Droga de combate ao HIV elimina gordura associada ao Alzheimer

Um caminho promissor para o tratamento do Alzheimer pode estar em antirretrovirais utilizados para combater a progressão do vírus HIV em portadores. E, o curioso é que esse caminho se dá por meio da diminuição do colesterol do cérebro. O achado é do National Insitute of Standards of Technology (NIST) e da Western Reserve University, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores descobriram que o efavirenz, princípio ativo de um medicamento recentemente aprovado contra o HIV, se liga à enzima CYP46A1 e aumenta a sua capacidade de eliminar o colesterol do cérebro. O estudo foi publicado no Journal of Biological Chemistry.

Um menor colesterol no órgão está associado a uma melhora da memória em estudos em animais. Há anos a Western Reserve University, sob o comando da equipe de Irina Pikuleva, procura uma estratégia para o Alzheimer que envolva a enzima.

Outros estudos já demonstraram que a CYP46A1 é capaz de reduzir a presença da beta-amilóide, um tipo de gordura encontrada em altas quantidades em pacientes que sofrem de demência. Ela é capaz de bloquear a sinalização entre neurônios.

A droga anti-HIV pode ter potencial para eliminar a gordura beta-amilóide, cuja presença está associada à demência. Foto: ilustrativa/Ingimage
A droga anti-HIV pode ter potencial para eliminar a gordura beta-amilóide, cuja presença está associada à demência. Foto: ilustrativa/Ingimage

Sozinha, CYP46A1 já responde pela eliminação de 80% do colesterol do órgão e os cientistas descobriram que mesmo pequenas doses antirretroviral já aumentam essa capacidade intrínseca da proteína. Com base nessa ideia, agora os pesquisadores querem começar testes clínicos para ver o potencial do medicamento em pacientes com Alzheimer.

Em estudos com ratos, a ligação da enzima com a droga provocou um aumento de 40% na remoção do colesterol do cérebro. Segundo Pikuleva, é provável que o impulso para a ação da enzima seja ainda maior, uma vez que, em humanos, ela desempenha um papel maior que nas cobaias.

Uma outra constatação que reforça a hipótese dos pesquisadores é que a ausência da CYP46A1 provocou problemas de aprendizagem em ratos.

Uma análise computacional mostrou que o antirretroviral muda a estrutura da enzima de modo que ela consiga “segurar” o colesterol de forma mais eficiente. Esse mecanismo permite com que a gordura seja eliminada do órgão.

Modelo computacional mostra, em laranja, a ligação da efavirenz com a  CYP46A1. O antirretroviral também aumenta a ligação da proteína (cor magenta) em torno de colesterol (verde). Regiões sem mudanças são mostradas em cinza. A presença do ferro está em preto. Imagem: Kyle Anderson/NIST
Modelo computacional mostra, em laranja, a ligação da efavirenz com a CYP46A1. O antirretroviral também aumenta a ligação da proteína (cor magenta) em torno de colesterol (verde). Regiões sem mudanças são mostradas em cinza. A presença do ferro está em preto. Imagem: Kyle Anderson/NIST

“As evidências sugerem fortemente que, em doses menores, efavirenz pode ser uma terapia eficaz para estimular a degradação do colesterol cérebro e abrandar ou prevenir a doença de Alzheimer”, disse Pikuleva, em nota sobre o estudo.

Ela e seus colegas agora tentam financiamento para um ensaio clínico em humanos para investigar os potenciais efeitos terapêuticos de pequenas doses da droga.

Fonte: Journal of Biological Chemistry – Mapping of the Allosteric Site in Cholesterol Hydroxylase CYP46A1 for Efavirenz, a Drug That Stimulates Enzyme Activity.


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