O personagem mais famoso do terror no Brasil voltou a povoar o imaginário e as casas pelo País neste mês de novembro, mais de 50 anos após a sua criação. Isso porque a última sexta-feira 13 de 2015 marcou a estreia do seriado Zé do Caixão no canal a cabo Space.
Com Matheus Nachtergaele no papel de José Mojica Marins, criador e intérprete de Zé do Caixão, conhecido como Coffin Joe no exterior, a série foge de uma estrutura mais tradicional. Em vez disso, cada um dos seis episódios é focado em diferentes filmes do cineasta. A lista inclui títulos como o “western abrasileirado” A Sina do Aventureiro (1958), o censurado O Despertar da Besta (1969) e o polêmico filme 24 Horas de Sexo Explícito (1985), passando obviamente pelo auge comercial com as duas primeiras fitas, como ele gosta de falar, sobre seu personagem mais conhecido – veja a relação completa no final da reportagem.
Gravada entre os meses de março e abril na cidade de São Paulo, com exceção de algumas cenas no interior paulista, a minissérie, dirigida por Victor Mafra, é baseada na biografia Maldito – A Vida e a Obra de José Mojica Marins, de André Barcinski e Ivan Finotti, que acaba de ganhar uma reedição especial, incluindo diversas fotos históricas. Para Barcinski, o fato de o livro ter sido adaptado para a TV, em vez do cinema, como era o plano original, só trouxe benefícios. “Achei um milhão de vezes melhor, já que vamos ter um público muito maior e poderemos contar muito mais sobre a história do Mojica”, explica o jornalista, que também assina o roteiro do seriado, ao lado de Mafra e Ricardo Grynszpan.
Focado em mostrar os bastidores de cada filme e o que acontecia na vida de Mojica nas diferentes épocas das filmagens, o seriado apresenta em detalhes as loucuras do cineasta para conseguir produzir suas obras. “Se a série tem um tema principal, acho que é o amor do Mojica pelo cinema e o fato de que ele faz qualquer coisa por um filme. Desde vender 300% das cotas de um filme até mudar o ator do papel principal do mocinho para quem pagasse mais”, destaca Barcinski. Conhecido por papéis marcantes em produções como O Auto da Compadecida (2000) e Cidade de Deus (2002), Nachtergaele segue a mesma linha de pensamento e diz ainda que Mojica representa um embate constante da arte com a sobrevivência no Brasil. “É um brasileiro típico, que não se deixa abater nesse sentido. Se não dá mais para fazer arte, então vamos fazer chanchada” (risos), aponta o ator, que sempre foi a primeira opção de Barcinski e Mafra para o papel principal.
“O que mais me fica agora, alguns meses depois das filmagens, é a ideia de um artista que sempre esteve 100% na vida. Um homem realmente sem preconceitos. Um homem que fez um cinema cultuado, como são os primeiros filmes do Zé do Caixão e que depois entrou em um mercado B ou C para sobreviver”, afirma o ator, que revelou grande admiração por Mojica após ter conhecido a fundo a vida e a obra do icônico cineasta.
O mergulho intenso de Nachtergaele no personagem fica visível nos dois primeiros episódios do seriado, que a Brasileiros pôde ver antes do lançamento na TV: A Sina do Aventureiro, sobre o primeiro filme finalizado pelo cineasta, e À Meia-Noite Levarei Sua Alma, estreia de Zé do Caixão nos cinemas. Até mesmo Barcinski, amigo de longa data de Mojica, se espantou com a atuação. “Conheço o Mojica há 30 anos e tinha horas que eu via as cenas do Matheus e realmente esquecia que não era o Mojica.”
A relação do ator com o papel chegou ao ponto de Zé do Caixão aparecer em seus sonhos durante as gravações. “Sempre sonho com os trabalhos, mas nesse caso foi forte. É natural também que isso entrasse no meu inconsciente. Passava o dia vestido como Zé do Caixão”, conta o protagonista.
Mesmo com Mojica debilitado, já que se recuperava de sérios problemas de saúde na época das filmagens, a única visita do cineasta ao set marcou muito Matheus e toda a equipe de produção. “Ele estava fraquinho, então fizemos uma espécie de desfile para mostrar todas as roupas do Zé do Caixão usadas no seriado. Como não conseguia falar, ele passava a mão em cada uma das capas e fazia um sinal de joia. Foi muito emocionante”, relembra Matheus, que define o seriado como “bem incorreto, a cara do Mojica”.
Para completar as homenagens, a mostra À Meia-Noite Levarei Sua Alma reúne diversos itens inéditos dos filmes do personagem, incluindo objetos de cena, figurinos e fotografias, entre outros.
Exposição – À Meia-Noite Levarei Sua Alma
Museu da Imagem e do Som – Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo
Até 10 de janeiro
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