconfio que acredito.
João Filho, ilustrador, São Paulo (SP)

Agosto

“Eu acredito no Brasil. Não tem como não acreditar em um País tão lindo e com tanta gente batalhadora. Uma das maiores cidades do mundo está aqui e pode até haver violência em cada esquina, mas em cada esquina há muita esperança. Crianças de rua, crianças na rua. A verdade estampada, nua e crua. O Brasil tem problemas e todas suas grandes metrópoles também têm. Políticos e polícia são alguns deles (só os que não prestam, é claro). Não devemos nos calar diante do que acontece de ruim ou de errado. Por que se não falarmos, não estaremos sendo plenamente brasileiros. Se eu não acreditar no Brasil, não estarei acreditando em mim. Viva o Brasil!”
Thaide, rapper e apresentador do programa A Liga, da Rede Bandeirantes, São Paulo (SP)

Setembro

“Acreditar no Brasil? Nem sempre acreditamos. Depois de tantas decepções, chega o dia em que jogamos tudo para o alto. É claro que isso tem a ver com nossa famosa e midiática ‘classe política’. Mas vamos fingir que ela não existe. Vamos falar daqueles que, por meio da cultura e da ciência, escreveram e escrevem a verdadeira história do Brasil. Grandes brasileiros, como Heitor Villa-Lobos, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Paulo Leminski e Itamar Assumpção. Músicos, poetas e escritores que acreditaram no Brasil, apesar dessa classe política, infelizmente, eleita pelo direito de voto conquistado por nosso povo. Mas por que não acreditar no Brasil? Acreditar é pouco. É preciso que nos indignemos com os muitos brasileiros que moram na rua e embaixo de pontes, gente sofrida que vive à margem de nossa sociedade. Não podemos nos indignar apenas quando assistimos à derrota de nosso futebol em uma Copa do Mundo, como aconteceu meses atrás.”
José Pedro Renzi, professor e poeta, Araraquara (SP)

Outubro

“Acredito. Um País com um território imenso (e belo!), com uma cultura diversificada e viva, de onde emergem várias manifestações coletivas de criatividade e linguagens específicas em todas as áreas do conhecimento, principalmente das artes plásticas. Vivemos um grande momento no qual dois ‘Brasis’ se abraçam e dançam e devemos lutar para que essa dança se aprimore, crie novos passos e caminhos. Para isso, é necessário que o processo de educação básica e a universidade formem uma juventude que conduza o crescimento do País, com dignidade.”
Claudio Tozzi, artista plástico, São Paulo (SP)

Novembro

“Sim, acredito no Brasil. Eu era pequena na época da repressão e acho que, de lá para cá, o País só tem melhorado e crescido. Tenho orgulho disso. Se eu queria mais? Sim, a gente poderia ter mais um monte de coisas, mais possibilidades. Mas também tenho noção de que não se trata de história da carochinha. É difícil crescer, é mais difícil ainda virar uma nação. Viemos de oito anos de governo FHC, com mais prós que contras, e mais outros oito de governo Lula, que deu sequência à escalada de crescimento e projetou o Brasil mundo afora. Acredito que estamos no caminho certo, mas também acho que nós devemos cada vez mais ficar de olhos bem abertos e cobrar mais dos governantes. Afinal, essa parte cabe a nós.”
Joyce Pascowitch, jornalista e colunista social, São Paulo (SP)

Dezembro

“A crença no Brasil melhor é responsabilidade de todos nós, e cotidianamente deve ter o compromisso dos educadores. Assim, creio que a profissão que assumi está intimamente ligada à fé em uma sociedade brasileira mais justa e igual. Podemos, sim, ter uma nação que seja um estado de direito, e nisso passa a prática pedagógica. Educação sem crença em um País honesto não é educação.”
Francisco Sales da Costa Neto, educador, Macabá (RN)

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