Você acredita no Brasil?

“Quem observasse o Brasil 200 anos atrás, às vésperas da Independência, teria fortes razões para duvidar de sua viabilidade como país. Sob qualquer ponto de vista, o Brasil parecia condenado ao fracasso. As divergências regionais eram enormes. De cada três brasileiros, um era escravo. O analfabetismo atingia mais de 99% da população. Pobre, ignorante e dependente de mão-de-obra escrava, o Brasil do século XIX era um país perigosamente indomável, onde brancos, negros, mestiços, índios, senhores e escravos conviviam de forma precária, sem um projeto definido de sociedade ou nação. ‘Amalgamação muito difícil será a liga de tanto metal heterogêneo, (…) em um corpo sólido e político’, escrevia já em 1813 o futuro Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva. Entre 1807 e 1835, os escravos na Bahia fizeram mais de duas dezenas de conspirações e revoltas, mantendo os senhores de engenho em permanente estado de alerta. O historiador Sérgio Buarque de Holanda dizia que foi o sentimento de medo, fomentado pela constante ameaça de uma explosão social, que fez com que a elite brasileira das diferentes províncias se mantivessem unidas em torno da Coroa, perpetuando a monarquia e evitando a fragmentação da colônia portuguesa em uma constelação de três ou quatro repúblicas menores, como aconteceu com os territórios vizinhos da América espanhola. A surpresa é que, apesar de tudo, o Brasil aparentemente deu certo. Hoje é um país grande, integrado, de dimensões continentais, com uma cultura muito bem definida e relativamente tolerante do ponto de vista racial, político e religioso. A chance de dar errado era tão grande que o simples fato de ter chegado até aqui já é uma grande vitória.
Por isso, eu acredito no Brasil.”
Laurentino Gomes, escritor, é autor de 1808, ganhador do Prêmio Jabuti de Livro do Ano de 2008 na categoria Não-Ficção.

“Para responder a esta pergunta busquei em minhas raízes afro-descendentes, precisamente no arquivo de receitas culinárias, a receita de pirão de peixe que minha memória gustativa insistia em me atordoar. Sabia da receita por observação nas inúmeras vezes em que vi minha avó preparar com simplicidade, e ao mesmo tempo riqueza, o prato para ela bastante familiar.

Comprei todos os ingredientes e, mãos à obra, ataquei o peixe, preparando-o com todos os temperos que dispunha em casa. A minha expectativa era chegar ao mesmo sabor do passado. Entretanto, quando pronto, o prato ficou saboroso, não havia dúvidas, mas o sabor não se igualara ao da minha lembrança, mas fiquei satisfeita. Posso comparar essa história ao que penso do Brasil hoje. País de grande riqueza humana, cultural e generosa natureza pode frente à realidade dispor de respostas que surjam das experiências de superações das adversidades pretéritas. Da mesma maneira em que usei na receita do pirão os ingredientes da atualidade, os elementos da realidade usados com criatividade podem resultar em novos caminhos. Acredito que a riqueza que é a Nação brasileira conseguirá responder a qualquer crise, principalmente se participar das perguntas e respostas feitas à coletividade.”
Nelma Firmiano, eutonista e psicodramatista

“Na balança que mede as possibilidades do Brasil, as coisas boas pesam mais que as ruins. O ensino básico é péssimo, não? Mas 93% das crianças estão na escola. O ensino superior continua ruim, verdade? Mas avançamos em pesquisas, ciência e tecnologia. Nossas moderníssimas urnas eletrônicas não impedem o povo de votar em corruptos. Mas quando falha o povo entram em cena instituições cada dia mais fortes, o Ministério Público e a Polícia Federal. Assim, numa curiosa lei das compensações, o País segue no rumo certo. Claro que fico assustada com a qualidade do ensino e com a violência, mas sei que vamos sobreviver às duas catástrofes. Para julgar, boto na balança o bom e o ruim. Me afligi com soldados pilhando donativos destinados aos desabrigados de Santa Catarina, mas logo me lembrei dos milhares de brasileiros que enviaram aqueles donativos. Eles fazem parte dos otimistas que acreditam no Brasil. E como não acreditar num País que, livre das tentações autoritárias, aposta numa democracia comprometida com as questões social e ambiental?”
Iza Salles, jornalista, a “Iza Freaza” do Pasquim e Opinião, autora do livro O coração do rei (Editora Planeta)

“Acredito no Brasil porque eu amo o meu País e me orgulho da sua grandeza, riqueza e beleza tão acolhedoras. Infelizmente, é administrado por muitos políticos corruptos, os quais, acredito eu, não dão valor às suas origens, muito menos a seu País. Se olhassem a história seria bem diferente. No entanto, somos um povo miscigenado e guerreiro que não se deixa derrotar pelas desgraças, conseguindo sorrir em meio às dificuldades e fazendo das lutas um aprendizado para sempre subir mais degraus e assim nunca perder a esperança, com confiança em Deus que o dia de amanhã será melhor.”
Frankilândia dos Santos, empregada doméstica

“Acredito demais! É um País maravilhoso e não o trocaria por nenhum outro. É o lugar onde vou criar os meus quatro filhos e onde tenho os meus negócios. O Brasil tem melhorado bastante. A sociedade civil, políticos e nós, empresários, precisamos nos mobilizar para realizar reformas tão necessárias que vêm se arrastando, para acreditarmos ainda mais no nosso País.”
Victor Oliva, conselheiro da Associação de Marketing Promocional e diretor-geral da Holding Clube


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