Você acredita no Brasil?


“Vou acreditar no Brasil quando o cacique Raoni for eleito presidente da República. Pergunta difícil!”
Guto Lacaz, artista plástico



“Seria mais fácil se você tivesse me perguntado: ‘Eram os deuses astronautas?’. Acho que não sou a pessoa mais indicada para falar do Brasil… Certa vez estava num teatro no Leblon, nos idos dos anos 1990, para ver o Betinho falar. O lugar estava lotado, tinha gente saindo pelo ladrão. O Betinho falava ao microfone, daquele jeito manso dele. Em dado momento, surgiu da porta do teatro um sujeito aos berros: ‘Betinho! Betinho!’. Parou tudo, né? Todos, inclusive o próprio Betinho, aguardaram perplexos o cara dizer a que tinha vindo. Ele parou no meio do corredor do teatro e disse apenas: ‘Betinho, você é o grilo falante do Brasil’. Disse isso, deu meia-volta e simplesmente foi embora. O Betinho viu aquilo e, com o mesmo ar sereno, disse: ‘O Brasil é um país estranho’. Tá vendo? O Betinho sabia mais disso daqui do que eu.”
Carlos Latuff, cartunista

“Provavelmente a pergunta refere-se à crença na possibilidade de o Brasil se desenvolver economicamente e superar seculares injustiças sociais. Essas duas possibilidades não estão necessariamente ligadas, e penso que o chamado desenvolvimento econômico é plenamente factível, uma vez que a abundância de recursos naturais em um mundo que se ressente cada vez mais da sua falta é um grande trunfo. Entretanto, não sou otimista quanto aos resultados desse desenvolvimento. Assim como ocorreu e ocorre em outros tempos e lugares, ele tem se mostrado extremamente predatório em relação à natureza, e, portanto, ‘desenvolvido’ não significa necessariamente ‘melhor’. Quanto à superação das injustiças, acreditaria nela desde que o individualismo estimulado por aquele mesmo chamado desenvolvimento econômico também fosse superado. Contudo, não vejo sinais consistentes de uma mentalidade mais comunitária em vias de se tornar predominante. Apesar de muitas e diversas iniciativas espalhadas pelo País trabalharem nessa perspectiva, atêm-se a nichos muito pequenos e localizados e são freqüentemente minadas com o passar do tempo pela saída individualista de seus próprios participantes.”
Jorge Artur dos Santos, professor de história

“O Brasil é uma reserva. Não só uma reserva da natureza ou das riquezas da terra, mas uma reserva de amor e de alma. O Brasil tem uma herança impressionante, daquele índio que abriu os braços para receber quem chegava e morreu por isso, mas impregnou seu opressor. Do negro que entrou à força e, ainda assim, deixou um legado generoso, musical. O povo que resultou das nossas tragédias agora está se organizando, entende a importância disso, se reciviliza. Hoje, o Estado investe no social, como resultado de quase 25 anos de reorganização. Há muitos indícios a favor de acreditar que somos uma nação – e estamos virando uma nação melhor.”
Carlos Carvalho, psicólogo e instrutor de meditação e tai chi chuan


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