As areias de parques, praças e creches onde brincam as crianças da cidade do Rio de Janeiro oferecem alto risco de contrair doenças, de acordo com uma análise feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
As análises realizadas pela instituição revelaram elevadas concentrações de coliformes fecais, bactérias, fungos e parasitas em equipamentos nas zonas norte, sul e oeste da capital. Os resultados obtidos caracterizam uma situação de risco de contrair doenças como a toxoplasmose, a candidíase e a ascaridíase e de apresentar sintomas como dores abdominais, micoses e diarreias agudas.
“Encontramos parasitas que oferecem risco à saúde pública, como o bicho geográfico”, disse Adriana Sotero, especialista da Fiocruz que coordenou a pesquisa. O bicho geográfico provoca inchaço local, reações inflamatórias e fortes coceiras, especialmente durante a noite. O problema é causado pela penetração de parasitas intestinais de cães e gatos na pele humana.
Segundo a pesquisa, fezes de cachorros, pombos e humanas são as maiores fontes de contaminação das áreas avaliadas.
Só duas praças em boas condições
Dos quinze pontos investigados pelo trabalho, apenas dois não apresentaram riscos para a saúde. São eles a faixa de areia na Praia Vermelha (na Urca, ao lado da Creche Municipal Gabriela Mitral) e a Creche Bambalalão (na Freguesia, em Jacarepaguá). O diretor da Bambalalão (que é particular) cobre a areia quando não está em uso para evitar a contaminação.
Entre os locais com maior concentração de contaminantes e microorganismos estão a Praça Saens Peña (Tijuca), a creche municipal Chácara do Céu (Morro do Borel, na Tijuca) e o Bosque da Freguesia (Jacarepaguá). A Praça do Leme, muito frequentada por alunos de uma escola municipal nos arredores, é mais um local muito contaminado.
Projeto de lei
O levantamento sobre a qualidade da areia das creches, parques e praças foi encomendado pela Comissão pelo Cumprimento das Leis da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Os resultados serão usados para fundamentar um projeto de lei que estabelece o monitoramento semestral da areia.
A proposta, de autoria do deputado estadual Carlos Minc (PT), pede também que os responsáveis façam o tratamento, limpeza e conservação da areia.
Minc, que preside essa comissão, disse que atualmente não há parâmetros definidos para a qualidade da areia no Brasil. “A partir de que limite isso é perigoso para a saúde das crianças e para a população em geral? É necessário estabelecer regras e o que fazer para prevenir”, afirmou o deputado. A proposta prevê também que o monitoramento fique a cargo de órgão ambiental estadual e que os responsáveis pelos locais contaminados sofram sanções que vão de multa à interdição.
Antecedentes
O problema não é novo. Um levantamento rápido das notícias publicadas a respeito de contaminação das areias mostra que desde 2006, pelo menos, se discute o que fazer para zelar pela qualidade da areia onde brincam as crianças. Há três anos, por exemplo, em Belo Horizonte, diretores de 50 escolas particulares de educação infantil se mobilizaram e procuraram o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais com a mesma preocupação.
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