Saúde!Brasileiros fez um levantamento das propostas para a saúde dos principais candidatos à prefeitura de São Paulo. As medidas vão aparecer em ordem alfabética – a partir do nome do candidato. Serão apresentados os destaques dos planos de Celso Russomanno (PRB), Fernando Haddad (PT), João Doria (PSDB), Luiza Erundina (PSOL) e Marta Suplicy (PMDB). Basta clicar no nome de cada candidato para ter acesso ao programa de governo na íntegra.
Antes, vale contextualizar o momento da gestão municipal. Futuros prefeitos e prefeitas de São Paulo terão um desafio: lidar com um orçamento do governo federal para a saúde cada vez mais enxuto.
O avanço da PEC 241 promete congelar o orçamento federal nos próximos 20 anos. Ainda, a proposta desvincula os recursos garantidos pela Constituição. Trocando em miúdos, o governo federal vai poder investir o que quiser em saúde sem nenhuma obrigação constitucional.
Historicamente, municípios já têm tido maior participação no orçamento. Em 1980, a participação federal era de 75%, a estadual, 18%, e a municipal, de 7%. Em 2011, a União apenas contribuiu com 47%, os Estados, com 26%, e os municípios, com 28%.* Agora, com a PEC, essa tendência tende a crescer.
Isso abala principalmente os municípios mais pobres e, em muitos, só dá para dar atenção à saúde básica. De qualquer modo, São Paulo, com uma população em que 40% das pessoas dependem unicamente do SUS, não passa incólume.
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Por isso, propostas sérias na saúde devem levar em conta o problema. Afinal, de onde vai sair o dinheiro, quanto vai custar? Que tipo de negociação será feito com o governo federal ou como o município vai conseguir os recursos necessários?
Dois programas de governo tocam nesse aspecto especificamente na área da saúde: o de Fernando Haddad (PT) e de Luiza Erundina (PSOL). Haddad diz que vai buscar novas fontes de recursos e taxar os mais ricos, além de garantir orçamento atual independente do avanço da PEC 241. Luiza Erundina disse fazer uma defesa implacável do SUS e defender a revisão do pacto federativo em ações de saúde para a garantia de 10% do PIB para a área.
O pacto federativo diz respeito a quem faz o que nas três esferas do governo e quem vai pagar a conta. É um termo que engloba várias áreas. Por exemplo, quem organiza a polícia? Nesse caso, o governo estadual.
Já no caso da saúde, as ações são compartilhadas entre os entes públicos e o dinheiro também. Todos pagam a conta e normalmente batem cabeça sobre isso. Acontece, por exemplo, de duas esferas de governo fazerem ações diferentes para uma mesma demanda: é o caso, por exemplo, das ações estaduais e municipais em São Paulo em relação às drogas.
As propostas dos prefeitos na saúde
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Celso Russomano (PRB) é o que tem o programa de governo mais vago da área. Entre as suas medidas, estão promessas como “o que temos como premissa básica é encarar o maior desafio do sistema público de saúde, ou seja, fazer funcionar”. Ele também fala na redução das desigualdades regionais dos serviços de saúde, mas não fala como pretende implementar o plano.
De modo geral, ele também diz dar continuidade aos serviços de Haddad – como Rede Hora Certa, ciclovias e entrega dos hospitais inacabados – mas dedica longas páginas do programa para criticar a atual administração.
“A gestão desenvolvida pela administração atual na área de Saúde tornou-se motivo de preocupação, indignação e de denúncias “em série” oferecidas pela população desassistida”, enfatiza o programa.
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O programa de Fernando Haddad fala de suas iniciativas como prefeito e da continuidade dos programas, como o Braços Abertos, voltado à redução de danos relativo ao uso de drogas. Artigo na Brasileiros falou da visão dos candidatos sobre esse programa. De modo geral, o programa é um dos mais completos: cita questões estruturais, como a garantia do orçamento, e programas específicos.
Ele coloca a saúde como inserida em várias das iniciativas que fez, como a criação das ciclovias e a introdução da alimentação orgânica na merenda escolar. Também fala de como o plano diretor ampliou a área verde na cidade e de como a redução de velocidade diminuiu o número de mortes e acidentes.
Em relação à saúde da mulher, Haddad cita o incentivo que deu ao parto normal, com Centros de Parto Normal (CPN) aberto em todos os novos hospitais construídos. Também foi assinado um convênio entre o SUS municipal e a Casa Angela, dedicada ao parto normal.
Ele fala de fortalecimento de programas contra a violência da mulher, de iniciativas para o atendimento humanizado em caso de aborto e do respeito às especificidades de jovens lésbicas, negras, do campo, indígenas, com deficiência e patologias. Haddad também quer fortalecer ações voltadas à populacão idosa e apoiar iniciativas que fortaleçam a luta antimanicomial.
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João Doria (PSDB) promete acabar com a fila de espera de exames na saúde em seis meses. Para isso, quer integrar a saúde ao digital. Vai criar uma central telefônica para que pacientes consigam saber onde conseguem o atendimento que precisam. Também vai utilizar a telemedicina para que médicos possam atender à distância e indicar tratamentos. O programa tem propostas originais, mas não foca em questões estruturais do orçamento.
Uma das propostas curiosas do candidato é o “corujão da saúde”. A ideia é utilizar a estrutura dos hospitais privados para o atendimento gratuito da população na madrugada.
Sobre a conversa com movimentos sociais, o candidato fica em cima do muro. “Vou dialogar com movimentos, mas não vou aceitar irresponsabilidade”, diz, em programa em seu site.
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Um dos aspectos que diferem Fernando Haddad de Luiza Erundina (PSOL), candidata que deve dividir votos com eleitores à esquerda, são as Organizações Sociais de Saúde, entidades privadas que administram hospitais públicos. Enquanto Erundina prometeu eliminar os contratos, Haddad diz que criará maneiras de “eliminar a dependência” das organizações, com o progressivo fortalecimento do controle social sobre as gestões.
As propostas de Erundina são mais estruturais que a maioria dos candidatos e não tende a focar em programas específicos. Nesse sentido, ela também promete ampliar e fortalecer todos os espaços de participação na gestão da cidade e garantir uma gestão descentralizada para que as subprefeituras possam diminuir as desigualdades de assistência regionais nos municípios.
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Marta (PMDB) tem propostas para a saúde da mulher e quer ampliar o atendimento as vítimas de violência doméstica. Vai realizar mutirões da saúde com integração com as unidades de saúde e dar continuidade aos programas de DST/Aids na cidade. Como Fernando Haddad (PT), ela tem projetos específicos para minorias e populações menos favorecidas.
Também promete organizar o tratamento odontológico e preventivo nas escolas e expandir a atenção básica, aumentando a cobertura pelo Programa de Saúde da Família em 50%. Vai criar e implantar o Prontuário Eletrônico do Paciente.
*CARVALHO, Gilson. A saúde pública no Brasil. Estud. av. [online]. 2013, vol.27, n.78, pp.7-26. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000200002.
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