“Se eu acredito no Brasil? Sim, lógico, mas só se o povo brasileiro conseguir expulsar de campo os seguintes brasileiros que abomino: os políticos corruptos e ineptos, mais o sistema eleitoral e partidário que dá margem a que surjam e prosperem, legando-nos, por exemplo, uma saúde e uma educação públicas que oscilam entre o patético e o tétrico; os policiais ladrões, extorquidores, ineficientes, arrogantes e assassinos, junto com as autoridades que os apoiam ou toleram; os milicos protofascistas que, de dentro dos quartéis financiados com a nossa grana, ainda exaltam a ditadura militar que matou, torturou, censurou, pintou e bordou durante 21 anos por aqui; os fazendeiros grileiros e expansionistas, plantadores de commodities agrícolas (soja e cana em primeiro lugar), pecuaristas e madeireiros que querem transformar a Amazônia num enorme hambúrguer esturricado; as companhias de viação urbana geridas por gângsteres que pressionam contra uma reforma radical no transporte urbano para as massas; a indústria automobilística que não para de inundar as ruas das nossas cidades com milhões de toneladas de latas ruidosas e fumarentas, dirigidas por babuínos bêbados ou aloprados, que tornam a circulação humana impossível e tantas vezes letal ….. e…. e…. e paro por aqui, mas poderia incluir, no rol dos meus desafetos nacionais, os donos de cachorros que esmerdeiam as calçadas, os traficantes que aterrorizam as comunidades pobres onde se incrustram feito cracas do mal (não raro cumpliciados com as polícias), e, também, aproveitando o embalo, os fabricantes e usuários das malditas serras elétricas e vaporetos que metralham sem trégua com seus decibéis estridentes nossos indefesos ouvidos diurnos.”
Reinaldo Moraes, escritor
“Eu acredito no Brasil, porque depois de tantos planos econômicos, tantas desvalorizações de moedas, tantas pressões externas (FMI, etc.) aqui estamos nós brasileiros vivendo mais uma crise, desta vez muito mais complexa do que se pode imaginar, crise de credibilidade, mais do que qualquer coisa, mas com as contas pagas lá fora. E o Brasil, como país emergente, sentirá sim seus efeitos, porém com muito menos vulnerabilidade do que em tempos recentes. Durante esses anos, diria que até 2002, o País veio se ajustando, sem políticas públicas efetivas, o que nos fez navegar muito abaixo da velocidade que poderíamos ou deveríamos, e com isso ficamos para trás. Entretanto, o brasileiro se empenhou e hoje, por incrível que pareça, além de participarmos e palpitarmos forte externamente, somos ouvidos e em muitas das vezes copiados, saindo vitoriosos das questões comerciais internacionais. Por que não acreditar no Brasil? Somos os maiores produtores de grãos, concentramos o maior número de montadoras de veículos, mesmo com a carga tributária elevada, maior parque siderúrgico, temos riquezas infinitas em nosso solo, água, petróleo, com reservas que nem a Petrobras acredito que hoje possa avaliar seu volume. Damos as cartas na exploração de petróleo em águas profundas, nos combustíveis alternativos, nas energias renováveis, etc. Tivemos a sorte de eleger um presidente metalúrgico, que sabe o que é enfiar a mão na graxa, e que soube colocar pessoas competentes em áreas importantes. Nunca vimos arrojo, audácia, coragem de fazer (os planos podem ser excelentes, mas se não tivermos quem saiba pô-los em prática…) como estamos vendo hoje, apesar das disputas de poder, que emperram nosso desenvolvimento. E esse, a meu ver, é o nosso grande desafio, o de conseguirmos mudar a educação de boa parte da estrutura política brasileira, precisamos de uma transfusão com sangue novo e não contaminado. Educação é orientação + exemplo. Se orientarmos e dermos bom exemplo a um filho, a probabilidade de ele apresentar desvios será muito pequena. Ao contrário, ele nos trará mais benefício do que custo.”
Franco Papini, engenheiro, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval)
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