Brasileira está insatisfeita com políticas públicas para bem-estar, diz The Economist

O nível de bem-estar da mulher alemã equivale ao da brasileira? Os desafios para manter a saúde de uma indiana no dia a dia são comparáveis aos enfrentados por uma francesa? O que une e o que separa essas mulheres quando o assunto é saúde e bem-estar? Um estudo realizado pela unidade de inteligência da revista britânica The Economist, com patrocínio da gigante do setor farmacêutico Merck, joga algumas luzes sobre essas questões. O trabalho foi divulgado no final de fevereiro. 

As novas informações estão embasadas nas respostas dadas via internet por 453 consumidoras e 100 funcionários públicos de Alemanha, Brasil, França, Índia e México.  Ainda que a abrangência do estudo possa ser considerada limitada (foram poucas entrevistadas em relação aos países envolvidos), é inegável que os dados coletados abrem espaço para debates interessantes em relação ao bem-estar feminino em diferentes partes do globo. 

Uma das evidências trazidas pela pesquisa aponta a ineficácia da riqueza do país como um fator determinante da satisfação das mulheres. Os dados mostram uma relação inversa: quanto maior o PIB per capita, menos satisfeitas se declararam as mulheres, com as alemãs, moradoras do país com maior PIB per capita entre os acompanhados, figurando como as mais insatisfeitas.

O conceito de saúde mudou. Sai de cena a ideia de ausência de doença e entra uma análise mais ampla, ligada ao bem-estar. Foto: Saúde!Brasileiros/Ingimage
O conceito de saúde mudou. Sai de cena a ideia de ausência de doença e entra uma análise mais ampla, ligada ao bem-estar. Brasil precisa avançar em políticas públicas, sugere The Economist. Foto: Saúde!Brasileiros/Ingimage

No que diz respeito a nós, brasileiras, apesar de nos declararmos muito satisfeitas com a vida – a ponto de chamar a atenção das responsáveis pela pesquisa – ocupamos a incômoda posição de topo da lista de sedentárias e mostramos grande insatisfação com as políticas públicas ligadas ao bem-estar. Dois indícios de que, certamente, apesar da nossa satisfação pessoal, há ainda muito a ser feito no país.

 

Saúde é mais que a ausência de doença

Nos últimos anos, o conceito de saúde tem se transformado. Sai de cena aquela antiga ideia de saúde limitada ao corpo físico e à ausência de doença. Entra em seu lugar uma interpretação mais abrangente, embasada no conceito de bem-estar.

Como explica Katja Iversen, CEO da organização Women Deliver, isso amplia o conceito de forma significativa. As condições de vida, o sentimento de satisfação e a segurança social e financeira passam a contar, uma vez que influenciam diretamente no bem-estar. “Bem-estar é muito mais que um corpo saudável e não é responsabilidade apenas do indivíduo”, fala Iversen, chamando a atenção para o fato de que o bem-estar deve, sim, ser política de governo.

Principalmente no caso das mulheres que, como lembra a especialista, não apenas são frequentemente as responsáveis pelo cuidado dos filhos e dos familiares, mas também são maioria entre os profissionais dessa área. Basta ver a proporção de enfermeiras ou assistentes sociais para entender que o papel feminino vai muito além da sua influência no cuidado da sua própria família.


Falta de políticas públicas, um problema latino-americano?


No caso do Brasil, a pesquisa revelou que diante desse conceito mais amplo de saúde, ainda temos muito o que fazer, em especial no que diz à responsabilidade pública de se promover o bem-estar. Uta Kemmerich-Keil, CEO da área de
consumer health da Merck, acredita que a satisfação das brasileiras não pode ser entendida como uma razão para se achar que está tudo bem e que todas as necessidades já são atendidas no país. Mesmo porque os outros dados levantados mostram que não é bem assim. 

Apenas 30% das brasileiras avaliaram positivamente os programas oferecidos pelo poder público. A baixa aprovação também pode ser vista no México, outro país acompanhado: somente 29% das mexicanas consideraram a oferta pública boa ou regular. Uma das razões para o fenômeno, anota o estudo, pode ser a falta de um sistema público de saúde universal eficiente nessas nações.

A apresentação do estudo da The Economist, patrocinado pela Merck, na Alemanha. Foto: Divulgação
A apresentação do estudo da The Economist, patrocinado pela Merck, na Alemanha. Foto: Divulgação

Além desse desafio comum à América Latina, há ainda um outro, visto em todos os países acompanhados: a participação das mulheres nos programas públicos ainda é baixa. Apenas uma a cada três declarou participar de alguma iniciativa pública de promoção do bem-estar. A razão, explica Aviva Freudmann, diretora de pesquisa na unidade de inteligência da The Economist, pode estar em uma falha de comunicação entre o público-alvo e os criadores desses programas.

“O estudo sugere que há uma grande diferença entre as prioridades das mulheres e dos definidores das políticas públicas”, fala Freudmann. De um lado, elas disseram priorizar as atividades culturais e de lazer e os programas focados em saúde ou fitness. De outro, os governos disseram oferecer programas de prevenção à doença e campanhas de saúde.


Como aumentar o bem-estar da mulher brasileira? 


No caso brasileiro, a pesquisa aponta para ao menos uma área de ação para o poder público: investir em programas esportivos e ajudar as mulheres a sairem do sedentarismo. O país, que vai sediar os Jogos Olímpicos deste ano, tem falhado terrivelmente ao tentar fazer sua população mais ativa.

No estudo encabeçado por The Economist e Merck, 86% das brasileiras disseram fazer algo pelo seu bem-estar. Mas este algo está mais relacionado a evitar comportamentos de risco (como cigarro e má alimentação) do que a encarar um programa de atividades físicas. Nós, brasileiras, figuramos entre as mais inativas, informação que corrobora um dado divulgado pelo próprio governo brasileiro no ano passado, mostrando que metade das mulheres é sedentária, contra 45,9% dos homens.

A pouca atividade física contrasta com a alta preocupação das brasileiras com a beleza. Somos o terceiro maior mercado global para produtos de beleza, atrás apenas de Japão e Estados Unidos, e o segundo em número de cirurgias plásticas.

“A beleza segue à frente da saúde no Brasil”, analisa no estudo Meika Nakamura, coordenadora de pesquisa da Euromonitor no país. Uma questão que certamente poderia ser encarada por campanhas públicas incentivando a reflexão sobre a beleza que queremos. Afinal, ser bela vai bem além de cremes ou cirurgias e exercitar-se é uma parte fundamental para manter mente e corpo sãos.

*Rachel Costa viajou a convite da Merck 




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