Você acredita no Brasil?

“Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?

de Hino Nacional, Carlos Drummond de Andrade

Acredito desacreditando, num mesmo movimento ambivalente. Preciso explicar: acredito na capacidade que cada um tem de inventar, do Acre ao Rio Grande do Sul, do Amazonas às Minas Gerais, da zona sul à zona norte, do leste ao oeste: a possibilidade de criação deste povo é um espanto! Das artes à tecnologia, da malandragem à academia, da elite letrada ao povo esperto que aprendeu a se virar. Habitamos a diferença em lindos e tristes contrastes. Pensado assim, o Brasil não existe, não constitui um todo, um território ou uma nação. Não há Brasil.

Desacredito da nossa mania de copiar modelos, de agir como colônia ao adotar códigos e valores transportados de lugares que nada têm a ver com os daqui. Desacredito de nossa mania de convocar mandantes daqui ou de acolá para prescrever regras e maneiras de fazer. Desacredito da conduta colonialista que continua a se comportar como se terra e pessoas fossem meros instrumentos de enriquecimento irresponsável. Desacredito do ufanismo que exalta lindas terras, céus e mares e que embaça sofrimentos.

Em meio à ambivalência, oxalá esta multidão-população desvairada e corajosa institua a dignidade. Não apenas no governo central, mas em cada microrrelação institucional que faz deste território algo próximo a um país: o médico que cuida, o professor que ensina, o patrão que contrata, o comerciante que vende, o industrial que produz e o deputado que legisla. Oxalá a dignidade, a diferença e a invenção costurem algo que pode vir a ser uma nação.”
Adelia Pasta, diretora pedagógica do colégio Oswald de Andrade, em São Paulo

“Eu penso que o caminho da mudança é longo. Me surpreende o fato de ainda estarmos demorando tanto para agilizar algumas transformações, principalmente no que diz respeito à educação e cultura, nas quais, apesar dos rápidos meios de comunicação, somos ainda muito atrasados. E esse atraso já poderia estar sendo mais revertido porque hoje a gente tem os exemplos e as informações que chegam em nossa casa rapidamente. Então ficamos patinando em alguns assuntos, temos uma Igreja que nos atrapalha. Acredito no Brasil, mas acredito que a mudança seja lenta, no entanto, não sinto nenhuma possibilidade para que ela se acelere, pelo contrário, acho que ela serve de desculpa para aqueles que poderiam estar fazendo essa mudança andar, com desculpas de que somos um País ainda muito novo, que chegamos há pouco na democracia e etc. A tendência é de melhorar, mas o brasileiro faz isso de uma forma muito lenta, talvez seja do nosso temperamento.”
Irene Ravache, atriz


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