O investimento em campanhas de incentivo para o aleitamento materno tem um impacto benéfico não só na saúde de crianças, mas na economia de saúde. Segundo uma publicação sobre amamentação feita pelo The Lancet nesta quinta-feira (28), os gastos com saúde associado a ausência de aleitamento materno somam mais de US$ 300 bilhões, valor comparável a todo o mercado farmacêutico global.
Além disso, cerca de 820 mil mortes de crianças poderiam ser evitadas anualmente só com a melhora de taxas de amamentação.
A série feita pelo The Lancet incluiu 28 revisões sistemáticas e meta-análises. No total, mais de 1.300 estudos foram revisados para fornecer o olhar mais exaustivo sobre os benefícios do aleitamento materno.
De acordo com a publicação, se as taxas de aleitamento chegassem a 90%, a economia seria de US$ 2,45 bilhões nos Estados Unidos, US$ 223.600.000 na China e US$ 6 milhões no Brasil.
“Apoiar a amamentação faz sentido econômico para os países ricos e pobres e este último estudo comprova isso”, disse Cesar Victora, professor emérito do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e um dos autores de um dos estudos da publicação.
“O aleitamento materno é uma intervenção poderosa e única que beneficia a mães e as crianças, mas as taxas de amamentação não estão melhorando como gostaríamos”, diz Cesar. “E, em alguns países, essa taxa está em declínio”.
A amamentação também está associada com maior desempenho cognitivo de crianças e adolescentes. Estudos também mostram que o aleitamento também está relacionado com maior desempenho acadêmico, aumento de rendimentos a longo prazo e maior produtividade.
Quase metade de todos os episódios de diarreia e um terço de todas as infecções respiratórias seriam evitadas com a amamentação.
Para a mãe, os estudos mostram que a amamentação diminui o risco de câncer de mama em 6%. Cerca de 20 mil mortes por câncer de mama são evitados anualmente graças a amamentação; e melhores taxas poderão impedir outras 20.000 mortes a cada ano.
Amamentação é mais comum em países pobres
A amamentação é um dos poucos comportamentos positivos relacionados com a saúde que é mais comum em países pobres, em vez de ricos. E, mesmo entre países pobres, é um comportamento mais frequente entre mães pobres.
Na ausência do aleitamento materno, a diferença em sobrevivência infantil seria ainda maior entre pobres e ricos.
Necessidade de mais apoio para mulheres
Um outro estudo da série mostra que, apesar da esmagadora evidência confirmando a importância do aleitamento materno, mulheres não têm apoio necessário para amamentar e enfrentam barreiras diárias.
Uma delas é a licença maternidade limitada ou inexistente ou de curta duração. Segundo um dos estudos da publicação, nessas condições, a chance de não amamentar aumenta para 400%.
Um outro problema é lacunas de conhecimento entre profissionais de saúde que deixam as mulheres sem informações precisas. Também falta apoio da própria família e da comunidade.
Outro entrave são tradições culturais que não apoiam o aleitamento. Há um marketing agressivo, segundo a publicação, dos substitutos do leite materno (incluindo a fórmula infantil) por seus fabricantes e distribuidores.
Apesar das recomendações internacionais que postula que todas as crianças devem ser exclusivamente alimentadas com leite materno durante os seis meses de idade, só 35,7% dos indivíduos no mundo alcançam esse patamar. Há uma meta global da Organização Mundial de Saúde que países consigam alcançar pelo menos 50% do aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses até 2025.
Sobre a série
THE LANCET, Breastfeeding. Disponível em: http://www.thelancet.com/series/breastfeeding. Acesso em 28 de janeiro de 2016.
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