Medicamentos antirretrovirais indicados para conter o HIV no organismo podem ser responsáveis pelo aumento do número de casos de sífilis, sugere estudo da University of British Columbia (UBC/Canadá). A pesquisa levanta a hipótese de que essas drogas diminuem a imunidade do corpo para algumas doenças específicas – entre elas, a sífilis.
O avanço da doença está sendo registrado no mundo inteiro. No Brasil, o Ministério da Saúde admitiu no ano passado que enfrentávamos uma epidemia. A epidemia ocorre quando há um incremento no número de infectados em uma doença que seguia estável, como é o caso da sífilis. Tivemos 230 mil novas notificações entre 2010 e 2016 e um aumento de 32,7% entre 2010 e 2015.
A suspeita de que os antirretrovirais poderiam abaixar especificamente a imunidade do corpo para a sífilis veio porque o mesmo aumento no número de infectados não ocorreu em outras doenças sexualmente transmissíveis, como a gonorreia e a clamídia.
“Isso me levou a acreditar que algo a mais estava acontecendo”, disse Michael Rekart, autor do estudo e professor na University of British Columbia, em nota. Um outro ponto importante é que a sífilis está aumentando para todos, mas mais ainda entre homens que fazem sexo com homens.
Até agora, a comunidade científica sugeriu que o surto poderia ser resultado de comportamentos sexuais mais arriscados, como o sexo sem camisinha. Essa percepção é decorrente também de uma outra, de que o risco de infecção pelo HIV é baixo, pela disponibilidade e eficácia das terapias antirretrovirais. Essa explicação, no entanto, não foi testada e não explica porque as taxas de infecções de outras DSTs seguiram estáveis.
Por isso, para tentar explicar o que está ocorrendo, os pesquisadores da UBC utilizaram um modelo matemático para prever as taxas de sífilis com base na premissa de que o comportamento sexual de risco era a única causa do aumento.
Resultado: eles chegaram a uma taxa inferior à atual.
Mas, quando foram adicionados ao modelo os possíveis efeitos de imunidade dos antirretrovirais, os cientistas chegaram a uma taxa que se aproximava da incidência real de sífilis.
Assim, a hipótese é de que o aumento de infectados é resultado tanto de um comportamento de risco como de uma baixa imunidade para a sífilis provocada por antirretrovirais. Mesmo assim, salienta Michael Rekart, o uso da camisinha é indispensável. Ele também adverte que ninguém deve parar de tomar os medicamentos por conta do risco para a sífilis.
“Os medicamentos anti-HIV salvam vidas e a sífilis é curável”, diz. “A diminuição do número de parceiros e o uso da camisinha é a decisão mais acertada nesse caso”, salienta.
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