Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos, e da Universidade New South Sales, na Austrália, fizeram um estudo prospectivo para mostrar como o vírus zika poderá se espalhar por mais de 100 cidades ao redor do mundo. A Universidade do Texas é um dos principais centros de estudo sobre o zika no mundo.
Os autores do estudo fizeram suas estimativas com base em dois cenários. Um deles considera a transmissão do zika por um único vetor, o Aedes aegypti. O segundo cenário inclui a possibilidade de que uma outra espécie de Aedes, o albopictus, que vive em áreas de floresta, possa se tornar igualmente competente para transmitir a doença. O que se sabe, concretamente, é que as duas espécies de Aedes carregam o zika.
Clique aqui para ver o mapa de risco relativo para 100 cidades feito por Sarkar e Gardner
Nas cálculos do pesquisador Sahotra Sarkar, do Departamento de Biologia Integrativa e do Departamento de Filosofia da Universidade do Texas em Austin, e seus colegas Lauren Gardner e Nan Chen da Universidade de New South Sales, na Austrália, foram levadas em conta as viagens aéreas para as áreas afetadas na América Latina e daí para outros lugares e a quantidade dos dois tipos nesses locais.
No primeiro cenário desenhado pelos pesquisadores, em que só o Aedes aegypti propaga o zika, apenas a Flórida, o Texas e a Louisina estariam em sério risco de apresentar casos da doença. “De modo geral, há maior risco para a Flórida do que para o Texas porque mais viagens para a América Latina e Caribe ocorrem por lá”, diz Sarkar, da Universidade do Texas, em Austin.
Porém, se as duas espécies de Aedes se mostrarem eficientes na transmissão do vírus, partes do mundo anteriormente considerada de baixo risco – como o Canadá, Chile e muitos países da Europa e Ásia -, provavelmente experimentarão surtos de zika. Sob este cenário dentro dos Estados Unidos, Nova York enfrentaria um risco ainda maior do que Houston.
Independentemente do risco estimado, Sarkar diz que cidades como Miami, Orlando, Houston, Tampa e Nova Orleans devem intensificar os seus esforços para monitorar as populações de mosquitos locais e se preparar para implementar medidas de controle mais drásticas.
Nos cenários traçados pelos especialistas, se a segunda espécie de Aedes for capaz de propagar o zika entre as pessoas, mais cidades nos Estados Unidos, Europa e Ásia do que se pensava provavelmente experimentarão surtos. “A propagação depende, criticamente, se a segunda espécie de mosquito for um bom transmissor de zika”, diz Sarkar. Para o pesquisador, estudos para definir o potencial do Aedes albopictus de disseminar a doença são urgentes.
Para o infectologista Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, o estudo é uma conjectura. “O albopictus é um bicho de floresta e até agora, no Brasil, foi encontrado apenas em Manaus e Belém, na região amazônica, numa proporção de 5% em relação a 95% de Aedes aegypti.” Além disso, o albopictus pica muito menos por sangue do que o aegypti. O problema, entretanto, é que não se sabe como o ambiente vai reagir ao uso de mosquitos transgênicos para exterminar o Aedes aegypti. Timerman, por exemplo, está receoso. Ele acredita que, na natureza, outro vetor poderá assumir o nicho criado pelo embate entre os mosquitos transgênicos e o Aedes aegypti.
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