Se médicos prestarem mais atenção ao sofrimento dos pacientes, eles podem melhorar a qualidade de vida dos doentes e encontrar mais reconhecimento e significado no que fazem. Isso é o que sugere o artigo “A Piece of My Mind – Responding to Suffering”, publicado pelo professor Ronald M. Epstein e pelo oncologista Anthony L. Back no Journal of the American Medical Association’s (JAMA).
No artigo, Epstein, que é um especialista em educação médica e inovação, destrincha sua preocupação e as consequências do “burnout” médico. Com níveis elevados de estresse e demandas, e com o mundo clínico cada vez mais fragmentado e apressado, Epstein afirma que médicos não conseguem prestar atenção ao sofrimento dos pacientes – e que isso compromete a terapia.
“Os médicos podem ter um papel fundamental na abordagem do sofrimento se forem treinados”, escreveram os autores. “Algumas pessoas podem fazer isso instintivamente, mas a maioria dos médicos precisa de treinamento em como responder ao sofrimento. Porém esse tipo de instrução não costuma estar na educação médica.”
Epstein também comenta o resultado de uma revisão da literatura que fez com o oncologista L. Back. Um fato notório, para ele, é que a maioria das pesquisas que abordam o aspecto do sofrimento não costumam figurar entre as publicações lidas por médicos.
Com base nesses estudos, os pesquisadores forneceram algumas estratégias que podem ser adotadas por médicos. Eles contam a história de uma paciente que passou anos sem diagnóstico, com cirurgias e tratamentos ineficazes. Com depressão e sem vontade de continuar, só depois que os médicos se mostraram verdadeiramente curiosos sobre sua experiência, ouvindo-a, olhando para ela, é que eles foram capazes de ajudar a paciente a se engajar na sua recuperação e cura.
O artigo mostra que a abordagem clínica do sofrimento deve complementar o tradicional “diagnosticar e tratar”. Além desse aspecto básico, devem ser incluídos os princípios da “reorientação e recuperação”.
Reconhecer o sofrimento
Voltar-se para o sofrimento significa, em primeiro lugar, reconhecê-lo. Isso exige que médicos perguntem aos pacientes sobre a sua experiência de sofrimento. Um exemplo seria perguntar: “O que é a pior parte disso para você?” Às vezes, os médicos se sentem impotentes face ao sofrimento, e nessas situações, podem fugir dessa pergunta pelo desconforto que sentem.
Mas a pergunta é importante, segundo os pesquisadores, porque ela ajuda os pacientes a se reconectarem com que é importante e significativo em suas vidas. Isso, dizem, é fundamental para a recuperação.
Os médicos também precisam saber o que fazer com a resposta a essa pergunta e ajudar os pacientes em outros aspectos da vida, ressaltando a empatia pelo que sofrem. No caso descrito acima, a recuperação da paciente envolveu a separação do marido e o restabelecimento de sua vida profissional.
Os especialistas devem tratar pessoas – e não pacientes, afirmam Epstein e Back. “É mandatório que eles se voltem para tratar as pessoas como um todo. Isso é particularmente verdade quando constatamos o quanto essas estratégias podem fazer diferença.”
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