O combate ao mosquito da dengue, da zika e da chikungunya promete recrudescer. Pelo menos, foi essa a intenção da reunião de emergência ocorrida no final da tarde da quinta-feira (20) em Brasília. A presidente Dilma chamou ministros de diversas pastas para um balanço das ações e para traçar os próximos passos no enfrentamento ao mosquito. O encontro, que não constava da agenda oficial, começou por volta de 17h30 no Palácio da Alvorada e durou cerca de duas horas.
O governo corre atrás do prejuízo deixado por ações pouco efetivas no combate ao mosquito Aedes Aegypti nos estados e municípios. O erro de avaliação da gravidade que a situação poderia ganhar não pode ser creditado à falta de informação, pois entidades e médicos alertaram continuamente para os riscos da proliferação do Aedes. Já se sabia que mais dia, menos dia, por meio do Aedes aegypti, a chikungunya chegaria ao País, uma vez que havia casos em outros países da América Latina. E também que viria a febre zika, ainda que sua mais nefasta consequência – o dano cerebral aos fetos – não fosse conhecida até recentemente.
A sociedade também paga o preço da ausência de iniciativas regulares de educação em saúde para fomentar o engajamento da população no combate ao vetor. O resultado disso é o aumento de cerca de 180% no número de pessoas infectadas pela dengue em um ano.
Em 2014, o País tinha 589 mil infectados pela dengue. No ano passado, esse número subiu para 1,6 milhão. O crescimento dos casos de recém-nascidos com microcefalia também assusta: de 147 casos em 2014 para 3.893 registros entre 2015 e 2016.
Enfim juntos
Participaram da conversa com a presidente os ministros da Saúde, Marcelo Castro; da Integração Nacional, Gilberto Occhi, da Casa Civil, Jaques Wagner; da Defesa, Aldo Rebelo; da Educação, Aloizio Mercadante; da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva e da Justiça, José Eduardo Cardozo; além do secretário nacional da Defesa Civil, general Adriano Pereira Júnior, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, e técnicos do governo.
Diante do surto de casos de microcefalia, especialmente no Nordeste, o governo criou, em novembro de 2015, um grupo de trabalho interministerial para tratar das parcerias com estados e municípios no combate ao mosquito. Além da necessidade real de uma ação conjunta, a expectativa é de que esse grupo ganhe força face ao descontentamento existente dentro do governo com a atuação do ministro Marcelo Castro, da Saúde, na guerra ao mosquito.
Mais casos de microcefalia
Na quarta-feira (20), o Ministério da Saúde divulgou novo boletim epidemiológico sobre a microcefalia. Até agora, foram registrados 3.893 casos suspeitos de microcefalia ligados ao vírus Zika, registrados em 764 municípios de 21 unidades da federação.
A Região Nordeste lidera o número de casos, concentrando aproximadamente 90% das notificações, seguida do Sudeste (6%) e Centro-Oeste (4%). Pernambuco, com 1.306 casos suspeitos (33% do total), é o estado com o maior número de registros. Em seguida, estão a Paraíba, com 665 casos; a Bahia, com 496; e o Ceará, com 216. O Rio Grande do Norte tem 188 casos.
Fiocruz Paraná confirma a transmissão intra-uterina do vírus zika
“A paciente relatou sintomas clínicos que indicavam infecção por vírus zika no início da gravidez e sofreu o aborto na oitava semana. Analisamos as amostras da placenta utilizando um anticorpo monoclonal contra flavivírus, que reconhece membros desse gênero, incluindo os vírus dengue, zika vírus, febre amarela entre outros”, explica a virologista Cláudia Nunes Duarte dos Santos, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Paraná. Os resultados da primeira análise foram positivos, e confirmaram a presença de proteínas virais nas células placentárias (mãe e feto).
A investigação conjunta entre a Fiocruz Paraná e a PUC PR revelou a imunopositividade em células de Hofbauer, presentes na placenta. “Em vista disto, uma hipótese razoável seria que o vírus zika pode estar utilizando a capacidade migratória das células para alcançar os vasos fetais”, avalia a patologista Lúcia Noronha, da PUC PR. O resultado do estudo é tema de um artigo que será publicado na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.
País tem 3.893 casos suspeitos de microcefalia por zika; 230 confirmados
Desde outubro do ano passado a notificação de microcefalia pelo sistema de saúde é obrigatória, em função do aumento inesperado da ocorrência da malformação devido ao vírus Zika. Nas duas primeiras semanas de 2016 foram notificados 728 casos suspeitos de microcefalia.
O ministério descartou 282 registros da malformação. Foram registradas também 49 mortes pela malformação congênita, e destas, seis tiveram confirmada a relação com o vírus Zika. O boletim traz o resultado da investigação laboratorial do sexto caso, um bebê com microcefalia em Minas Gerais, que teve a relação com o zika diagnosticada em laboratório.
Problemas na confirmação
De acordo com o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, os sistemas de saúde dos estados estavam interpretando de forma diferente o protocolo para registro dos casos. Por isso, houve problemas para a confirmação.
O governo, então, atualizou o protocolo para que as interpretações fossem unificadas. “Nos próximos boletins talvez possamos falar com mais segurança dos casos confirmados e descartados”, disse o diretor.
Pernambuco, com 1.306 casos suspeitos, 33% do total, é o que tem o maior número de registros. Em seguida estão Paraíba, com 665 casos, Bahia, com 496 e o Ceará, com 216. O Rio Grande do Norte tem 188 casos.
Carnaval
Apesar da intensa circulação de pessoas pelo país durante o carnaval, Maierovitch acredita que não haverá ampliação da área afetada pelo vírus porque ele está presente em praticamente todos os estados.
O que pode acontecer é que as pessoas peguem a doença no lugar que estão visitando, disse o diretor, acrescentando que o zika não é transmitido de pessoa para pessoa. O diretor ressalta que a prioridade do Ministério da Saúde é prevenir a malformação controlando o mosquito.
Mudanças na notificação
Segundo Maierovitch, o ministério estuda alterar a metodologia de notificação do zika. Atualmente é usado o método sentinela, pelo qual alguns casos de uma região são comprovados laboratorialmente e os seguintes por diagnóstico clínico. Os serviços de saúde não são obrigados a registrar todos os casos da doença uma vez que a capacidade de diagnóstico é baixa e 80% dos infectados não apresentam sintomas.
A capacidade atual dos laboratórios é de aproximadamente mil diagnósticos de zika por mês. A expectativa é que nos próximos meses a capacidade chegue a 20 mil. Maierovitch espera que, com isso, a capacidade de notificação fique mais próxima da realidade.
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