Uma revisão de prontuários de dermatologistas nos Estados Unidos feita por pesquisadores da NYU Langone Medical Center concluiu que médicos que tratam a acne severa deixam pacientes por antibióticos fracos por muito tempo, ao invés de reconhecerem mais rapidamente que o medicamento não está funcionando.
Esse atraso para administrar a terapia adequada leva ao uso de antibióticos e pode deflagrar a resistência ao remédio das bactérias causadoras da acne. O estudo foi publicado na edição de outubro do periódico da Academia Americana de Dermatologia, o Journal of the American Academy of Dermatology.
“Nossa pesquisa sugere que dermatologistas precisam reconhecer em semanas, e não em meses, que alguns pacientes não estão respondendo a antibióticos”, diz Seth Orlow, professor de dermatologia pediátrica na NYU Langone e um dos autores do estudo. A equipe de Orlow revisou detalhadamente 137 prontuários de adolescentes com idade superior a 12 anos tratados para acne severa na NYU Langone entre 2005 e 2014.
Segundo Orlow, todos os pacientes foram eventualmente tratados com drogas à base de isotretinoína, substância de combate à acne que no Brasil é comumente conhecida por Roacutan, seu nome comercial. O problema é que, antes desse tratamento, pacientes com acne cística (grave, purulenta e com aspecto de caroço) permaneceram em média 11 meses com antibióticos mais fracos.
Ações judiciais contra o Roacutan nos Estados Unidos
A demora se justifica pelos efeitos colaterais de medicamentos como o Roacutan. A substância é terminantemente proibida em mulheres com possibilidade de gravidez pela possibilidade de defeitos congênitos ao feto. Depressão severa e outras complicações também estão entre as contraindicações da droga.
Nos Estados Unidos, a filial da Roche, empresa que fabrica o Roacutan, decidiu tirar o composto do mercado em 2009. Na época, a empresa afirmou que a decisão foi comercial e não relacionada à segurança do composto.
O Accutane, como era vendido por lá, detinha 5% do mercado, mas já sofria o peso econômico de ações judiciais. Muitos pacientes entravam na Justiça contra a empresa pelo surgimento da doença de Chron, inflamação grave do intestino, que provoca diarreias com sangramento, febre, perda de apetite e de peso. A Roche alegou que o risco já estava descrito em bula. Formas genéricas do medicamento, porém, ainda são vendidas nos Estados Unidos.
Toda essa pressão em relação ao medicamento, segundo os pesquisadores da NYU Langone, faz com que dermatologistas abusem do uso de antibióticos, que são mais fracos e, em alguns casos, ineficazes. Além da falta de eficácia, pontua a pesquisa, a postura contraria diretrizes que recomendam o uso responsável de antibióticos pela possibilidade de resistência.
“Médicos têm sido muito complacentes com o uso abusivo de antibióticos”, diz Orlow. A situação é agravada, segundo o pesquisador, por interrupções no atendimento ao paciente por mudança de médico e de planos de saúde. Muito tempo acaba sendo desperdiçado, enquanto a ineficiência do tratamento é evidente.
O antibiótico pode ser muito eficaz para os tipos de acne inflamatórias, explica Orlow. Também a mudança para diferentes antibióticos é rotina. No entanto, ele pontua que diretrizes clínicas recomendam limitar a terapia antibiótica a períodos de dois a três meses cada, ou a seis meses no geral, a menos que melhorias significativas sejam observadas.
Mas se o Roacutan tem muitos efeitos colaterais e não se pode tomar antibiótico por muito tempo, o que fazer?
Para os pesquisadores da NYU Langone, o uso de drogas como o Roacutan seguem protocolos rígidos que dão conta do controle dos efeitos colaterais. Entre esses, está o protocolo iPledge, criado pelo FDA (órgão que regula medicamentos nos Estados Unidos). Ele exige que mulheres sob tratamento da isotretinoína façam testes mensais de gravidez, também as prescrições do composto são rigidamente controladas por farmacêuticos e médicos.
A acne, diz o estudo, costuma ser a principal razão pela qual adolescentes buscam o dermatologista e não existem medicamentos tão eficazes como a isotretinoína para o tratamento de casos graves. Os pesquisadores alertam para a necessidade de estar atento para perceber quando os antibióticos não estão funcionando.
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