“Acredito. Acreditei, desde criança. É verdade que, conforme a gente vai crescendo, conhecendo nossa história e se confrontando com os abismos sociais e injustiças, a gente aprende também a desconfiar do Brasil. Desconfio do Brasil quando chegam as eleições (as municipais em cidades pequenas são as mais cruéis), quando sou mal atendida por um funcionário público (e sei que ele nunca será demitido), quando vou a uma banca de jornal e vejo o insuportável sucesso das revistas de fofoca, quando sou roubada (já me levaram o carro quatro vezes, e meu banco cobra juros e taxas abusivas), quando vejo uma foto da floresta em chamas (todos os anos, e ninguém mais se admira) ou quando leio que o mercado de alto luxo nunca entra em crise. Desconfio do Brasil quando o governo anuncia que foram encontradas gigantescas reservas de petróleo… Desconfio desse mega Brasil, de megaprojetos, em que o dinheiro vai para o ralo. Acredito no “Brasil-bolo-de-fubá”, mais simples, mais afetivo. Acredito no Brasil que eu tive a alegria de conhecer trabalhando no Terceiro Setor: um país criativo que se vira na dificuldade, de líderes comunitários empreendedores, crianças curiosas, empresários sensatos e sensíveis, bons políticos (já conheci alguns) e funcionários públicos comprometidos (conheci uma também: minha mãe!).”
Sylvia Guimarães, historiadora, fundadora e presidente da Associação Vaga Lume, São Paulo (SP)
“Eu acredito. O Brasil talvez seja o país mais importante do mundo. Nosso povo solidário, pacífico e sem preconceito. O Brasil também privilegiado pela natureza, pelos rios, pelos minérios. Nosso País tem melhorado nos últimos vinte anos, um indicador disso é o atual índice de mortalidade infantil, que de 80 óbitos por mil nascidos vivos, baixou para 20 por mil nascidos. E na Pastoral da Criança, esse índice é de 13 por mil. Por outro lado, há aspectos que ainda precisam melhorar muito, como a qualidade da educação infantil e educação da família. Outros verdadeiros cancros do Brasil são a corrupção e a falta de ética, que devem melhorar drasticamente, a começar pela educação na primeira infância, quando se fixam os valores culturais que serão projetados ao longo da vida. Só assim teremos políticos com mais ética e responsabilidade social. A paz é precedida pela justiça social e para que se promovam ambas, é preciso uma forte atuação dos governos, das famílias e das organizações sociais. Só por meio da reforma tributária e de políticas públicas conseguiremos diminuir a concentração de renda.”
Dra. Zilda Arns, médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Curitiba (PR)
“alguns brasileiros não desistem nunca
do fogo | de artifício | cruzado
da mágoa de caboclo e da ditadura da felicidade
e de elogiar | pelo avesso a dura realidade do brasil
mas pra que serve a realidade?
uma mulher não é uma mulher
eis a verdade que o brazyl exporta com sucexo
em termos de realidade
a que me interessa é a que eu produzir
ver & reveler o que se vê
a poesia existe nos fatos
que eu não creio
crio.”
Ivo V, produtor multimídia, São Paulo (SP)
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