Cães farejadores ajudam diabéticos a evitar crises

Uma substância química encontrada na respiração humana pode ser útil como um sinal de alerta para avisar sobre níveis perigosamente baixos de açúcar em pessoas com diabetes tipo 1, de acordo com uma nova pesquisa da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. A descoberta, publicada nesta segunda (27) na revista americana Diabetes Care, explica a razão pela qual cães podem ser treinados para detectar os sinais de alerta em pacientes.

O diabetes tipo 1 aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também. Essa variedade é sempre tratada com injeções do hormônio insulina e outros medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas para ajudar a controlar as taxas de glicose no sangue.

A doença ocorre porque, em algumas pessoas, o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta, produtoras do hormônio insulina, indispensável ao armazenamento da glicose, o combustível do organismo, nas células. Logo, pouca ou nenhuma insulina é liberada para o corpo. Como resultado, a glicose fica no sangue, em vez de ser usada como energia. Esse é o processo que caracteriza o Tipo 1 de diabetes, que concentra entre 5 e 10% do total de pessoas com a doença.

A enfermeira Claire e seu cão labrador Magic, treinado para farejar crises de hipoglicemia. Foto: Universidade de Cambridge
A enfermeira Claire e seu cão labrador Magic, treinado para farejar crises de hipoglicemia. Foto: Universidade de Cambridge

A britânica Claire Pesterfield, uma enfermeira especialista em diabetes pediátrica do Hospital de Addenbrooke, instituição ligada à Universidade de Cambrige Hospitals NHS Foundation Trust, é uma das pessoas que já se valem da da ajuda dos cães treinados. Ela toma regularmente injeções de insulina para os níveis de glicose. “As variações do açúcar no sangue são uma ameaça diária para mim. Se ele cai muito baixo – o que pode acontecer muito rapidamente, isso pode ser muito perigoso”, diz Claire.

Claire conta também com a ajuda de um cão Labrador treinado pela organização de caridade Medical Detection Dogs para detectar quando os seus níveis de glicose no sangue estão caindo a níveis potencialmente perigosos. O cachorro se chama Magic. 

“Magic é incrível. Ele não é apenas um companheiro maravilhoso, mas ele é meu nariz. Se ele cheira que vem uma hipoglicemia pela frente, ele salta em cima de mim para colocar suas patas nos meus ombros para me informar sobre isso”, diz Claire. Magic também foi treinado para acordar sua dona à noite se houver algum variação.

A baixa de açúcar no sangue, ou hipoglicemia, pode causar problemas aos diabéticos com tremores, desorientação, fadiga. Ela ocorre quando o nível de glicose no sangue está abaixo da faixa considerada normal (60mg/dl), algo que acontece com muitas pessoas que têm diabetes.

Pode ser leve, moderada e grave – até atingir o coma glicêmico, se não tratada a tempo. Em algumas pessoas com diabetes, os episódios podem acontecer sem sinais prévios.

Como foi o estudo

Tendo em conta os relatos de cães alertando os proprietaries sobre mudanças na glicose no sangue, os pesquisadores do Wellcome Trust-MRC Instituto de Ciência metabólica, da Universidade de Cambridge, descobriram que há substâncias químicas exaladas pelo ar exalado que indica quando os níveis de glicose caem.

Em uma fase preliminar, os cientistas reduziram gradualmente os níveis de açúcar no sangue. Participaram do trabalho oito mulheres na faixa dos 40 anos com diabetes tipo 1.

Os cientistas usaram um teste chamado espectometria de massa para procurar componentes que pudessem sinalizar a queda na glicose no organismo dessas mulheres. A investigação revelou que a quantidade de uma das substâncias exaladas, o isopreno, aumentava significativamente na hipoglicemia. Em alguns casos ela praticamente dobrava. Os cientistas acreditam que os cães podem ser sensíveis à presença do isoprene e sugerem que, a partir desse achado, podem ser desenvolvios novos detectores para identificar níveis elevados de isopreno em pacientes de risco.

“O isopreno é um dos compostos químicos naturais mais comuns encontrados na respiração humana. Mas, surpreendentemente, mas pouco se sabe sobre de onde ele vem”, disse pesquisador e consultor médico Mark Evans, do Hospital de Addenbrooke, da Universidade de Cambridge.

“Nós suspeitamos que é um subproduto da produção de colesterol, mas ainda não está claro por que os níveis de isopreno sobem quando o açúcar baixa no sangue.”

“Os seres humanos não são sensíveis à presença de isopreno, mas cães com seu incrível faro acham fácil identificar e podem ser treinados para alertar seus donos sobre níveis perigosamente baixos de açúcar no sangue. Ele fornece um ‘cheiro’ que poderá nos ajudar a desenvolver novos testes para a detecção de hipoglicemia, reduzindo o risco de complicações potencialmente fatais em pacientes que vivem com diabetes”, disse o pesquisador Evans.  


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