“Como não acreditar em um país como o Brasil, permeado de características únicas e com grande diversidade. Ainda que a sociedade brasileira reforce uma ideologia de inferioridade, um racismo em relação aos negros e à religião do candomblé. Nas últimas décadas, educadores como eu e pesquisadores como Pierre Verger e Roger Bastide têm tentado fundamentar sua prática cotidiana, direcionando uma educação antirracista, contribuindo com isso para um Brasil melhor, com maiores possibilidades de sucesso escolar para todos os alunos, brancos, negros e afro-descendentes. Certamente a história de vida dessa população deverá ser o ponto de partida para o favorecimento de seu processo de construção do saber e da sua valorização. Como educador acredito na capacidade humana de sentir e enxergar uma cultura de solidariedade, buscando criar e implantar uma sociedade caracterizada por justiça, respeito e dignidade perante todos.”
Alexandre Teixeira Ramos, pedagogo e babalorixá
“O brasileiro comum tem uma incrível resistência: sobreviveu a Portugal, a ditaduras e as suas elites. Teve – e tem ainda – um duro aprendizado com o voto, mas constrói com a sua vontade uma democracia, e ensina essa democracia a sobreviver, como ele. Ambos resistem a uma enorme crise das elites. É nessa construção que acredito. É ela que está desenhando, traço a traço, o Brasil no qual eu acredito.”
Maria Inês Nassif, jornalista
“Acredito no Brasil porque ele pode ser repensado, é um país extremamente rico em recursos minerais e em sua produção cultural. Acredito nesse povo mameluco afro-brasileiro. Mameluco é o branco europeu que chegou aqui a partir do século XVI e começou a fundir-se no nosso solo. Afro-brasileiro é o negro que chega só a partir do século XVIII para contribuir com tudo isso que somos hoje como povo. E quando digo que acredito no Brasil é porque ele pode ser construído de fato, temos uma série de problemas, mas que devem ser resolvidos por meio de gestos políticos, de força de vontade e não a partir de fórmulas limitadas. O Brasil é possível porque a gente pode fazer um Brasil como ele é de fato, valorizando suas origens e todas as coisas que nos dão o prazer de sermos brasileiros.”
Wesley Nóog, cantor e compositor
“Confesso que a primeira resposta que imaginei à pergunta era um tanto cínica. Pensei em dizer que acreditava no Brasil, já que ele simplesmente existia. No entanto, lembrei-me depois do poema em que Drummond dizia: ‘nenhum Brasil existe’. O mais sugestivo na afirmação é que ela vinha na sequência de outras mais familiares, sobre a necessidade de se descobrir, educar, louvar e até adorar o Brasil. O inventário se detinha, entretanto, subitamente com a proclamação, em sentido inverso, de que seria preciso esquecer o Brasil. Melhor, pouco depois de negar a existência do Brasil, vinha a pergunta: ‘E acaso existirão os brasileiros?’. Ou seja, indicava que mais importante do que tudo que se deveria fazer para se descobrir, educar, louvar e até adorar o Brasil seria a existência ou não do ‘brasileiro’. Em outras palavras, como que indicava que de nada valeria inventar a nação Brasil se não houvesse povo brasileiro. Este não deixa de ser um bom resumo de nossa história: pelo menos desde a independência se procura criar uma nação, deixando para trás o passado de colônia. Mesmo assim, se tem tido grande dificuldade de encontrar lugar nela para seu povo, antes escravo, depois não propriamente cidadão. Infelizmente, por isso, mesmo que acreditemos no Brasil ainda devemos nos perguntar: E acaso existirão os brasileiros?”
Bernardo Ricupero, professor de ciências políticas da Universidade de São Paulo (USP)
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