Um mesmo mosquito, especialmente disseminado nas grandes metrópoles, é capaz de transmitir três doenças importantes que se tornaram muito bem conhecidas dos brasileiros: dengue, chickungunya e zika.
Falo do mosquito Aedes aegypti, o mais comum vetor epidêmico da dengue no mundo. Ele pode ser identificado pelas faixas brancas ou padrões característicos em suas patas e tórax. E embora outros mosquitos semelhantes também possam ser encontrados nas grandes cidades, o Aedes se adapta e se dissemina cada vez mais.
Aumento das mortes por dengue
Em 2015, foram registrados 1.438.497 casos prováveis de dengue no Brasil.
A calamitosa distribuição de casos pelo país foi a seguinte: o maior número de casos prováveis foi no sudeste, com 922.662 pessoas com a doença (64,1% em relação ao total do país); no nordeste, registraram-se 259.698 casos (18,1%); no centro-oeste, 176.557 casos (12,3%); no sul há 52.007 casos (3,6%) e mais 27.573 casos no norte (1,9%).
Foram confirmados 709 óbitos por dengue, o que representa um aumento no país de 71% em relação ao mesmo período em 2014; a região sudeste concentra 68,1% das mortes por dengue, alcançando o maior número de óbitos registrados no estado de São Paulo.
O avanço da chicungunya e da zika
No que se refere à chikungunya, o número de casos suspeitos ou confirmados de alcançou a cifra de 1.74 milhões de casos em 45 países ou territórios nas Américas.
No auge da epidemia, em meados de 2014, havia entre 150,000 e 250,000 casos suspeitos reportados por mês. Atualmente, nas Américas, há relato de mais de 50.000 casos de febre chikungunya por mês.
Em 2014, foram notificados 3.657 casos autóctones suspeitos de febre chikungunya em oito municípios, pertencentes aos estados da Bahia, Amapá, Roraima, Mato Grosso do Sul, e ao Distrito Federal. Também foram registrados casos importados confirmados por laboratório no Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo;
Em 2015, foram notificados, até o mês de setembro, 12.170 casos autóctones suspeitos de febre chikungunya.
Em maio deste ano, o Ministério da Saúde do Brasil notificou a presença do vírus zika em 16 pacientes nos estados do Rio Grande do Norte e Bahia.
A presença do zika vírus também já foi evidenciada em outras regões: 2 casos na região norte (RR e PA); 2 casos na região sudeste (RJ e SP); 1 na região sul (PR) e 8 na região nordeste (MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, BA), que registrou o maior número de casos.
A circulação concomitante de três vírus transmitidos pelo mesmo mosquito representa enorme desafio para os clínicos e epidemiologistas.
Não sabemos ainda a real dimensão do problema. O vírus zika jamais fora observado em um país com a dimensão continental do Brasil, restringindo-se outrora a casos esporádicos em vilas remotas da África e em ilhas esparsas na Polinésia.
Mesmo assim, o Brasil ainda não se capacitou para a realização dos testes sorológicos que permitam diagnosticar com segurança essas infecções e, a partir de então, ter condições de dimensionar o problema em sua real magnitude.
Dessa lacuna sobrevém relatos de doenças neurológicas paralisantes e microcefalias como possivelmente atribuíveis a infecções pelo vírus zika, por exemplo.
Urge que possamos ter, pelo menos, a capacitação para que possamos diagnosticar com precisão essas doenças
No entanto, parece que governos e cidadãos estão se acostumando com a convivência com os mosquitos e o discurso de que a dengue chegou mesmo para ficar.
Não pode ser assim. A situação atual e preocupante da dengue no Brasil reflete um complexo contexto no qual interagem ineficácias gerais de atuação do poder público e da sociedade em geral.
Devem-se buscar soluções para essa epidemia e também manter planos de combate eficientes contra a febre amarela, chikungunia e zika, cuja transmissão igualmente se dá através da picada da fêmea do Aedes aegyti.
Os condicionantes da expansão da dengue nas Américas e no Brasil são similares e referem-se, em grande parte, ao modelo de desenvolvimento econômico implementado na região, caracterizado pelo crescimento desordenado dos centros urbanos.
O modelo de urbanização assumido nas grandes metrópoles brasileiras, com impermeabilização das cidades, falta de espaços verdes, aglomerações com reduzida ou nenhuma infraestrutura de saneamento básico são os principais responsáveis pela disseminação do mosquito transmissor dessas doenças.
Em suma, nossas cidades foram estruturadas de modo a que se acolhessem os mosquitos, e não aos seres humanos. São eles, os mosquitos, os primeiros os maiores beneficiários do modelo de urbanização vigente. Ou nos mexemos para que se promovam alterações nesse caos urbano ou estejamos preparados para conviver com os mosquitos e as doenças que transmitem.
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