“A autorização da venda de “planos populares” apenas beneficiará os empresários da saúde suplementar, setor que movimentou, em 2015 e em 2016, em torno de R$ 180 bilhões”. O trecho acima é de nota emitida essa semana pelo Conselho Federal de Medicina. Depois de ser uma das primeiras entidades a se encontrar com o ministro interino Ricardo Barros (PP), o conselho se juntou ao coro de instituições que criticam a proposta da criação de planos mais acessíveis pelo ministro.
As críticas não são novas. Há muito tempo entidades de saúde têm se pronunciado contra a proposta de planos de saúde acessíveis. A Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) ameaçaram ir à Justiça para derrubar a proposta. Mesmo com muita resistência, a medida avança. No dia 5 de agosto, foi publicada no Diário Oficial a criação de um grupo de trabalho para discutir e elaborar os planos de caráter popular.
De modo geral, a medida é considerada falaciosa porque, segundo entidades, a proposta não vai desonerar o SUS como sustenta o ministro. Como esses planos populares terão menos cobertura, menos procedimentos e limitarão pacientes crônicos e idosos, o SUS vai continuar tendo que atender a maioria da população -e com o agravante de contar com cada vez menos recursos. Também médicos temem receber ainda menos honorários com a proposta.
“Se implementada, esta proposta não trará solução para os problemas do Sistema Único de Saúde (SUS), possivelmente sem a inclusão de doentes crônicos e idosos, resultando em planos limitados a consultas ambulatoriais e a exames subsidiários de menor complexidade. Portanto, não evitarão a procura pela rede pública ou impacto prejudicial ao financiamento do SUS”, diz o Conselho.
“Propostas como a de criação de “planos populares de saúde” apropriam-se e distorcem legítimos desejos e anseios da sociedade”, continua a nota do CFM. Barros recebeu doação de R$ 100 mil de sócio do grupo Aliança, administradora de benefícios de saúde.
O Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) foi além e pediu a revogação do grupo de trabalho. O conselho denunciou que o projeto é ilegal, não possui qualquer fundamento técnico e que o grupo é formado apenas por empresários. Por fim, a instituição defendeu que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) deve parar de defender interesses privados e lesivos ao interesse público.
“Tal grupo de trabalho, integrado inicialmente apenas por representantes de empresas operadoras de planos de saúde e do governo, nem deve existir, independente de sua composição. Consideramos que a proposta de “planos acessíveis” é ilegal, não tem qualquer fundamento técnico e poderá trazer prejuízos a pacientes e médicos, diz o Cremesp, que continua em nota:
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Temos o dever ético e moral de defender a sociedade de um projeto que visa “desonerar o SUS” à custa de onerar mais o cidadão que, com grandes sacrifícios, busca proteger a sua família.
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Muitas especialidades médicas poderão ficar de fora dos “planos acessíveis”, limitando o âmbito de cuidados aos pacientes.
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Nos “planos acessíveis”, muitos exames e procedimentos médicos tendem a ser excluídos, limitados ou glosados, acarretando conflitos que poderão afetar a relação médico-paciente.
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O médico perderá sua autonomia para diagnóstico e tratamento, em clara afronta ao Código de Ética Médica, que afirma que “o médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho”.
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Os valores de honorários médicos tendem a ser mais rebaixados, pois “planos acessíveis” serão incompatíveis com honorários dignos e assistência de qualidade.
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Haverá, assim, retrocesso de mais de duas décadas, quando não existia a legislação dos planos de saúde, que passou a exigir cobertura de todas as doenças e existência do Rol de Procedimentos Médicos da ANS. É fundamental o desaparelhamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar dos interesses privados e lesivos ao interesse público.
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